uma pena mesmo

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De volta ao escritório, Gizelly se sentia melhor do que da última vez em que estivera ali. Por mais que a mulher tenha passado o resto de seu primeiro dia do ano somente na presença de Jackinho, seu sentimento de solidão estava mais ameno e ela era capaz até mesmo de soltar alguns sorrisos conforme o dia ia passando. O tempo com Marcela havia a revigorado, a dado ânimo.

Já não tinha mais dúvidas quanto ao que sentia a respeito da loira, e acreditava ser recíproco, então a capixaba estava animada. Aquela, com certeza, era a etapa da paixão preferida da advogada. A fase da descoberta, das borboletas no estômago e dos sorriso bobos. Muita gente costuma se apressar e pular essa etapa, mas Gizelly gostaria de a prolongar o máximo possível.

Marcela também havia ficado nas nuvens, porém não tardou a por os dois pés de volta no chão. Como nunca foi de se apegar, ela estava achando muito estranho querer passar todo aquele tempo com a morena. Era algo fora de sua zona de conforto, com certeza, ela só não estava certa se isso era algo bom ou ruim. Por mais que tivesse fascinação pelo novo e por aventuras, as vezes certas situações inéditas a assustavam - e a zona das emoções com certeza entrava na subdivisão de coisas que ela não gostava de mexer.

Sei que esse comportamento da veterinária pode parecer um tanto quanto paradoxal - e talvez um pouco incoerente -, mas quem nunca viveu um conflito interno? Ao mesmo tempo que ela queria investir com tudo, seu primeiro extinto era sempre fugir. A vontade de mergulhar no sentimento era tão grande quanto o medo, e uma corrida estava acontecendo em sua cabeça 24 horas por dia pra ver quem assumiria a liderança. Geralmente quando estavam juntas a primeira vencia, porém com a distância vinham as incertezas.

E era por causa desses dois fatores, distância e incerteza, que ela se encontrava deitada no sofá de sua casa com a cabeça pendendo para fora dele. O ditado diz que "mente vazia é oficina do diabo", porém Marcela discordava totalmente, porque era sempre que ela estava de cabeça cheia que as coisas pareciam piorar em sua mente. Era como se uma voz se intrometesse e colocasse ainda mais dúvidas e questionamentos em seu turbilhão de pensamentos, que no final sempre resultavam numa coisa: uma crise existencial daquelas.

No momento estava repassando todos os segundos que passou com a morena em sua cabeça, e fazendo anotações mentais sobre tudo que havia feito de errado - ou que sua cabeça em pane julgava ter feito. Cada movimento estranho, cada passo precipitado e tardio, se crucificando por coisas que as vezes nem estavam em seu controle.

Foi tirada de sua tortura mental por uma notificação de seu celular, e agarrou o aparelho como se ele fosse a saída para tudo que se passava em sua mente. Cogitou quem seria e qual o recado, torcendo tanto para ser algo completamente aleatório só para poder fugir um pouco de seus pensamentos autodestrutivos. Infelizmente a advogada era uma possível pauta da conversa que se seguiria, o que fez sua feição murchar ainda mais quando viu do que se tratava.

"E ai Ma, como foi a virada lá com seus amigos?" era a mensagem que estampava sua barra de notificações. Daniel havia a mandado. Marcela não havia notificado ninguém a respeito de sua decisão final de onde passaria a virada, muito menos para Dani. Ela havia notado que o homem estava incomodado com sua relação com a morena, então preferiu apenas omitir o fato de que sairia com ela pra comemorar - após rejeitar um pedido do mesmo -, porém naquele momento estava se arrependendo profundamente de sua decisão.

"Foi ótima." Escolheu apenas continuar na mentira. Não estava disposta a entrar em uma possível discussão com o loiro.

"Que bom! Admito que senti sua falta lá na Paulista." Daniel responde e Marcela gela da cabeça aos pés. Será que ele havia a visto lá? Talvez toda aquela conversa fosse para ele jogar em sua cara como ela era mentirosa e mesquinha, além de egoísta. Sentiu-se encurralada. Deveria persistir na mentira ou falar a verdade? Será que ele mesmo já sabia a verdade?

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