Algo se mexeu dentro dos cobertores brancos da maca metálica de Aurora, esta inspirou profudamente presentindo a presença do cheiro do shampo de Sara no ar, conseguia ouvir o ressonar de pessoas, as conversas e lamentos das enfermeiras madrugadoras, o som das máquinas a reproduzir os ritmos cardíacos dos pacientes.
Algo se movera novamente. Aurora reparou que embrulhava algo nos seus braços, algo pequeno e magro, mas delicado e doce. Era a pequena e doce Sara, que dormia irrequietamente. As voltas que Sara dava na cama eram cada vez mais repetitivos e sistemáticos.
- Não! - gritou a criança, sentando-se rapidamente e endireitando as costas num somente gesto simples e sóbrio.
Sara com lágrimas nos olhos olhou em redor, assim que Aurora entrara no seu campo de visão esta agarrou-se à mesma, apertando-a contra os seus barços. Aurora sem saber o que fazer abraçou igualmente a pequena Sara, acariciando-lhe os cabelos.
Quando Sara deslargou Aurora, as lágrimas escorriam-lhe pelas faces rosadas. Quando os soluços abrandaram, Aurora limpou-lhe as restantes lágrimas com o polegar, e colocando o seu sorriso mais reconfortante e amável possível, perguntou calmamente:
- Que se passou, princesinha?
- Eu...tive um...pesadelo. - disse ainda um pouco entre soluços e enrolando-se nas palavras.
- E o que aconteceu nesse pesadelo?
- Tudo recomeçou... - respondeu fongando. - Nós...eu...tu...o Henrique...outra vez naquele carro... - disse recomeçando novamente a chorar.
Enquanto Sara afogava as mágoas nos braços de Aurora, o médico veio ao seu encontro. Apercebendo-se da sua presença ambas as raparigas se recompuseram.
- Bom dia.
- Bom dia. - cumprimentaram em coro.
- Como estão?
- Bem.
- Sempre posso ir ver o meu amigo? - perguntou Aurora.
- Sente-se bem? - perguntou o médico.
- Com exceção às dores na mão estou bem.
O médico pensou no assunto durante escassos segundos, mas de seguida acentiu com a cabeça.
- Venham comigo.
O rosto de ambas enradiou-se, e num pulo, estavam fora da cama, seguindo o médico saíram do quarto onde estavam, seguiram pelo corredor até chegarem ao elevador. O médico carregou então no botão cizento onde estavam inscritos CI (cuidados intensivos).
O andar onde pararam era mais sombrio que o anterior, os rostos das pessoas eram de aflição e tristeza. Seguiram pelo corredor principal, algumas portas encontravam-se entreabertas o que deu a oportunidade a Aurora de observar o seu interior. A imagem que vira arrepiara-a, dentro do quarto encontrava-se uma enfermeira, uma senhora e um homem ligado a máquinas. A senhora chorava, a enfermeira colocou-lhe a mão no seu ombro com um olhar de tristeza para de seguida tapar o rosto do senhor com o cobertor, estava morto.
Aurora começou a imaginar se o mesmo acontece-se a Henrique, a ideia aterrorizava-a, não podia acreditar, o que faria ela?
- Aurora, estás bem? - perguntou Sara.
A visão da Aurora tornou-se turva, mas Aurora reparou no médico a virar-se para ela e a correr, o som parecia-lhe vindo de longe e tudo decorria muito lentamente.
- Aurora! - gritou a pequena Sara, antes de Aurora se deixar cair no chão, sem sentidos, desmaiada e sem forças.

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a cor da vida
Teen FictionA história de uma rapariga de 16 anos, que foge para Londres onde faz um amigo para a vida e onde desenvolve o seu conhecimento e paixão pela música e pelas artes.