Capítulo 38 - Desenhos

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A dor sentida é reflexo do que os olhos podem ver. 
O que não é visto, não pode ser medido.
Então eu te pergunto... Prefere sofrer ou se render?

                                                                            ♡  Selene Muniz

Matthew Collin

Iniciei o dia representando no papel um sonho que tive, pois era um costume meu. Após cada sonho que me despertava certo interesse eu o reproduzia como forma de registrar os acontecimentos e não deixar minha habilidade desenhista morrer, pois apesar de toda opressão sofrida por meu pai, sempre gostei bastante de "rabiscar" algumas coisas.

Meus projetos costumavam ser todos sombreados, pois era o estilo que eu mais gostava de fazer. A arte em questão possuía um fundo esfumaçado dando vida à um dia nublado com diversas nuvens acinzentadas. Logo abaixo, destaquei uma mulher sentada em um campo de margaridas envolvendo suas pernas com os braços em tom de sofrimento, tendo ao lado seu marido a abraçando. Os arredores possuíam cerejeiras espalhadas em pontos específicos e uma casa de madeira com um balanço retangular destacava-se na lateral direita do espaço em questão.

– Que desenho foda! – Comentou André, se jogando na cama.

– Valeu. – Retirei meu objeto de apoio das pernas e depositei o desenho em uma pasta preta junto com os outros.

– O que esse significa? 

– O dia nublado refere-se a quaisquer dificuldades que tenhamos de passar, seja emocional, físico ou mental... Onde por vezes nos encontramos sem saída e encazulados dentro daquele momento de dor sem enxergar uma possível saída, mas quando nos permitimos uma aproximação ou a abertura de tais sentimentos, encontramos a paz que tanto precisamos e damos vida ao que tanto insistia em ter seu tom cinza.

– Não sei qual a melhor parte... O desenho ou a mensagem que traz.

– A felicidade está nos detalhes, amigo. O colorido que necessitamos está nos arredores, temos apenas que reconhecer isso. Pode ser tanto em pessoas quanto em objetos ou momentos, tudo depende do que se está enfrentando e a escapatória que poderá aderir para resolver o problema existente na sua situação.

– Porra, acordou filósofo hoje? 

– Babaca! – Falei, rindo. 

– Acho legal que esteja sendo positivo apesar de tudo, prefiro você assim.

– Estou tendo tempo demais para pensar, acabo acarretando boas coisas no processo. 

– Isso é ótimo. 

– Até que sim, a sensação é boa. 

Houve um silêncio momentâneo e logo se dissipou, pois André não conseguia se manter calado por muito mais que alguns minutos. 

– Matt, você lembra do caso 137?

– Sim, tivemos que desmascarar um pedófilo. O que tem ele?

– O cara foi solto recentemente.

– Isso é sério?

– É, mas não faz diferença... Ele sofreu um acidente no dia seguinte ao de sua soltura. – Comentou, indiferente.

– Não posso dizer que sinto pena, pois estaria mentindo. – Dei de ombros. – Mas qual foi o resultado do laudo pericial? – Perguntei, curioso.

– Esmagamento craniano. – Ele riu. – O cara foi tentar estuprar logo a filha de um ex militar, acabou sendo ele a pessoa fodida no processo. 

Traga o DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora