Entro no carro e sigo pelas ruas vazias, com os olhos fixos no asfalto, mas com a mente perdida em um abismo. Isso só pode ser uma piada cruel... Quem aquele cara pensa que é? E por que, meu Deus, por que Hinata não me contou quem ele era? Que inferno...
O celular vibra no banco ao lado, um número desconhecido se exibe na tela, insistente. Não atendo. Não posso. Não consigo. A raiva e o ciúme me dominam - palavras pequenas demais para o que sinto agora. Odeio admitir, mas estou tomado por esse sentimento corrosivo. Ciúmes. Do loiro desbotado, de olhos claros demais, corpo esculpido demais... e um olhar que exala uma confiança que eu nunca soube ter. Me senti pequeno diante dele. E essa ideia me devora.
Suspiro, apertando o volante até os nós dos dedos ficarem pálidos. Não devia ter agido daquela forma com Hinata... eu sei, eu sei. Mas meu orgulho... Meu maldito orgulho.
O telefone vibra novamente. O mesmo número. O mesmo incômodo. Desligo sem olhar.
Entro na garagem do prédio, matando o motor do carro como quem sufoca um grito. Saio, sigo até o elevador, e mais uma vez, o número me chama, como uma voz invisível puxando pela gola da minha camisa.
Respiro fundo. O elevador sobe. O celular vibra outra vez. Cansei. Atendo.
- Quem é? - minha voz sai ríspida, como se pudesse afastar o que quer que seja.
Silêncio. Depois, aquela voz.
- Não se lembra mais de mim, Sasuke? -
Congelo. Não... não pode ser.
- O que você quer, Sakura? - o nome arranha minha garganta como vidro quebrado.
- Podemos conversar? - ela diz, calma, como se o tempo não tivesse passado, como se nada tivesse acontecido.
- Não. Não tenho nada pra falar com você. - E desligo, como quem tenta cortar o fio que me liga a tudo que eu quero esquecer.
Encosto a cabeça na parede do elevador, o peito subindo e descendo com dificuldade.
- Que merda tá acontecendo? - murmuro.
As portas se abrem e, ao levantar os olhos... lá está ela.
Parada diante da porta do meu apartamento, como se nunca tivesse partido. Como se o tempo tivesse congelado naquele instante miserável.
Ela sorri, de canto, aquele sorriso que um dia me desmontou, mas que agora só me revolta.
- Que merda você está fazendo aqui? - disparo, sem me conter.
- Preciso falar com você - responde, serena, como quem não sabe o caos que provoca.
Minhas mãos tremem. O coração parece escapar pela garganta. Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto.
- Não tenho nada pra te dizer. Vai embora - digo, abrindo a porta, tentando escapar. Ela segura meu braço.
- Por favor, Sasuke...
- O que você quer, hein? O que realmente quer, Sakura? - pergunto, encarando aqueles olhos verdes, outrora tão fascinantes, agora apenas opacos de passado.
Ela baixa o olhar, os lábios trêmulos.
- Eu... estou com saudades...
Sinto o sangue gelar, depois ferver, num ciclo vicioso. Ódio. Repulsa. Desprezo. E, por baixo de tudo, aquela dor velha que pensei ter enterrado.
- Que merda você acha que está falando? - grito. - O que você acha que vai conseguir me dizendo isso? -
Ela dá um passo atrás, assustada com a fúria que mal consigo conter.
- Acha que sou um palhaço? Um idiota?
Suspiro, com o peito apertado demais para suportar o ar. Claro que fui um idiota... mas não permito que ela me faça parecer ainda mais.
- Só queria falar com você... é pedir demais?
- O que mais tem pra dizer? As mesmas merdas que o Naruto?
Ela muda o tom, tensa:
- Você... falou com ele?
- O que isso importa? - corto, gélido.
- Só preciso te dizer uma coisa... e prometo, nunca mais vou te procurar.
Me encosto na parede, exausto.
- Fala logo.
Ela hesita. Respira fundo.
- Podemos ir a um café?
Dou uma risada amarga.
- Isso aqui não é um encontro, Sakura. Não somos amigos. Não somos nada. Fala logo.
Ela fecha os olhos por um segundo, como quem se prepara para pular de um penhasco.
- Lembra... daquele dia? O dia em que terminamos?
Como se eu pudesse esquecer. O dia em que perdi tudo - inclusive a mim mesmo.
- Vai direto ao ponto.
Ela engole seco.
- Acontece que eu... - hesita, as palavras pesando demais para sair.
- Fala logo, porra! Que mais aconteceu naquele dia? Além de você ter trepado com o meu amigo?
Ela baixa a cabeça, envergonhada, diminuída.
- Fala! - grito, com o ódio corroendo minha garganta.
- Eu engravidei! - explode, e o mundo, de repente, parece perder o chão.
Fico sem ar. Sem força. Sem vida.
- Preciso que você me diga onde está o Naruto... - completa, enquanto eu, pálido, só consigo olhar, como quem encara o próprio túmulo. - Ele precisa saber que é pai.
- Você... teve o bebê? - minha voz mal sai.
Ela apenas acena com a cabeça, os olhos marejados.
- Ele precisa assumir. Tem que ser responsável...
A raiva me consome. Não há mais espaço para qualquer outra coisa.
- E o que eu tenho a ver com isso? - minha voz é mais fria do que nunca.
- Como assim?
- O que isso tem a ver comigo? Nada! Isso é entre você e aquele filho da puta! Eu não tenho nada a ver se você resolveu se deitar com ele e engravidou! - explodo, sem filtros, sem freios. - Não tenho nada a ver com o fato de você ter sido uma vadia e ter se envolvido com o meu melhor amigo!
Ela chora. Mas eu não me comovo. Não mais.
- Sasuke... só me diz onde ele está... - soluça.
- Eu não sei! E nem quero saber! Quero que vocês dois se fodam! - grito, abrindo a porta do meu apartamento e batendo com força.
E então... o silêncio.
Só eu e o meu peito, arfando. Só eu e as malditas lágrimas, finalmente escapando, traidoras.
Encosto as costas na porta, escorrego até o chão.
- Que porra é essa...? - sussurro, enquanto o coração pulsa como quem quer explodir.
Isso só pode ser um pesadelo.
- Acorda, Sasuke... acorda dessa merda.

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𝓕𝓸𝓽𝓸𝓰𝓻𝓪𝓯𝓲𝓪
RomanceVocê acredita em amor a primeira vista? Sasuke uchiha não, ele nunca foi o tipo de cara que sonhava em encontrar o amor da sua vida numa esquina, muito menos a primeira vista. Digamos que ele é até um pouco fechado em relação á sentimentos amorosos...