CATORZE

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Eu pensei que a sensação de pisar no salão de treinamento fosse boa, afinal, é minha primeira vez vindo aqui. Pelo visto, me enganei novamente. Este lugar, de alguma maneira, me deixa impotente. Me sinto pequena diante de todo este cenário.

O piso é meio emborrachado, amortecendo meus passos pesados e meio desesperados. A luz do sol, ainda que esteja transpassada por uma orla de vidro, machuca meus olhos, me obrigando a fechá-los por uns segundos. Há dezenas de janelas que dão a vista perfeita da longa pista de corrida que desenha toda a extensão do salão. É bem provável que, numa delas, Lady Blonos esteja me observando, rindo ao saber que hoje é o meu primeiro dia na tortura.

Outra vez, a ironia se faz presente. Tudo que eu mais queria era ficar longe das concorrentes da Prova Real, principalmente dos outros prateados. Agora cá estou eu, indo diretamente para o grupo de adolescentes poderosos e mortais que só estão esperando um sinal para começar a se exibir.

E, para minha infelicidade, Evangeline lidera um desses grupos.

Parece que o meu traje de treinamento — entregue por um dos criados — ficou desconfortável de repente.

A magnetron também nota minha presença, abandonando um equipamento de levantamento de peso apenas para me importunar. Eu mal chego no meio do salão quando Evangeline decide abrir a maldita boca.

— Já completou as aulas de protocolo? Finalmente dominou a arte de sentar de pernas cruzadas? — Ela zomba ao se aproximar. Percebo que seu longo cabelo platinado está preso numa trança complicada. Se não fosse pelas lâminas mortais presas na sua cintura, eu poderia muito bem incinerar esses fios escorridos. E com gosto.

Seu traje exibe as cores de sua Casa. Preto e prata. Mas isso não a torna intimidadora. Não para mim, que dou de ombros e luto para manter um sorrisinho irritante o bastante no rosto.

Um dos sinais de que Evangeline se incomodou comigo é ver a aproximação das suas duas seguidoras fiéis: Sonya Iral e Elane Haven, dois escudos de falso poder. Parecem ser pagas para bajularem a futura rainha, pois a seguem como cachorrinhas leais à dona. Ambas, assim como Evangeline, me olham com desprezo, se assemelhando a felinos sagazes. Quase rio. Mal sabem elas que sempre tenho uma carta na manga.

Faço uma careta de inocência.

— Talvez, ao contrário de você, não é, Evangeline? Já se olhou no espelho? — Esgarniço, imitando sua voz. Sua aparência suada me dá uma boa jogada. — Está parecendo uma maluca com esse cabelo desgrenhado e essa roupa encardida. Vai tomar um banho e aprender a se portar como uma dama de verdade para depois vir falar comigo, ok? Lady Blonos ficará muito feliz em te ver de novo.

Suas bochechas ficam mais pálidas do que o normal. Elane e Sonya ficam mudas; não podem ajudar "sua rainha" com palavras, a não ser um calmante. Pisco jocosamente para as três e dou as costas, indo em direção a única pessoa que, estranhamente, quero ver desde ontem: Maven.

Ele sumiu, evaporou durante um dia inteiro. Não obtive notícias, mas estava claro o quanto Maven ficou mal. Ainda está, na verdade. Ele está sentado no canto do salão, isolado e quieto. Deixado de lado. Vou até lá, e os sussurros fervorosos de outros jovens me perseguem. Eles me observam, me apontam e eu luto para ignorá-los. Se não me engano, uns falam sobre minha pequena rixa com Evangeline, de como consegui destruí-la com apenas palavras. Como Elara. Minha mente complementa automaticamente. Não. Cerro os punhos. Jamais serei igual àquela cobra.

— Demorou, hein? — Ele brinca ao ver minha aproximação. — Se não conhecesse você, diria que está tentando ficar longe de nós. — Sento-me ao seu lado, sendo seguida pelos seus olhos incrivelmente azuis.

A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora