querida Marcela

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Marcela estava no aeroporto, apenas aguardando seu vôo ser chamado. Vôo após vôo, ela vê as pessoas indo ao embarque, despedindo-se de seus parentes, amados, amigos, porém ela era a única que não tinha ninguém para dizer adeus. Ela era covarde demais para isso, sequer teve coragem de terminar pessoalmente com Gizelly e encerrou o que quer que elas tivessem por um torpedo.

Pela segunda vez ela estava partindo, por mais que não tivesse ciência disso. Pela segunda vez a história se repetia, e com mais similaridades do que ambas desejariam.

Seu vôo finalmente foi chamado, e junto com o anúncio seu celular toca. O contato de Manoela fica em evidência no visor do aparelho e a loira levanta uma das sombrancelhas, pois as duas mulheres nem eram próximas. Sabia que tinha a ver com a Gizelly, mas não sabia se estava disposta a levar uma bronca por sua atitude extremamente imatura. Após cogitar muito decidiu assumir seus atos, pois já que teve a pachorra de avisar por mensagem ela deveria ser mulher o suficiente para aguentar as consequências. Porém para sua surpresa a ligação não era um esporro.

De repente todos os ruídos ao seu redor desaparecem e o aeroporto, que era gigante, pareceu sufocar a doutora. Gizelly havia sofrido um acidente.

O aparelho celular da médica cai no chão, causando um barulho que a desperta de seu choque. Quando se deu conta do que estava acontecendo, as lágrimas já escorriam freneticamente por seu rosto e seu estado atraia alguns olhares das pessoas do aeroporto. Enxugou as lágrimas e saiu disparada em direção a saída do aeroporto, entrando no primeiro táxi que vê pela frente. Se a perguntassem ela nem saberia explicar como chegou aí hospital ou como sabia que a advogada estaria ali, porém em menos de uma hora ela estava na recepção do local.

Manoela logo reconheceu a figura loira que entrou pela porta como um furacão, e se as circunstâncias não fossem essas, ela nem sequer reconheceria Marcela pois a doutora era a calmaria em pessoa. Logo tratou de acudir a loira e explicar o que havia acontecido, porém Marcela nem sequer ouvia o que a menor falava, tudo que ela queria era ver a advogada. Mais do que querer, ela necessitava. 

—Marcela, ela tá muito mal. — A menor diz para a veterinária.

— Eu preciso vê-la, Manu. De verdade. — Marcela chorava compulsivamente, os soluços quase a impedindo de falar.

— Marcela ela tá em coma induzido. O acidente foi realmente grave.

Aquelas palavras foram o golpe final no coração da loira. Ela ficou zonza e podia jurar que iria desmaiar, porém desmaiar não era uma opção. Não naquele momento. Ela sabia que a situação era caótica e também sabia que ficar desacordada só iria tornar a situação pior, e obviamente não queria isso.

Ela viu todos os momentos com a mulher repassarem em sua cabeça, como um filme, e as lágrimas apenas se intensificaram com tal ato. Manoela também se permitiu chorar pela primeira vez naquele dia. Gizelly era sua melhor amiga e a publicitária nunca imaginou que aquilo fosse acontecer, porque sendo franco ninguém nunca imagina. E assim as duas passaram as próximas horas, uma ao lado da outra, chorando pela mesma mulher porém não pelos mesmos motivos.

Manoela sentia seu coração doer, porém Marcela estava experienciando a dor de sentir seu coração dilacerar.

— Ela tava indo te ver. — Manoela finalmente diz, fungando e limpando o rímel borrado.

— O que? — Marcela pergunta ainda meio atordoada.

— Ela me ligou dizendo que tava indo pro aeroporto, que não podia te deixar ir sem se despedir. — Manu diz rindo sem graça. — Eu achei que ela estava sendo trouxa porque você foi uma baita filha da puta, mas não a impedi. Eu não a impedi. Eu podia ter falado pra ela ficar em casa, deixar de ser idiota, mas eu não falei.

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