universo deu uma ajudinha

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— O cachorro quente eu desaprovo, mas essa pizza tá tudo de bom! — Gizelly diz com uma cara de aprovação.

Marcela havia levado a advogada em uma pizzaria no bairro Bixiga. O bairro é um dos mais tradicionais de São Paulo, onde a gastronomia com certeza é a protagonista. De lanchonetes italianas até restaurantes com culinária afro, o Bixiga com certeza é um dos lugares preferidos da veterinária na capital. Ma sempre foi apaixonada por conhecer culturas diferentes – talvez por conta de ter nascido numa cidade tão plural –, então sempre que podia estava procurando novos lugares para ir e novas coisas para conhecer. Quando visitou o bairro pela primeira vez ficou apaixonada.

Gizelly nunca teve acesso a tanta pluralidade de culturas como estava tendo nesses dois primeiros meses em São Paulo. O primeiro lugar que foi visitar foi o conhecido bairro da Liberdade, e havia ficado deslumbrada com a experiência. A cada dia que se passava a cidade ganhava um pouco mais de seu coração, bem como a providenciava mais e mais o sentimento de casa. Ela tentava não comentar muito sobre isso com os amigos de Vitória e com a família, mas ela não se via mais morando na sua antiga cidade. Ela sentia que havia entrado num novo e maravilhoso capítulo de sua vida, e por mais que sentisse saudades, não queria andar para trás.

— E é por motivos como esse que eu digo e repito que por ketchup na pizza deveria ser considerado crime. — A loira fala, levando um pedaço da comida até a boca.

— Um pouco de ketchup nunca fez mal a ninguém.

— Bem também não. — Rebate a veterinária. — Ninguém quer admitir, mas ele só serve quando você não gosta de uma comida e quer disfarçar o gosto ruim.

— E quanto a batata frita? — A advogada questiona e Marcela para pra pensar na resposta, brincando com sua própria trança.

— Ok, talvez você tenha um ponto. — Gizelly sorri vitoriosa. — Mas é como diz o ditado, toda regra tem uma exceção, e a batata frita é a exceção do ketchup.

— Só admita que a culinária paulistana não é a única que vale.

Marcela finge não ouvir e come mais um pedaço da pizza, desconversando, e Gizelly ri da infantilidade da loira. Elas estavam sentadas lado a lado, então vira e mexe Marcela colocava a mão sobre a coxa de Gi sem ao menos perceber – a tirando dali assim que se tocava do ato. Elas tinham essa coisa do toque, queriam estar se encostando a todo momento (mesmo que involuntariamente), porém maneiravam quando se encontravam em um lugar público. Bom, tentavam pelo menos. Brincavam que elas tinham imãs, por isso não se desgrudavam.

Após a pizza, deram os braços e saíram andando pela avenida. Tinham alguns lugares interessantes ali, bares de jazz, pagodes e etc, até pararam para olhar uma espécie de livraria que foi inteiramente montada dentro de um ônibus velho. Alguns estabelecimentos ainda tinham luzes remanescentes do natal, o que deixava o passeio mais agradável (especialmente para Marcela).

Pararam ao ver um artista de rua com seu violão. A maioria das pessoas apenas o via e passavam reto, preocupadas demais com suas próprias vidas, porém as duas decidiram parar e apreciar sua apresentação. Além delas, um homem de meia-idade e um cachorro de rua acompanhavam o show. O artista estava sentado em um banquinho de madeira e havia montado um pequeno cenário, com pisca-piscas espalhados atrás de si, além de um chapéu no chão com as gorjetas. O homem tocava algumas músicas do MPB, daquelas bem calmas.

O homem que estava ao lado delas sai para atender a um telefonema e ficam apenas as duas e o cachorrinho aproveitando a música ao vivo. Gi escorrega seu braço para pegar na mão de Marcela e entrelaça seus dedos, deitando com sua cabeça no ombro da mais alta. As duas começam a se balançar no ritmo da música, curtindo o pequeno show particular. As pessoas iam e vinham, porém o bairro nunca pareceu tão vazio para as duas. Estavam, mais uma vez, em seu próprio mundinho.

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