NOVE

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Sua agenda é a seguinte:

7h30 - Café da manhã

8h - Protocolo

11h30 - Almoço

13h - Aulas

18h - Jantar

Lucas vai acompanhá-la em todos os momentos. A agenda não é negociável.

Sua Majestade,

Rainha Elara da Casa Merandus.


A letra inconfundivelmente perfeita da rainha Elara preenche todo o papel, curta e direta. Minha cabeça dói só de pensar nas cinco longas horas de aulas, principalmente para uma pessoa que quase nunca foi à escola. Ou seja, eu. Nem em Greatwoods tinha esse tanto de tempo letivo. Talvez porque ninguém dava nada pela educação naquele lugar. Mas ainda assim pude aprender alguma coisa antes do incidente que me obrigou a ir embora. Como se fosse justo comparar essas aulinhas com o ensino do palácio.

Amasso o papel e o jogo no chão, não me importando com o fato de que preciso decorar toda a agenda para não me perder. Contudo, no fim, nada fará mais sentido. Tudo vai voltar ao normal, e ninguém mais precisará educar um animal selvagem.

Como de costume, as três criadas que são encarregadas de me maquiar adentram silenciosamente o quarto. Eu não as teria notado se não existisse a porta. Dariam ótimas espiãs.

Nunca pensei que a rotina de uma princesa fosse tão tortuosa. Mais dois potes daquele produto se foram, todo o conteúdo espalhado sobre a minha pele. Mas isso foi o de menos. Ainda tive que travar uma batalha árdua contra as vestimentas que me transformam numa nobre. Calças justíssimas que quase travaram a circulação de sangue nas minhas pernas, um vestido drapeado que me impossibilitou de respirar e estranhos sapatos que mais pareciam piranhas devorando os meus pés. No fim, optamos por algo mais simples: calça preta, botas muito bem engraxadas e uma camisa vermelha-alaranjada com traços costurados nos formatos de pequenas chamas e botões perolados.

Forço um sorriso para o espelho. Mesmo com a pele pintada e com o cabelo meticulosamente penteado, eu consigo me enxergar no reflexo. Eu ainda estou aqui. Eu ainda existo.

As criadas se curvam numa estranha despedida, e saem do quarto. Olho para o pequeno relógio sobre uma cômoda e percebo que já está na minha hora.

Ao sair do quarto, me deparo com Lucas me esperando. Como naquela cela, ele é a tranquilidade em pessoa. Ousa até dar um sorrisinho, o que me incomoda um pouco. Nunca que um guarda seria tão gentil assim. Principalmente quando se trata de ficar de olho em uma criminosa todos os dias.

- Um minuto atrasada - ele diz, me guiando pelo longo corredor.

- Você vai mesmo ficar no meu pé? - Pergunto sem olhá-lo.

- O que você acha?

- Acho que esse será o início de uma bela e significativa amizade, oficial Samos - toco o seu ombro sem me importar com a educação.

- Penso o mesmo, Lady Calore.

Reviro os olhos ao ouvir o título.

A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora