eu vou voltar pra você

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Marcela estava (novamente) no aeroporto sentada na nada confortável cadeira metalizada do saguão de espera, apenas aguardando seu voo ser chamado. Voo após voo, ela vê as pessoas indo ao embarque, despedindo-se de seus parentes, amados, amigos, porém ela era a única que não tinha ninguém para dizer adeus. Ela era covarde demais para isso, sequer teve coragem de terminar pessoalmente com Gizelly e encerrou de vez o que quer que elas tivessem por um torpedo.

Pela terceira vez ela estava partindo, por mais que não tivesse ciência disso. Pela terceira vez a história se repetia, porém seria com tantas semelhanças quanto na vez anterior?

Seu vôo finalmente foi chamado, e junto com o anúncio seu celular toca. O contato de Manoela fica em evidência no visor do aparelho e a loira levanta uma das sobrancelhas, pois as duas mulheres nem eram próximas. Sabia que tinha a ver com a Gizelly, mas não sabia se estava disposta a levar uma bronca por sua atitude extremamente imatura. Após cogitar muito decidiu assumir suas atitudes, pois já que teve a pachorra de terminar por mensagem deveria ser mulher o suficiente para aguentar as consequências. Porém para sua surpresa a ligação não era um esporro. Bom, não exatamente. 

"Eu ainda não quero olhar na tua cara e nem sequer aguento ouvir sua voz." A publicitária começa a falar, sem dar abertura para que a veterinária ao menos abrisse a boca. "Mas a Gi tá indo aí no aeroporto e eu não queria que ela fizesse a viagem à toa. Espera ela, é o mínimo que você pode fazer se você tem o mínimo de consideração pela minha amiga." 

"Manu, me desculpa, eu..." A loira começa a falar, mas é interrompida bruscamente. 

"Não quero ouvir suas palavras vazias, nem as que você realmente quer dizer. Só liguei pela Gizelly." A publicitária fala e desliga sem dar chance de réplica por parte de Marcela. 

A loira fica sem saber o que fazer, pois seu voo estava prestes a sair, porém Gizelly não tinha nem dado sinal de vida no aeroporto. A veterinária até tinha dinheiro para comprar outra passagem, porém o tempo não era seu maior aliado no momento. Ela tinha que contatar o proprietário do apartamento que ela havia planejado alugar o quanto antes, já que ela não era a única interessada no imóvel. Por outro lado, nunca iria se perdoar se partisse após saber do esforço da advoga de encontrá-la. 

Ela estava repassando todas as variáveis em sua cabeça quando o segundo aviso sonoro para a saída de seu voo toca. Era agora ou nunca. A loira olha para a porta de entrada do saguão, buscando pelos cabelos castanhos, porém tudo que consegue observar é um burburinho se formar próximo a porta. Socorristas e seguranças do aeroporto começam a correr em direção a multidão que começava a se formar e a loira sente todo seu corpo se arrepiar ao ouvir que se tratava de um acidente. O primeiro pensamento que corre em sua mente é de que Gizelly estava em um dos carros envolvidos, então a veterinária abandona suas bagagens ali mesmo no meio do aeroporto e corre em direção ao tumulto que havia se formado na porta. 

A cada passo dado ela sente seu peito apertar, como se pressentisse algo ruim, porém familiar. Estava tendo um déjà vu. A loira estava quase alcançando o local do tumulto quando ouve uma voz mais que familiar atrás de si. Quando se vira, encontra a figura da advogada do outro lado do extenso saguão de espera. Seus olhos se enchem de lágrimas e seu aperto no peito se esvai junto com o choro que ela se permite chorar. 

Marcela então enxuga o rosto e anda até a morena, aumentando o ritmo de seus passos conforme ia chegando mais perto da outra mulher. Envolver a capixaba num abraço apertado é a primeira reação que ela tem assim que se aproxima suficientemente de sua amada. A apertava tão forte contra si que por um momento temeu estar a machucando, porém o aperto era correspondido na mesma intensidade. E é ali, em meio a centenas de pessoas, que ambas se permitem chorar. Uma no braço da outra, descontando tudo que as afligiam, tudo que machucava e principalmente, tudo que as afastava. Estavam cansadas de terem que ficar separadas, mesmo antes de Marcela partir para fora do país. Sentiam que haviam se desconectado naquela briga no dia do pedido do namoro e suas almas, corpos e mentes estavam se ligando de novo naquele abraço. 

see you againOnde histórias criam vida. Descubra agora