Capítulo 18: Tudo ou nada

88 18 0
                                    

Like I wanna end me.
(Como se eu quisesse acabar comigo)

A terceira parte da prova. A parte que poderia me matar. A parte em que eu deveria desistir...

- Vamos lá! - disse me direcionando para o garoto e ultrapassando o sensor.

As flechas começaram a disparar. Enquanto eu desviava delas, notei que havia um padrão, cinco flechas eram lançadas da direita no plano alto, cinco da parede esquerda no plano médio e mais cinco de novo da direita no plano baixo, demorando cerca de dois segundos para disparar cada uma.

Se o padrão não mudasse, eu só teria que mudar a altitude do vôo para não ser atingida.

Foi o que eu fiz, e por incrível que pareça, funcionou!

Ou quase...

Quando eu estava a centímetros do garoto, uma flecha atingiu minha panturrilha me fazendo gritar de dor.

Outro alvoroço começou. Todos diziam que eu precisava ser levada a um hospital para ter cuidados médicos, mas eu ainda não estava pronta para desistir.

Arranquei a flecha de minha perna gemendo de dor e ofegante, senti meu sangue quente escorrer mas tentei ignorar a sensação e continuei meu percurso.

Achei estranho o fato de o garoto não estar com um arco em mãos como os outros, e mais estranho ainda que ele não estava prestando atenção em mim, e sim em um ponto atrás de mim.

Me virei lentamente seguindo o olhar dele e vi quando Patrícia fez um sinal afirmativo com a cabeça, como se estivesse autorizando algo.

Antes que eu pudesse entender, o garoto agarrou meu pescoço me sufocando.

- Mande ele parar! Ele vai matá-la!

Minha vista estava ficando embaçada então virei rapidamente meu pescoço para o lado com a intenção de aliviar a pressão e levantei rápido meu braço atingindo o dedo no olho do garoto. Não queria machucá-lo, mas aquilo foi o suficiente para ele me soltar.

Medo. Atirei a flecha e em poucos segundos aquele garoto que antes me sufocava estava tremendo com lágrimas nos olhos e fugindo de mim.

- Terceira fase: concluída.

Era agora! Só faltava uma! A última fase...

Estranhei ao ver uma piscina que parecia muito funda e minha adversária com equipamentos de mergulho.

Ouvi a voz de Patrícia.

- A última fase será embaixo d'água.

- Por quê? Eu vou precisar fazer sereias se apaixonaram também? - perguntei em tom de deboche mas fui ignorada.

Minha adversária mergulhou.

- Imagino que eu não vou ganhar um equipamento de mergulho, né?

- Quer desistir? - Patrícia perguntou com um sorriso provocador.

Lancei um olhar de ódio para ela e enchi meus pulmões com o máximo ar que consegui, estufando meu peito como um pombo e mergulhei.

Meus olhos ardiam, assim como o ferimento na minha perna, e as imagens não estavam nítidas (obviamente), soltei algumas bolhas de ar pelo nariz para poder afundar mais e finalmente encontrei meu alvo.

Claustrofobia. Aquilo bastaria para que a mulher se sentisse pouco a vontade com todos aqueles trajes de mergulhador e saísse da água.

Armei meu arco e atirei.

Mas acontece que atirar dentro da água não é nada igual a atirar fora dela, e no segundo que eu atirei, a flecha simplesmente foi parar no fundo da piscina.

Tudo bem, eu ainda tenho mais uma.

Mas era minha última flecha e eu não podia desperdiçá-la. E pelo visto, não podia contar com meu arco, não dentro da água pelo menos.

Subi para a superfície para pegar mais ar e mergulhei novamente indo em direção a mulher, mas assim que eu me aproximei, ela deu uma pancada na minha cabeça me fazendo afundar e perder todo o ar que eu tinha prendido com o susto.

Ah, tá brincando que essa louca vai querer lutar embaixo d'água!

Subi (de novo) até a superfície para pegar ar e quando voltei, nem esperei ela me ver direito e meti um soco no seu rosto arrancando a máscara de mergulho.

Minha mão latejava de dor, por estarmos submersos na água, tive que fazer uma força muito maior, mas tinha valido a pena, se iríamos lutar, pelo menos que fosse com direitos iguais, ou seja, as duas sem ar.

Ela puxou meus cabelos com força e voltou para a superfície.

Aquilo era jogo sujo! Todos sabem que puxar cabelo é proibido em quase todas as lutas!

Mas o que eu sabia de lutas, não é mesmo? Nunca havia feito nenhum tipo de luta. Não tinha chances de ganhar aquilo usando a força, se eu quisesse vencer, teria que usar a cabeça.

Se eu desmaiasse, ela provavelmente me levaria de volta a superfície, sua guarda estaria baixa, e talvez eu tivesse uma chance de cravar a flecha em seu peito.

Era minha única chance, eu precisava tentar. Peguei a última flecha, agora que eu tinha tirado o equipamento que "sufocava" ela, claustrofobia não adiantaria, fui pelo caminho mais simples. Hidrofobia. Isso com certeza tiraria ela da água.

Quando ela mergulhou de novo, fingi tentar acertar a flecha nela, que, como eu imaginei, ela desviou de cada movimento facilmente, então fingi me cansar e perder meu ar até desmaiar.

Não sou uma boa atriz, mas confesso que foi bem mais fácil fazer ela acreditar quando eu quase estava realmente desmaiada e sem ar!

Antes de "desmaiar" tomei o cuidado de prender a flecha na minha calça sem que ela percebesse para não ter o perigo de perdê-la.

E assim, quando estávamos chegando à superfície, cravei minha flecha no seu peito e em poucos segundos fui largada bruscamente, ela saiu da piscina chorando aterrorizada e arrancando as roupas molhadas.

Saí da piscina também e fui correndo em direção a ela apertando com força sua mão.

- Respira fundo! Está tudo bem! Já passou!

Patrícia se levantou com a expressão de ódio e disse com voz amarga:
- Última fase: concluída.

E assim saiu da sala deixando para trás uma explosão de aplausos e uma imensa euforia.

Todos vieram me abraçar me parabenizando, dizendo que sabiam que eu conseguiria, e todas essas coisas.

Eu também estava feliz, claro, mas quando olhei ao redor, vendo a mulher chorando e com dificuldades para respirar, o garoto se escondendo de tudo e todos tremendo de medo e o rapaz caído ao chão, sem forças nem para se levantar...

Será que ser cupido era aquilo? Tá, ok, a gente fazia as pessoas se apaixonarem, encontrarem o amor de suas vidas e tudo mais. Mas e as partes ruins? As sabotagens? Será que eram maiores que as partes boas? No que eu iria me transformar ao fazer aquilo todo dia? Ver essas barbaridades como trabalho?

- Obrigada, gente! Mas depois a gente comemora, tenho que recuperar as flechas e fazer essas pessoas voltarem ao normal... De verdade, obrigada pelo apoio, vocês são demais!

Uma flecha no coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora