ligação diferente

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O meu wattpad tá todo bichado e o servidor resolveu não funcionar ontem, o tipo de merda que só acontece comigo. Mas como diria o ditado, antes tarde do que nunca. Boa leitura!

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Gizelly é uma daquelas pessoas que conhece muita gente, mas deixa poucas delas entrarem de verdade em sua vida. Para alguém conseguir sua confiança demoram meses, no mínimo, e são necessários anos até que a advogada sinta aquela sensação de conforto perto de alguém. Também nunca foi fã de demonstrar afeto pelo toque, até mesmo com seus parceiros amorosos ela sempre foi uma pessoa muito fria e distante, de certa forma. Porém ali estava ela, sentada no tapete de uma mulher que havia conhecido há pouco mais de duas semanas, tomando cerveja e conversando abertamente sobre sua vida. 

Não sabia porquê, quando ou como se sentia tão confortável com a doutora, mas Marcela lhe passava um sentimento de segurança e normalidade que nem suas amigas mais antigas eram capazes. Estava receosa quando aceitou o pedido para jantar por conta de sua primeira impressão no bar, porém assim que começaram a conversar na ida para o restaurante ela soube que havia feito a escolha correta. 

— E assim eu arrumei um namorado em Noronha. — Gizelly diz dando um gole em sua cerveja.

— Você é louca, Gizelly. — Marcela diz rindo e fazendo a morena rir junto. A loira joga a cabeça para trás, apoiando-a no assento do sofá. A veterinária agora estava sem seus óculos, porém Gizelly não sabia dizer se estava mais bonita agora ou antes.

Marcela havia bebido meia garrafa de vinho e Gizelly já estava na sua segunda garrafa de Heineken. Não estavam sóbrias, de fato, mas não podiam negar que estavam conscientes de seus atos – assim como de seus pensamentos.  E nesse exato momento Gizelly se imaginava provando o vinho que Marcela tomava, mas não por meio da garrafa.

— Eu sinto que  te conheço de algum lugar. — A advogada comenta afastando seus próprios devaneios.

— Nunca estive em Vitória. — Marcela diz simples, afastando o cabelo de seu olho.

— Não de Vitória, ou de São Paulo, de antes. — A morena completa e a loira fica pensativa, girando o resto de vinho que tinha em sua garrafa.

— De outra vida?

— Exatamente! — Gizelly diz e Marcela arqueia uma sobrancelha. — Você não sente isso também?

— Não sei dizer. — A loira coloca a garrafa de vinho sobre o tapete, cruzando os braços. — Sinto que te conheço há muito tempo, mas não sei se de outra vida.

— Você não era a que acreditava em toda essa coisa de universo e destino?

— Não era, sou. — Ela diz olhando a morena. — Mas não é assim que as pessoas descrevem a sensação.

— Talvez nossa ligação seja diferente.

Gizelly diz olhando no fundo dos olhos da loira. Marcela não poderia distinguir se era o vinho fazendo efeito ou não, mas sentiu um calor repentino percorrer todo o seu corpo. A morena lhe despertava desejo e ela estava louca para saciar sua vontade ali mesmo, porém tinha ciência de que não devia.

— Diferente... Como?

Gizelly parece pensar dando um último gole em sua cerveja antes de deixá-la sobre o raque que estava atrás de si.

— Me diga você. — A advogada lhe lança um olhar de cima a baixo.

— Tô bêbada demais pra isso. — Marcela mente, fugindo do desafio da morena.

A veterinária dá um gole em sua garrafa de vinho, sentindo as últimas gotas do líquido doce queimarem sua garganta. Ela logo se levanta, tanto para levar a garrafa embora quanto para fugir do olhar intimidador da advogada. O comportamento da morena a deixava confusa, pois Manu deixou bem claro que Gizelly é uma pessoa difícil de se aproximar e que ela iria querer uma abordagem mais tranquila, porém seus olhares e provocações diziam o contrário.

Marcela vai até a cozinha e deixa a garrafa sobre a bancada. Coloca suas mãos na beirada do mármore e apoia o peso de seu corpo sobre seus braços, fechando os olhos. Estava tentando espairecer. Uma parte de si só queria ir até o outro cômodo e beijar Gizelly como se não houvesse amanhã, entretanto a outra tinha medo de estar se precipitando.

— Desculpa se te assustei com aquele papo. — Ela ouve a voz da morena atrás de si e se vira no susto, se deparando com a figura da mulher apoiada no batente da porta. A blusa xadrez caída em um dos ombros e o cabelo num coque frouxo deixavam a visão melhor ainda.

— Você não assustou, relaxa. Só vim trazer a garrafa. — Marcela diz levemente nervosa apontando para o recipiente atrás de si.

— Acho que já vou indo, tá tarde. — Gizelly diz mirando os próprios pés.

— Não! — Marcela diz e a advogada olha pra ela. — Você tá bêbada, não vou deixar você sair a essa hora assim.

— Quer que eu faça o que então?

— Dorme comigo. — Gizelly arqueia uma sobrancelha. — Não comigo, comigo, dorme aqui em casa. — Marcela se corrige e se sente uma idiota.

— Acho que não tenho muitas opções...

Marcela segura um sorriso e se apressa em arrumar um lugar para a mais nova hóspede dormir. Seu sofá era daqueles que abrem, então decidiu que era o melhor lugar para Gizelly passar a noite. Pegou um lençol e alguns travesseiros e correu de volta para a sala.

— Você prefere lençol ou edredom? — Marcela pergunta.

— Lençol. Vou acabar me descobrindo de noite mesmo. — A morena dá de ombros.

Marcela volta até seu quarto, pega um lençol e uma muda de roupa para Gizelly. Não sabia que número de roupas a advogada usava, então optou por uma camisola pois era a opção mais fácil de servir.

— Seu lençol e uma roupa mais confortável, se preferir. — Marcela diz colocando as coisas sobre o sofá, ao lado da advogada que ali estava sentada mexendo no celular.

— Obrigada. — Gizelly respondeu baixo, abrindo um sorriso.

— Imagina.

Gizelly se levanta do sofá e tira sua blusa xadrez e a regata em seguida, pegando a loira de surpresa. Marcela vira de costas assim que percebe o que estava acontecendo, arrancando um riso contido da morena. Que é espontânea eu sei, só não sabia que ia começar a se despir na minha frente – pensou a doutora – pelo menos não hoje.

Marcela sai da sala para evitar passar vergonha (ou fazer alguma besteira) e vai para o quarto, arrumar a própria cama. A advogada já havia se trocado e a camisola não havia ficado de todo ruim, na realidade a morena só conseguiu reparar em quão bonita era e em como o caimento parecia perfeito em seu corpo. Talvez o álcool estivesse ajudando na ilusão de perfeição, mas Gizelly não poderia se importar menos com esse detalhe. Resolveu ir agradecer Marcela pela estadia e por todo o resto, mas assim que chegou no quarto se deparou com a loira capotada na cama ainda desarrumada. Foi impossível conter um sorriso ao ver a doutora toda desengonçada sobre a colcha. Visualizou a manta ao seu lado e resolveu cobri-la, sabia que ela iria acordar com uma baita dor nas costas pela posição, mas pelo menos não passaria frio.

Retornou a sua cama improvisada e se aconchegou entre almofadas e o lençol. Sua cabeça vagou por alguns lugares não muito interessantes antes que o sono a pegasse e a fizesse apagar, sem a advogada ao menos perceber sua chegada.

see you againOnde histórias criam vida. Descubra agora