Traga o Desastre

Capítulo 28 - Texto de despedida

Matthew Collins

⚠️ Aviso de Gatilho ⚠️

Esse capítulo contém assuntos delicados, caso não se sinta bem lendo, pule a situação em questão.

Eu me sentia um lixo, nada no mundo seria capaz de retirar todo o sentimento ruim que habitava em mim. Insisti para que André não me mantivesse no hospital, eu odeio estar em um ambiente como esse, é como se as pessoas ao meu redor estivessem me julgando pelo que fiz. Após muita insistência, argumentação e um crachá da CIA, permitiram minha retirada. Odiava ter que me portar dessa forma exercendo meu "poder" como agente, mas era necessário para que não surtasse ainda mais. Rodríguez não só me levou para casa, como permaneceu, limpou toda minha bagunça e não me deixou sozinho um minuto sequer, com exceção dos momentos em que eu precisava ir ao banheiro. 

Tentei conversar com ele sobre a missão que fez para aliviar o clima pesado que pairava no ar, mas recebi menos informações do que o esperado. Não conseguiram solucionar o caso e inclusive por esse motivo voltaram tão rapidamente. As observações que fiz com relação às fotos foram quase corretas, realmente não conseguiram encontrar líquido algum nos frascos expostos, pois ao que tudo indica, foram alterados para ocultar seus feitos. Não estávamos lidando com quaisquer criminosos, eles possuíam certa experiência e pareciam saber que estavam sendo observados diante de toda essa cautela e em outros pontos demonstravam atitudes propositais a fim de terem seu trabalho divulgado, porém, não facilitaríamos as coisas deixando que a imprensa pusesse as mãos no material. 

André podia ser um agente, mas mentia muito mal. O questionei sobre não ter nada para fazer diante de seu papel como babá em relação a mim e ele simplesmente respondeu que Alisson havia o dispensado, correndo do assunto toda vez que eu mencionava, até que descobri uma solicitação de afastamento feita em seu nome. Obviamente me irritei por saber, não queria que fosse prejudicado no trabalho por estar preocupado comigo, o pior já tinha passado e eu não tinha muito mais o que fazer para me machucar considerando a mão imobilizada e o efeito letárgico que os medicamentos me causavam.

Eu imaginava o que estava se passando na cabeça dele após tudo que presenciou, afinal, eu nunca agi de maneira tão impulsiva me machucando gravemente. Não o culpava por querer ficar ao meu lado esperando uma estabilização, acredito que faria o mesmo em seu lugar. Passo por essa situação deplorável há anos e até hoje me culpo pela morte da minha ex noiva… Quer dizer, quase noiva. Foi importante ter um apoio, ter alguém com quem contar no meu pior momento. André sempre fez questão de manter-se perto garantindo meu bem estar e eu não tinha como agradecer tal ação, ele era mesmo um irmão. Tenho em mente que os meus pensamentos e sentimentos devem ser controlados por mim, mas é algo difícil… As coisas se tornam mais fáceis quando se tem alguém para ajudar a se sentir melhor ou superar aquilo que sempre lhe fez mal. É necessário ter quem te faça perceber os seus erros e o ajude a melhorar, ao invés de virar as costas quando jurou sempre te apoiar. 

Sabe, apesar de sermos dois homens adultos, não anula o fato de também termos sentimentos a serem demonstrados, não há nada de errado nisso. Estar disposto a se doar tanto a fim de ver o outro bem não o torna menos homem, mas sim alguém de caráter. Sua masculinidade só é afetada se você deixar que os outros te afetem com rótulos baratos. Nenhum homem deveria ter medo de expor seus sentimentos ou qualquer coisa que seja, na verdade, deveriam aprender a viver sem medo do que os outros irão pensar. Se fosse para me deixar levar por aquilo que é dito, teria desistido na mesma hora de minha missão referente a Reuben, assim como, não teria conquistado metade do que consegui. 

Todo o tempo que tinha que passar na cama me fazia ter vários momentos autoreflexivos e em parte era exatamente o que me distraía quando tudo me causava tédio ou desinteresse de maneira rápida. Um importante processo do tratamento que me dispus a realizar envolvia tirar pelo menos meia hora do meu dia para avaliar minhas ações como um todo observando onde errei e como poderia me reconstruir como pessoa para superar o que me atingia. É importante entender que o problema não está apenas nas pessoas, mas também em si mesmo às vezes.  A parte difícil era livrar-me da culpa, pois realmente me sentia responsável pelo acidente da pessoa que tanto amava, inclusive foi tal sentimento que me proveu minha experiência de quase morte e me fez perceber que deveria viver ao invés de apenas sofrer.