CINCO

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Princesa Raven Calore, filha do rei Tiberias Calore VI e da rainha Elara Merandus. Futura herdeira da coroa flamejante. Raven Calore. Calore...

O novo nome teima em me assombrar dentro da minha própria mente. Fico me perguntando se Elara não está contribuindo com isso apenas para me fazer surtar. Mas eu sei que não é ela, apesar da sua técnica ser perfeita. Esses medos são meus, esse título é meu, essa vida será minha. E nem os murmúrios da rainha poderão mudar o meu destino.

Durante longuíssimos minutos, as criadas me prepararam para o meu fim. Me banho e me vestem uma seda fina, que ainda não são as verdadeiras roupas que usarei hoje. As três não falam nada. Não tem a permissão de abrir a boca para perguntar; até segundos atrás, pensei que o pior fosse ficar presa dentro de um círculo silencioso agonizante. Mas mudo de ideia quando as criadas começam a passar um tipo de produto grosso sobre a minha pele. Dois potes se foram, assim como a essência do meu sangue vermelho. Elas fingem não notar o que é impossível não ser notado num vermelho. Tingem meu rosto, meu pescoço, o colo e os braços. Olho rapidamente o resultado no espelho. Elas me deixaram mais pálida do que já sou normalmente, e isso me assusta. Pareço um cadáver ambulante, como se a vida tivesse sido drenada de mim.

Quase tenho certeza quando me botam num vestido de gala emaranhado de tecidos caríssimos. Vermelho, prata e preto. As cores da Casa Calore. A minha nova Casa. O ar some de meus pulmões. A garota que está refletida no espelho não sou eu. Ela é prateada agora, a filha de uma Grande Casa. Ravenna Sylvester jamais se rebaixaria ao nível hediondo dos prateados. Ela fugiria. Se esconderia. Sumiria das vistas do rei.

Porém, Ravenna Sylvester não existe mais.

Há apenas Raven Calore, filha de Tiberias VI. Ela é linda, prateada, poderosa, fria. E eu odeio isso. A pequena tiara de prata reluz sobre o penteado difícil do meu cabelo. Até ontem ele estava completamente embaraçado e eu pouco me importaria. Mas as palavras da rainha Elara ecoam como uma lembrança dolorosa. Um passo em falso e sofrerá as consequências. Isso consiste do mais mínimo detalhe na aparência. Eu tenho que ser perfeita, meticulosa. Ou eu morro.

Mais uma vez o silêncio me incomoda. Mas não por causa da mudez das minhas criadas. Elas pararam de fazer as suas obrigações por algum motivo inaparente por mim. Viro-me na cadeira e dou de cara com as três curvadas em uma reverência intensa. Na porta, está o príncipe herdeiro. Usa um terno de gala com as mesmas cores que o meu vestido. Suas medalhas brilham, tilindam umas com as outras, causando uma raiva tremenda dentro de mim. Ele não merece essas medalhas.

Cal faz um movimento com a mão assim que as criadas retornam à sua postura. Quer conversar comigo à sós.

Elas entendem o recado e saem imediatamente da presença do príncipe.

- Até que as cores combinaram com você.

- O que faz aqui, alteza? - Pergunto antes de ouvir a sua voz. - Sei que não é nada apropriado você estar aqui, no meu quarto.

Cal me estuda. Me observa. Não estou diferente dele. O que me surpreende é a sua tremenda burrice de ficar à sós com a garota que quase acabou com a sua vida. Mas, como o pai, ele finge não se importar com o perigo. Não vejo os sentinelas ao seu encalço, muito menos sinto os meus poderes serem enfraquecidos por uma possível Pedra Silenciosa. Agora seria uma oportunidade perfeita.

- Sabe que agora pode me chamar só de Cal, Raven...

- Ravenna - O corrijo bruscamente, quebrando o contato visual. - Meu nome é Ravenna.

- Até que "Raven" dará um apelido adequado. - Cal dá de ombros. Para ele, pode parecer uma grande bobagem. E isso me irrita profundamente, porque não é ele está sendo sustentado por uma mentira que pode lhe custar a vida.

A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora