Chromatica I

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Harry POV

No auge dos meus sete anos, eu poderia afirmar seguramente que minha cor favorita é o azul.

Talvez porque meu peixinho fosse dessa cor. Talvez porque as paredes do meu quarto também eram.

E porque não, devido a minha velha bicicleta azul desbotada, que eu carinhosamente chamava de Céu?

Bom, eu não sabia ao certo. Nunca parava para refletir sobre as razões para gostar das coisas, nem sobre a razão para as coisas serem como eram.

Tinha sete anos, afinal.

Eu não precisava refletir sobre nada, e essa era a grande vantagem de ser apenas uma criança.

Só tinha a certeza de que amava azul.

E para mim essa era a única coisa que eu precisava saber.

Talvez tenha sido por isso que um vulto azul chamou minha atenção, naquela tarde brincando no parque que tinha dentro do condomínio onde eu e minha família havíamos nos mudado naquela semana.

Aquele vulto de cor havia passado por mim feito um borrão, seguido de vários outros garotos.

E obviamente eu os segui, porque era esse tipo de garoto curioso, como minha mãe sempre dizia, que as vezes acabava soando um pouco intrometido.

Subi de forma desajeitada na Céu, pedalando o mais rápido que conseguia, mesmo que isso não fosse muita coisa.

Pulei da bicicleta, que caiu em um estrondo no chão, e segui para onde as outras crianças haviam corrido quando ouvi um grito e me assustei, congelando no lugar por alguns instantes, vendo alguns garotos saírem empurrando os balanços para longe, dando a volta naquela casinha de madeira colorida.

Um deles me olhou feio, e eu só pude prender a respiração e correr para dentro da caixa de areia, para tentar achar o vulto azul.

Mas quando cheguei um pouco mais adentro, encontrei o que seria minha cor favorita no mundo inteiro.

Era um garoto.

Um garoto que parecia muito bravo, de feições fechadas e corte na boca. Estava caído no chão, com cabelos loiros muito claros bagunçados e desordenados.

Ele tinha as mãos raladas, e parecia irritado de uma forma muito grande.

Mas ele vestia uma camiseta azul.

E eu adorava azul.

Então, eu adorava ele também.

Caminhei até o menino, me ajoelhando a sua frente vendo-o me fitar irritado.

- O que você quer? - Resmungou como se fosse me empurrar, e eu tropecei para trás, de olhos arregalados.

- Se você me bater, eu vou gritar e te morder! - Avisei, estranhando a irritação dele, sendo que eu só tinha vindo ver minha cor.

Ele parou, arqueando o cenho para reparar em mim.

- Eu não vou te bater - Falou por fim, como se tentasse me tranquilizar - Mas... o que você quer?

- Você tem olho azul! - Falei sorrindo vendo-o franzir o cenho e negar com a cabeça, sem entender a razão para eu ter ficado radiante.

Mas eu nunca conheci alguém que tivesse olhos daquela cor, e era a minha favorita no mundo inteiro!

- Dizem que é meio cinza - Afastou os cabelos do rosto, e eu sorri.

- Seu olho é azul desbotado. Da cor de Céu - Apontei a bicicleta, muito feliz - E eu gosto muito de azul desbotado! É minha cor favorita no mundo inteirinho!

E foi então que ele sorriu, de uma maneira que eu nunca esqueceria.

Não entendia sobre essas coisas do mundo e dos momentos especiais, mas definitivamente aquele foi um daqueles acontecimentos de estar no lugar certo, na hora certa.

Porque naquele dia, eu encontrei algo que se quer sabia que era meu.

- A minha cor favorita é o verde - Ele contou com a ameaça de um riso, parecendo encantado quando eu gesticulei fervorosamente para meu rosto.

- Eu tenho olhos verdes! Bem aqui!

- São olhos muito bonitos - Ele comentou, se aproximando para olhar de perto, e eu sorri orgulhoso.

- Os garotos te machucaram? - Questionei e ele deu de ombros.

- Só me alcançaram porque eu cai.

- E porque tentavam te machucar?

- Eles furaram minha bola, então eu joguei areia na cabeça deles - Contou enquanto andava meio torto, suspirando ao ver um corte na perna ralada.

- Você quer carona? - Ofereci prestativo, ainda muito feliz por ter um amigo azul.

- Carona?

- É. A céu está ali - Indiquei, não esperando resposta para ir levantar a bicicleta caída no chão - Eu sei andar muito bem. Posso te levar na sua casa. Onde é a sua casa? - Falei subindo em céu, vendo-o vir até mim com desconfiança, subindo atrás, apoiando as mãos nos meus ombros.

- Desce a rua, reto. É... uma casa bem no fim. Ela tem portão azul - Falou e eu me virei para sorrir para ele e ver se ele estava seguro antes de começar a pedalar, vendo-o rir quando eu perdi o controle nas pernas e começamos a descer rápido demais, afinal a rua era toda inclinada.

E foi assim que chegamos na casa dele.

Na verdade, voamos na calçada dele, pois caímos assim que a roda bateu contra a guia da calçada.

Afinal, céu não era tão nova, e nem sabia mais o que significava freios.

E eu só ganharia uma nova bicicleta quando aprendesse a ser cuidadoso com minhas coisas, o que eu suspeitava que dificilmente fosse acontecer.

- Obrigado pela carona, garoto azul - Falou ao se erguer e me ajudar a levantar e eu sorri.

- Meu nome é Harry.

-Eu sou Draco. E não gosto de azul.

- Ah não! - Lamentei, porque soava como uma terrível tragédia e ele riu.

- Mas verde combina com azul, então nós temos que ser amigos - Concluiu e eu concordei, vendo-o entrar na própria casa meio manco após acenar para mim.

Sorrindo, eu subi a rua empurrando céu, afinal minhas pernas não aguentavam a pedalar muito, e quando cheguei em casa, após jantar e tomar banho, deitado na cama olhando pela janela, eu pensei que tentaria fazer Draco gostar de azul também.

Eu não sabia.

Mas aquela havia sido uma boa decisão.

A melhor de todas.

E com o tempo, eu parei de tentar fazer o Draco gostar de azul, porque eu finalmente entendi que gostávamos daquilo que existia um no outro.

Porque azul era harmonia, calma, paz, descanso... Azul geralmente era uma cor pacífica. Era como eu nunca me sentia.

Azul era como Draco.

E o verde... ele era a alegria entusiasta e comunicativa. A cor da grama, da confusão e da encrenca, do verão e das coisas felizes, de acordo com Draco.

Verde era tão Harry quanto Draco era Azul.

Eu entendi que Draco era tão azul céu, que nenhuma cor podia se misturar com ele... A não ser o meu verde esmeralda.

A única cor que combinava com o verde, era azul.

Então nós estávamos sempre juntos.

Porque nos tornamos a fusão mais incrível de cores, que não gerava apenas um tom.

E sim um arco íris inteiro.

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Sim, outra fic drarry amiguinhos desde crianças, amaram?
E sim, universo alternativo dessa vez.
E SIM! Dedicada do começo ao fim para a minha mãe, Lady Gaga, rainha aclamada que me matou com Chromatica!

Chromatica || DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora