Like I wanna end me.
(Como se eu quisesse acabar comigo)A terceira parte da prova. A parte que poderia me matar. A parte em que eu deveria desistir...
- Vamos lá! - disse me direcionando para o garoto e ultrapassando o sensor.
As flechas começaram a disparar. Enquanto eu desviava delas, notei que havia um padrão, cinco flechas eram lançadas da direita no plano alto, cinco da parede esquerda no plano médio e mais cinco de novo da direita no plano baixo, demorando cerca de dois segundos para disparar cada uma.
Se o padrão não mudasse, eu só teria que mudar a altitude do vôo para não ser atingida.
Foi o que eu fiz, e por incrível que pareça, funcionou!
Ou quase...
Quando eu estava a centímetros do garoto, uma flecha atingiu minha panturrilha me fazendo gritar de dor.
Outro alvoroço começou. Todos diziam que eu precisava ser levada a um hospital para ter cuidados médicos, mas eu ainda não estava pronta para desistir.
Arranquei a flecha de minha perna gemendo de dor e ofegante, senti meu sangue quente escorrer mas tentei ignorar a sensação e continuei meu percurso.
Achei estranho o fato de o garoto não estar com um arco em mãos como os outros, e mais estranho ainda que ele não estava prestando atenção em mim, e sim em um ponto atrás de mim.
Me virei lentamente seguindo o olhar dele e vi quando Patrícia fez um sinal afirmativo com a cabeça, como se estivesse autorizando algo.
Antes que eu pudesse entender, o garoto agarrou meu pescoço me sufocando.
- Mande ele parar! Ele vai matá-la!
Minha vista estava ficando embaçada então virei rapidamente meu pescoço para o lado com a intenção de aliviar a pressão e levantei rápido meu braço atingindo o dedo no olho do garoto. Não queria machucá-lo, mas aquilo foi o suficiente para ele me soltar.
Medo. Atirei a flecha e em poucos segundos aquele garoto que antes me sufocava estava tremendo com lágrimas nos olhos e fugindo de mim.
- Terceira fase: concluída.
Era agora! Só faltava uma! A última fase...
Estranhei ao ver uma piscina que parecia muito funda e minha adversária com equipamentos de mergulho.
Ouvi a voz de Patrícia.
- A última fase será embaixo d'água.
- Por quê? Eu vou precisar fazer sereias se apaixonaram também? - perguntei em tom de deboche mas fui ignorada.
Minha adversária mergulhou.
- Imagino que eu não vou ganhar um equipamento de mergulho, né?
- Quer desistir? - Patrícia perguntou com um sorriso provocador.
Lancei um olhar de ódio para ela e enchi meus pulmões com o máximo ar que consegui, estufando meu peito como um pombo e mergulhei.
Meus olhos ardiam, assim como o ferimento na minha perna, e as imagens não estavam nítidas (obviamente), soltei algumas bolhas de ar pelo nariz para poder afundar mais e finalmente encontrei meu alvo.
Claustrofobia. Aquilo bastaria para que a mulher se sentisse pouco a vontade com todos aqueles trajes de mergulhador e saísse da água.
Armei meu arco e atirei.
Mas acontece que atirar dentro da água não é nada igual a atirar fora dela, e no segundo que eu atirei, a flecha simplesmente foi parar no fundo da piscina.
Tudo bem, eu ainda tenho mais uma.
Mas era minha última flecha e eu não podia desperdiçá-la. E pelo visto, não podia contar com meu arco, não dentro da água pelo menos.
Subi para a superfície para pegar mais ar e mergulhei novamente indo em direção a mulher, mas assim que eu me aproximei, ela deu uma pancada na minha cabeça me fazendo afundar e perder todo o ar que eu tinha prendido com o susto.
Ah, tá brincando que essa louca vai querer lutar embaixo d'água!
Subi (de novo) até a superfície para pegar ar e quando voltei, nem esperei ela me ver direito e meti um soco no seu rosto arrancando a máscara de mergulho.
Minha mão latejava de dor, por estarmos submersos na água, tive que fazer uma força muito maior, mas tinha valido a pena, se iríamos lutar, pelo menos que fosse com direitos iguais, ou seja, as duas sem ar.
Ela puxou meus cabelos com força e voltou para a superfície.
Aquilo era jogo sujo! Todos sabem que puxar cabelo é proibido em quase todas as lutas!
Mas o que eu sabia de lutas, não é mesmo? Nunca havia feito nenhum tipo de luta. Não tinha chances de ganhar aquilo usando a força, se eu quisesse vencer, teria que usar a cabeça.
Se eu desmaiasse, ela provavelmente me levaria de volta a superfície, sua guarda estaria baixa, e talvez eu tivesse uma chance de cravar a flecha em seu peito.
Era minha única chance, eu precisava tentar. Peguei a última flecha, agora que eu tinha tirado o equipamento que "sufocava" ela, claustrofobia não adiantaria, fui pelo caminho mais simples. Hidrofobia. Isso com certeza tiraria ela da água.
Quando ela mergulhou de novo, fingi tentar acertar a flecha nela, que, como eu imaginei, ela desviou de cada movimento facilmente, então fingi me cansar e perder meu ar até desmaiar.
Não sou uma boa atriz, mas confesso que foi bem mais fácil fazer ela acreditar quando eu quase estava realmente desmaiada e sem ar!
Antes de "desmaiar" tomei o cuidado de prender a flecha na minha calça sem que ela percebesse para não ter o perigo de perdê-la.
E assim, quando estávamos chegando à superfície, cravei minha flecha no seu peito e em poucos segundos fui largada bruscamente, ela saiu da piscina chorando aterrorizada e arrancando as roupas molhadas.
Saí da piscina também e fui correndo em direção a ela apertando com força sua mão.
- Respira fundo! Está tudo bem! Já passou!
Patrícia se levantou com a expressão de ódio e disse com voz amarga:
- Última fase: concluída.E assim saiu da sala deixando para trás uma explosão de aplausos e uma imensa euforia.
Todos vieram me abraçar me parabenizando, dizendo que sabiam que eu conseguiria, e todas essas coisas.
Eu também estava feliz, claro, mas quando olhei ao redor, vendo a mulher chorando e com dificuldades para respirar, o garoto se escondendo de tudo e todos tremendo de medo e o rapaz caído ao chão, sem forças nem para se levantar...
Será que ser cupido era aquilo? Tá, ok, a gente fazia as pessoas se apaixonarem, encontrarem o amor de suas vidas e tudo mais. Mas e as partes ruins? As sabotagens? Será que eram maiores que as partes boas? No que eu iria me transformar ao fazer aquilo todo dia? Ver essas barbaridades como trabalho?
- Obrigada, gente! Mas depois a gente comemora, tenho que recuperar as flechas e fazer essas pessoas voltarem ao normal... De verdade, obrigada pelo apoio, vocês são demais!
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Uma flecha no coração
Teen FictionÁgata sempre foi uma romântica nata, mas ninguém nunca correspondeu a esse sentimento. Desiludida, ela entra em uma escola para cupidos e se torna rapidamente a melhor de sua turma. Mas cupidos também se apaixonam... E tudo muda quando ela se apaixo...