Capítulo 22: Declaração

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Tantos sorrisos por aí e você querendo o meu.

- Vai ficar tudo bem!

Eu e Alexia estávamos sobrevoando a Steinhardt*.

Eu atiraria em David e depois em Vick. Depois eu daria um jeito dos dois se encontrarem e depois recuperaria as flechas.

Simples assim. Eu consigo!

Alexia tinha vindo junto comigo para, segundo ela, me dar apoio, mas na minha concepção, ela só queria garantir que eu não faria nenhuma idiotice.

Avistei David com suas típicas roupas pretas e seus piercings que cintilavam com o sol. Tinha que concordar que ele era extremamente atraente!

Peguei uma flecha e...

- E se ele for um babaca? E se ele tratar Vick como um objeto? E se for um possessivo escroto que não deixe ela fazer nada? Ai, meu Deus, Alexia, e se ele bater nela?

Eu estava desesperada e com lágrimas nos olhos com esses pensamentos.

- Se você continuar pensando assim, vai acontecer mesmo! - ela gritou olhando para a flecha.

Olhei também. Estava brilhando em magia. Soltei um gritinho com medo de aqueles pensamentos horríveis se tornarem realidade por minha causa e a cravei em um pedaço de madeira que eu tinha trazido justamente caso coisas como essas acontecessem.

Respirei fundo. Fechei os olhos e mentalizei todos os sentimentos que eu tinha por Vick. Toda aquela paixão que eu tentei tão fortemente esquecer, em vão. O frio na barriga. O bem que eu desejava a ela desde o primeiro segundo em que a vi. A ardência que eu sentia no meu peito ao lembrar do seu sorriso.

Abri os olhos. A flecha brilhava. Respirei fundo e armei meu arco. Mirei em David e atirei. Estava feito.

Ou quase...

- Essa é a casa dela? - Alexia perguntou.

- É sim.

Lembrei da pesquisa rigorosa que eu havia feito de Vick.

- Não é estranho que ela vá todo domingo ao Skylark? A melhor amiga dela se apresenta lá aos domingos.

- E por que isso é estranho? - perguntou Alexia impaciente.

- Porque era domingo quando nos conhecemos... Foi o primeiro domingo em anos que ela não foi ao Skylark, e sim ao bar onde nos conhecemos. Parece até...

- Não ouse falar destino, Ágata! Isso não existe! Nós, cupidos, que somos responsáveis pelo que os humanos chamam de destino, e você, Ágata, não tem um cupido!

- Eu sei, eu sei... Só achei... Estranho. Só isso.

Nesse momento, ela saiu da casa fazendo meu coração acelerar e agradeci mentalmente por estarmos voando, senão era capaz de ela ouvir as batidas aceleradas de tão altas que estavam.

Ela estava tão linda quanto eu me lembrava. Seu cabelo castanho brilhava com o sol, ela usava brincos de argola, uma blusa branca e uma calça jeans.

Estava simplesmente estonteante! Quase conseguia sentir seu cheiro floral...

Você consegue, Ágata. Você consegue.

Atirei. Estava feito. Vick nunca seria minha...

Alexia me abraçou orgulhosa.

- Agora eu vou achar os meus íncaris enquanto você junta os dois. Você vai ficar bem?

Afirmei com a cabeça e ela foi embora voando. Desci ao solo me certificando de que ninguém estava olhando.

- Vick?

Ela que já estava entrando em casa deu meia volta ao ouvir seu nome e me olhou espantada.

Será que ela não lembra de mim?

Ela andou até minha direção e soltou a bomba:
- Eu não acredito! É você! Ágata!

Fiquei feliz por ela lembrar de mim, mas realmente não esperava o que ela falou logo depois.

- Eu... - ela sorriu atrapalhada arrumando o cabelo, que na minha opinião já estava perfeito (e que sorriso!) - Olha, eu sei que isso vai parecer estranho porque a gente só se viu uma vez mas... Eu fiz de tudo para te encontrar de novo, fui toda noite praticamente àquele bar, na esperança de te ver de novo, mas você nunca aparecia e eu jurei que se te encontrasse de novo falaria como eu me sinto e... Agora você está aqui! Na frente da minha casa e... Não sei parece até...

Por favor, não fale!

- Destino!

Não continue, isso está me matando!

- Eu não acredito nesses negócios de amor à primeira vista nem nada, e também não sei se já posso chamar isso de amor... Mas...

Ela desviou o olhar e respirou fundo como se tomando coragem.

- Eu gosto muito de você, gostei dês do segundo que te vi, e depois de conversar com você... Você é incrível, Ágata! Eu não consigo pensar em mais nada além de você, não consigo me relacionar com mais ninguém pensando em você, você está me deixando louca! Nós passamos duas horas juntas e eu sinto como se conhecesse você desde sempre! É como se minha vida inteira eu tivesse procurado por algo e quando eu te vi, eu tive certeza de que você era esse algo! Como se... Como se você completasse um vazio no meu coração que eu nem sabia que existia!

Ela me olhou com aqueles olhos esmeraldas que apareciam em todos os meus sonhos ansiosa por uma resposta, mas eu estava paralisada.

- Você deve estar me achando louca, não é?

Não, não estou! Eu te entendo porque sinto exatamente a mesma coisa!

Ela colocou as mãos na cabeça envergonhada.

- O que eu estou fazendo? É óbvio que não é recíproco. Quando eu tentei te beijar você fugiu, fui tola em esperar que você sentisse o mesmo...

Não, não! Você entendeu tudo errado! É recíproco, muito recíproco! Eu sinto tudo isso que você disse! Eu quero te beijar! Quero mais que tudo! Nunca quis tanto algo na vida como quero você! Mas eu não posso! Eu sou uma cupido, vou perder meus poderes e posso até ser morta! E você... Você nunca vai ficar ao lado do amor da sua vida, que não sou eu...

- Por favor, pelo menos fale alguma coisa. - ela disse com o olho marejado e o semblante constrangido.

- Eu...

Estou apaixonada por você! Vick, eu acho até que te amo!

- Não sinto o mesmo, sinto muito.

Segure as lágrimas, Ágata! Você está fazendo a coisa certa!

Ela abaixou a cabeça tentando esconder o pesar que sentia no peito, o mesmo que eu estava sentindo.

- Eu... Eu entendo...

Ela já estava se aproximando da casa de novo quando eu chamei:
- Vick, espere!

Ela se virou com a expressão séria.

- Eu estava indo para minha universidade... A Steinhardt... Eu estava pensando se você não queria ir comigo... Tem um ponto de ônibus aqui perto...

Ela soltou um riso irônico.

- Você acaba de me dar um fora e quer que eu saia com você?

- Não, não é um encontro! Só achei que você gostaria de vir comigo, como amiga...

Sua expressão se entristeceu de novo cortando meu coração.

- Sinto muito, Ágata. Não posso ser sua amiga, me machucaria demais. Espero que entenda!

*Uma das instituições que compõem a Universidade de Nova York.

Uma flecha no coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora