Aurora, respirava, lentamente, como se a respiração lhe fosse faltar a qualquer instante. Ergueu, lentamente, o olhar, os seus olhos turquesa percorreram o chão do elevador, a parede cinzenta e por fim o espelho, deparando-se, assim, com o seu reflexo. Envergava, umas calças de ganga rotas no joelho, um top branco, cor de pérola, feito de renda. Inspirou novamente, segurou o ar, ergueu mais um pouco a cabeça de modo a inspirar confiança na sua postura e olhar, e expirou. Deu uma volta de 180 graus de modo a ficar de costas para o espelho e de frente para as portas que corriam do elevador cinzento, ainda com a cabeça erguida. As portas correram, cada uma para o seu lado, e do outro lado, para além daquela grandes e pesadas portas metálicas, estava a sua família, a pequena Sara e Henrique, esperando-a. Ao lado da mão e sobre a sua mão delicada, encontrava-se na vertical, o seu violoncelo, ou o saco onde este estava contido. Ao olhar para este objeto que constituiu parte da sua vida, o seu escape da vida real, o seu sonho, Aurora, relembrou-se, um conjunto de imagens do passado que tinha passado com este objeto passaram pela sua mente.
- Estás bem? - perguntou Henrique, num tom atencioso.
Aurora voltou à realidade, percebeu que estivera especada a olhar para o seu violoncelo, olhou para Henrique.
- Sim. - disse no seu sorriso mais sincero.
Uma enfermeira de meia idade, abordou a família.
- Bom dia, Menina Aurora? - perguntou num sorriso amável. - O médico está á sua espera, podem seguir-me?
Toda a família acenou positivamente com a cabeça, posto isto, todos seguiram a enfermeira. Passaram pelos longos corredores do hospital, todos eles pintados de brancos, em todos eles percorriam médicos e enfermeiros, uns a correr, outros a andar e outros a discutir os diversos casos que tinham em mão, também passavam pessoas, vulgares pessoas, umas sorridentes outras inconsoláveis, havia ainda quartos, todos com a mesma estrutura mas, cada um continha uma história diferente, uma história por cada pessoa, por cada família que por lá passava. Toda a família seguiu atrás da enfermeira de baixa estatura, por o vasto leque de corredores do hospital, mas finalmente chegaram à sala de exames, lá encontrava-se o médico que operara a mão de Aurora quando esta lá chegara, um fisioterapeuta e por último um psicólogo.
- Bom dia, Aurora. - cumprimentou o médico.
- Bom dia. - respondeu Aurora'.
- Estes são os médicos que nos vão auxiliar neste exame, o nosso fisioterapeuta Sr. John e o nosso psicólogo Sr. David.
Aurora cumprimentou ambos os médicos, com um aperto de mão, entretanto a família de Aurora, Henrique e Sara tinham ficado à espera na sala de espera, a ler as chatas e aborrecidas revistas cor de rosa que todo o mundo aparenta ler nas salas de espera mas simplesmente leem as letras gordas e os títulos apelativos.
Dentro da sala de exames, o médico de Aurora retirava as ligaduras do braço de Aurora, enquanto sob as ordens de Aurora a enfermeira retirava cuidadosamente o violoncelo de dentro do saco, pronto para ser utilizado para o exame de Aurora. No fim do médico remover todo o tecido inorgânico do braço de Aurora, esta levantou-se de modo a ajudar a enfermeira atrapalhada.
Aurora agarrou com a mão direita o braço do violoncelo. Sentou-se na cadeira almofadada. Respirou profundamente, e delicadamente foi baixando o braço direito de modo a que o violoncelo ficasse apoiado no seu ombro. Respirou profundamente uma vez mais. Todo o processo era elaborado calmamente. Ainda com a mão direita agarrou o arco, e colocou-o sobre as cordas de metal do instrumento. Muito levemente, fez o arco deslizar sobre as cordas, produzindo um ruído quase inaudível, sabia que este estava desafinado mas naquele momento isso era um mero pormenor.
- Aurora, podes por favor, tocar alguma coisa para nós. - pediu o médico, com intenção de esta utilizar a mão esquerda, de modo a prosseguirem com o exame e obterem algumas respostas.
Aurora assentiu, começou então a erguer a mão esquerda, que até ali tinha estado sempre para baixo. Colocou o indicador no sítio devido, tinha que pressionar a corda para esta obter o som que esperava quando fizesse o arco deslizar pela mesma corda em que o dedo se encontrava. Nada a impedia, a não ser a própria mente. Olhou para os três médicos que a olhavam, esperando algum movimento.
Aurora começou então a pressionar a corda, cada vez com mais pressão...
- Tragam uma maca!
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a cor da vida
Teen FictionA história de uma rapariga de 16 anos, que foge para Londres onde faz um amigo para a vida e onde desenvolve o seu conhecimento e paixão pela música e pelas artes.