Capítulo 25 - Maldito Gatilho

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Matthew Collins

⚠️ AVISO DE GATILHO ⚠️

Por favor, prossigam com a leitura cientes que podem haver certas situações desconfortáveis de serem lidas por identificação com a cena, caso se sintam tristes ou qualquer sentimento ruim que seja, peço que não continuem a leitura do mesmo, minha prioridade é o bem estar de vocês.

3:50 a.m

Acabei não perguntando como ela estava, mas sua forma ao falar comigo já me gerou uma resposta. 

4:30 a.m

Não consigo voltar a dormir, o sonho que tive com Caroline está sendo revivido a cada minuto em minha mente e nada me faz parar de pensar nisso. Tentei… Eu juro que tentei não me deixar levar, mas quando vi já era tarde demais…

6:00 a.m

Eu não consigo mais suportar, não dá

Uma crise de ansiedade tomou conta de mim, eu mal conseguia controlar meu próprio corpo, soava frio, minha boca estava seca, lágrimas incessantes escorriam por todo meu rosto, me sentia fraco, frustrado, meu coração estava acelerado e minhas mãos repletas de sangue tremiam sem parar. 

Envolvi meus braços nas pernas e assim permaneci a manhã inteira apertando a mim mesmo quando flashs passavam em minha cabeça me gerando mais tristeza. 

7:00 a.m

Por que você teve que partir? Não deveria ter te deixado sair naquele estado… Eu sou o culpado! Deveria ter sido eu a morrer aquele dia… Mas mesmo não tendo sido, uma parte de mim morreu quando te viu naquele estado.

9:00 a.m

Maldito Gatilho

                     André Sánchez 

11:00 a.m 

Finalizamos a investigação, mas não conseguimos muitas respostas quanto ao que estavam fazendo. Me sentia cansado, mas precisava saber como meu amigo estava, já que não atendia minhas ligações. Peguei o carro e dirigi até a casa de Matt.

Primeiramente me surpreendi por sua porta estar destrancada, em seguida, me assustei por ver diversos cacos de vidro no chão, manchas de sangue na parede e gotas do mesmo formando uma trilha até seu quarto. 

– Droga, Matt… O que você fez? Não me diga que...

Deixei minha cautela de lado e corri para encontrá-lo. Matthew estava sentado na cama agarrado em seu próprio corpo com a cabeça baixa e as mãos ensanguentadas. Me aproximei para falar com ele, mas seu corpo estava mole e ao levantar sua cabeça pude ver que estava inconsciente. O ferimento em suas mãos não poderiam ter feito todo esse estrago, então conferi seu ferimento no abdome e vi que os pontos estavam abertos. 

Não possuía conhecimento algum de medicina para cuidar dele naquele estado, acabando por carregá-lo nas costas e levá-lo imediatamente para um hospital. 

Algum tempo depois…

– Acompanhante de Matthew Campbell. – A voz do médico ecoou pela sala de espera repleta de rostos preocupados e esperançosos esperando também uma notícia de suas famílias. 

– Sou eu, André Rodríguez.

– Seu amigo está sedado e medicado. Foi necessário colocar calha gessada em uma das mãos devido a uma fratura no quinto metacarpo, chamada fratura do pugilista, a qual é comumente lesada por socos, como acredito ter sido o caso do seu amigo. 

– Quanto tempo pode levar a recuperação?

– Normalmente, algumas semanas.

– Posso entrar para vê-lo?

– Claro, me acompanhe.

Caminhei com ele até o quarto 404 e encontrei Matt deitado na cama totalmente apagado. Em parte eu queria matá-lo por ter agido de tal forma, mas por outro estava muito preocupado em saber se minhas suspeitas estavam certas quanto as suas atitudes. 

Me sentei em uma poltrona e aguardei até que acordasse para conversarmos.

– Por que me trouxe para um hospital? Sabe minha opinião sobre eles. – A voz dele saía de forma grogue, enquanto se esforçava para abrir os olhos. 

– Você estava inconsciente em casa, o que esperava que eu fizesse?

– Deveria ter me deixado morrer de uma vez. – Ele disse, observando sua mão engessada com desdém.

 Ouvir tais coisas vindo dele era como receber vários tiros pelo corpo.

– Reparou a merda que você está falando? 

– Não dá, cara. Eu não aguento mais sentir isso.

– Até quando vai se culpar pela morte da Scarllet e quantas vezes vou ter que te lembrar que ela é a vilã da história?

– Até me convencer que deveria ser eu a pessoa irreconhecível encontrada carbonizada em uma estrada qualquer. – Ele disse de maneira fria. 

– Ela te destruiu, te traiu. – Comentei, frustrado.

– Se não tivéssemos discutido aquela noite, ela não teria sofrido o acidente. – Sua expressão se tornou de repleta de tristeza. 

– Poderia ter ocorrido em qualquer noite, ter sido no mesmo dia que discutiram não te faz ser o culpado, não foi você quem a matou.

– Eu tive um pesadelo… Com a Caroline… Deve ter sido uma representação do que eu gostaria de ter feito e ouvido por uma última vez, porque aconteceu tudo exatamente como me contaram sobre o acidente. Pareceu tão real… Queria realmente ter tido uma chance de me despedir.  – Seus olhos começaram a lacrimejar ao falar e ele abaixou sua cabeça – Me desculpa… Eu não devia ter feito nada disso, eu sei que regredi no tratamento. 

– Tudo bem, você apenas cometeu um deslize após ter um sonho que acionou seu gatilho. Não se culpe por isso também, porque você estava há anos sem ter crises assim. 

– É, mas esse sentimento não me abandona e só me mantenho controlado por me entupir de remédios, mas dessa vez nem eles foram eficazes. 

– Aí, irmão… Eu te amo. Estou sempre aqui por você, ok? Vamos superar essa situação juntos de uma vez por todas. 

Ele apenas assentiu com a cabeça e não dirigiu mais nenhuma palavra a mim. Imagino que esteja se sentindo envergonhado pelo que fez, apesar de ter pensamentos absurdos sobre morrer. 

Esperei que lhe dessem alta e o levei pra casa. Passei o resto do dia com ele e me comprometi a não deixá-lo sozinho até que se estabilizasse, odiaria que tivesse outra crise. Era possível ver em seu rosto o cansaço, as enormes e fundas olheiras cinzas que estavam formadas abaixo de seus olhos, assim como a vermelhidão aparente de uma madrugada em claro repleta de surtos de choro e raiva.

Estava super cansado também, mas apenas me permiti dormir quando ele pegou no sono e mesmo assim acordei diversas vezes com medo de encontrá-lo como mais cedo.  

Matthew era um homem muito bom, mas esse acidente o fazia desabar, era aquele único motivo que o transformava em alguém que não se orgulhava em ser. Tenho receio em me afastar novamente assim, olha só o que aconteceu enquanto eu estava fora… Dentre todas as vezes que ele se descontrolou, nenhuma foi tão séria quanto essa. Bom… Até teve uma pior, mas eu prefiro deletar da minha mente. Nem posso imaginar o quanto sofreu por reviver tudo, mas ele não pode viver assim para sempre, já fazem 5 anos e ele ainda não parou de se culpar. Preciso cuidar dele… Vou solicitar um pedido de afastamento da agência por uns dias, tempo suficiente para ele melhorar e parar de se torturar. 



Traga o DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora