Ao mesmo tempo, caminhamos juntos para a sala do trono. Minha mão ainda dói pelo soco que dei em Ptolemus, mas o orgulho fica acima de qualquer dor. Mantenho minha mão atrás das costas o máximo que posso. O fogo estava tão quente que parte da maquiagem evaporou da minha pele, exibindo as manchas avermelhadas do meu sangue.
À nossa frente, diversos sentinelas e agentes de segurança guardam as portas monstruosas que nos levam para a sala do trono. Lembro de ter feito este caminho antes, e um calafrio percorre minha espinha. Não quero me recordar daquele dia. Nunca mais. Quando passamos por eles, eles nem se mexem. Sequer piscam. Mas nunca baixam a guarda.
Dentro do enorme cômodo, as vozes sobressaltadas dos convidados ecoam por todos os lados. Estão aflitos e nervosos. Querem entender o que está acontecendo. Desta vez, eles estão no seu direito de exigir explicações do rei.
Não sinto que deveria comemorar esta possível "vitória". Não agora. Eu só estaria me rebaixando ao nível dos prateados, sendo cruel e me alegrando com a desgraça alheia. Não sou assim, e jamais serei. Não depois de saber que existe uma minoria que não se importa com a cor do sangue. Lucas, Maven, Julian, Sara, Coriane... São e foram prateados justos, que lutam - ou lutavam - pela igualdade dentro desta sociedade maluca. Devem ser honrados, estando vivos ou não.
Me lembro da bomba.
- Quantos devem ter morrido? - Pergunto para mim mesma, mas Cal responde por achar que eu me dirigia à sua pessoa.
- Dez até agora. Três a bala e sete na explosão - ele me informa de maneira meio burocrática. Como eu, Cal não tira os olhos do chão. - Mas todos serão curados.
Ele aponta na direção dos curandeiros. Correm tão rápido por entre os feridos que se assemelham a lépidos. Perto do trono do rei, os corpos dos gêmeos Lerolan esfriam ao lado do cadáver do pai enquanto a mãe, num choro baixo e angustiante, nunca sai de perto. Sou obrigada a desviar o rosto para não me arrepender mais ainda. Era necessário, Ravenna, era necessário. Os olhos de Reynald e os da coronel refletem na minha mente. Todas essas mortes foram necessárias.
Ao perceber a tensão no meu corpo, Maven toma minha mão escondida atrás das costas. Sabe pelo que estou passando. Provavelmente deve estar se sentindo assim também. Quase todos eram seus amigos. Íntimos ou não.
Junto de seu pai e do irmão, ele me conduz até o nosso lugar ao lado do trono do rei. Cal, em vão, tenta limpar as mãos grudentas de sangue vermelho.
- Acabou o tempo das lágrimas - sua voz cala a todos como num estalar de chicote. - Agora é tempo de honrar nossos mortos, curar os feridos e vingar nossos caídos. Sou o rei. Não esqueço. Não perdoo. Fui calmo no passado, permitindo aos nossos irmãos vermelhos uma vida boa, próspera e digna. Mas eles cospem em nós, rejeitam nossa misericórdia e trazem consigo o pior tipo de destino.
Cerro o punho, indignada por suas palavras. Vida boa, próspera e digna? Sendo escravizados por anos, séculos? E o que é isso que ele chama de misericórdia? Misericórdia esta onde uma criança vermelha faminta tem que roubar para sobreviver e sofre punições severas quando é pega? Que tipo de homem Tiberias pensa que é? Que tipo de soberano justo ele imagina ser?
Com uma expressão irada, ele joga a lança prateada ao chão com sua bandeira vermelha. O sol despedaçado me cega. Eu poderia pegar esta lança e enfiar em seu peito agora mesmo.
- Esses tolos, terroristas, assassinos serão capturados. E morrerão. Juro por minha coroa, por meu trono, por meus filhos: morrerão.
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A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]
FanfictionE se a vermelha que caísse na arena da Prova Real não fosse Mare Barrow, mas sim uma outra sanguenova tão forte e poderosa quanto? Uma garota com poderes de ardente que é capaz de criar as suas próprias chamas? Essa é a história de Ravenna Sylvester...