o amor acha seus meios

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A veterinária estava em casa, pesquisando apartamentos na Califórnia e vendo preços de passagens para os EUA. Já passavam das onze da noite, porém isso não importava pra ela já que uma xícara de café preto era sua fiel confidente naquela noite de sábado. Marcela havia se decidido: ela iria para Davis.

Após muito ponderar sobre tudo que ela podia, aquela era sua decisão final. Ela iria aceitar a vaga e partiria para os Estados Unidos o mais brevemente possível, antes que alguma coisa a fizesse mudar de ideia como aconteceu todas as outras vezes.

Ela sabia que sua vida estava ótima, porém deixar a oportunidade passar significava abrir mão de algo que ela sonhou a vida inteira. Dois anos não era muito, e assim que acabasse todos ficariam felizes novamente. A loira havia decidido colocar sua realização individual como prioridade, pelo menos uma vez em sua vida. Ela não era de ser apegada, porém tinha o péssimo hábito de sempre colocar a satisfação dos outros na frente da sua. Exemplos disso foram os namoros em que ela se permitiu entrar para não machucar a outra pessoa, ou até mesmo sua relação com Daniel, relação que ela nunca colocou um ponto final definitivo por medo de magoa-lo. Na maioria das vezes suas ações se tornavam um tiro no pé, então por que não arriscar numa tática diferente dessa vez?

A veterinária já esperava por preços nada generosos, porém viver o sonho americano era mais caro do que sua cabeça poderia imaginar. Estadia, transporte, materiais acadêmicos, todas essas coisas eram custos que ela não estava acostumada a ter e que lhe seriam cobrados em dólar, para piorar. Consequentemente ela arranjaria um emprego que lhe pagasse na moeda adequada, mas até lá ela teria que se bancar com o dinheiro que levaria – e se tem uma coisa que não é barata isso é dólar. Sua cabeça começava a latejar só de pensar em tudo isso, então ela havia se comprometido a pensar em uma coisa de cada vez para não enlouquecer.

A necessidade de um emprego nos Estados Unidos era um dos motivos pelo qual a loira partiria com tantos meses de antecedência. Ela queria estar segura, economicamente falando, antes de iniciar seu curso, sabe, para não ter que se preocupar com o mestrado e com arranjar um emprego. Já ter seu salário antes de iniciar as aulas lhe seria uma mão na roda.

A loira tinha interesse em dois apartamentos até o momento e estava aguardando a resposta de seus proprietários. O seu preferido também havia atraído o interesse de outra pessoa, então ela estava torcendo para que sua concorrência desistisse do lugar para poder ficar com ele. Ela sabia que não tinha dinheiro o suficiente pra entrar numa briga de ofertas, então sua última esperança era torcer pra que algo desse errado para o outro interessado.

As passagens já estavam compradas, ela iria naquela segunda mesmo. Como disse antes, quando antes ela fosse, melhor. Já havia comunicado seus amigos, a única pessoa que não sabia da notícia ainda era Gizelly. A dúvida de como contar para a morena atormentava a loira desde que ela havia tomado tal decisão.

Gizelly estava caminhando pela praia acompanhada de Pyong. As estrelas do céu de Vitória se refletiam na água cristalina, fazendo o limite do horizonte se mesclar até que quase não fosse mais possível distinguir céu de mar. O ar soprava gelado, balançando os cabelos da morena. O clima era quente, úmido, então o contraste com o vento era perfeito. Quando ambos se juntavam, frio do vento e calor do tempo, a morena sentia calafrios passarem por todo seu corpo. O infinito azul traz à advogada recordações de seu último sonho com a loira misteriosa, porém Gizelly deixa tais lembranças irem embora junto com o vento.

Os dois amigos caminhavam em silêncio, apenas aproveitando a presença um do outro. O dia de Gizelly havia sido agitado, recheado de conversas e reencontros, então ela estava apenas apreciando aquele momento de introspecção compartilhada. Foi um dia muito feliz, então a capixaba estava extremamente leve. A areia gelada em contato com seus pés lhe traziam uma sensação familiar, e o conjunto de todos seus sentidos trabalhando em sintonia lhe transmitiam paz. A vista azul, o som das ondas quebrando, o cheiro salgado de mar e o contato de seus dedos com os grãos de areia, tudo a fazendo se sentir mais si mesma, mais Gizelly, e obviamente mais capixaba.

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