" Onde é que estou?"
Aurora entreabriu os olhos a custo, sentia-se dorida, zonza e desnorteada. As luzes brancas penetraram-lhe na córnea, não conseguia distinguir o que a rodeava com nitidez. Não se moveu, simplesmente continuava a tentar abrir os olhos e a focar o plano geral do espaço onde se encontrava. Conseguiu focar aquilo que se encontrava exatamente à sua frente, uma parede branca, com um relógio redondo pendurado na mesma, estranhamente só apresentava o ponteiro das horas, esta imagem era-lhe familiar. Olhou em redor, à sua volta estavam macas, pessoas de bata branca, e mais pessoas mas desta vez deitadas em macas e com batas brancas com bolinhas azuis de raio de 2 contímetros abertas atrás.
Aurora tentava perceber agora um plano mais perto de si, estava alguém a segurar-lhe a mão direita, e sentia uma gota de um líquido a escorregar por essa mesma mão. Reparou que a estatura dessa mesma pessoa era pequena, usava tranças e uma bata igual à dela. A criança levantou a cabeça, com os olhos cobertos de lágrimas, a sua face estava vermelha e molhada, mas a criança sorria.
- Aurora! - gritou. - Ainda bem que acordaste!
Aurora sorriu por ver uma cara conhecida, mas uma pequena lágrima escorreu pelo seu rosto. Sara, saíu do abraço e olho-a nos olhos, contente por a amiga estar relativamente bem.
- O que aconteceu? - perguntou confusa Aurora. - Porque é que estamos aqui? Porque é que estou numa maca de hospital? Tu estás bem? O Henrique? Onde está o Henrique? - as perguntas não paravam de surgir e Sara continuava sem responder quando desatou num pranto.
Numa tentativa de reconfortar a criança que ainda estava em estado de choque, Aurora abraçou-a, Sara escondeu a sua cara na curvatura do pescoço da amiga, esta passava-lhe com a mão direita na cabeça sussurrando que ia tudo ficar bem.
Nessa altura, um homem alto, de cabelo acastanhado, olhos cor de avelã, bata branca dirigiu-se a ambas as raparigas.
- Menina Aurora, fico feliz por já ter acordado. - disse, dando um pequeno sorriso.
- O que é que aconteceu?
- A menina e os outros dois índividuos que vinham no carro tiveram um acidente de aviação, embateram contra um camião.
O estado de Aurora era de choque, não conseguia processar as palavras proferidas.
- Felizmente, todos sobreviveram.
Aurora sentiu um alivio, ainda que pequeno, continuava com diversas perguntas sem resposta na sua mente, mas decidiu esperar que o médico terminasse a sua explicação.
- A menina Sara, foi a que saiu mais ilesa, com alguns cortes nos braços e na cara, como consequência aos vidros partidos.
Aurora virou a face em direção à pequena Sara e reconheceu esses mesmos cortes.
- A menina Aurora, partiu uma costela, e feriu gravemente a sua mão esquerda.
Foi nesses momento que Aurora se lembrou de tudo, estavam os três no carro, Sara estava a cantar, Henrique voltou-se para lhe fazer cócegas, a buzina, as luzes e... não se lembrou demais nada. Respirou fortemente, numa tentativa de recuperar o folego e assimilar toda aquela informação. Olhou para a mão engessada, e vieram lhe lágrimas ao olhos.
- Fizemos tudo o que podíamos para recuperar o máximo da mobilidade possível mas não com muito sucesso.
Aurora estava fixada no médico, não conseguia acreditar, tentou mexer a mão esquerda, mas uma dor alucinante se fez sentir.
- Com a fisioterapia é possível que consiga recuperar 20% do movimento.
- Vinte por cento?! Isso quer dizer?! Que...eu... - as palavras estavam presas na garganta.
- A menina Sara, informou-me da sua atividade de violoncelista, infelizmente não lhe será possível voltar a tocar.
- Não! Não! Não! - Aurora gritava, lágrimas escorriam pelos seus olhos. - Não pode estar a falar a sério!
- Tenho muita pena.
Aí o mundo de Aurora desabou, o chão caíra e ela não tinha nada a que se agarrar. Entre soluços incontroláveis, Aurora perguntou ao médico que estava a dar instruções à enfermeira:
- E o Henrique? Como é que ele está?
- O menino Henrique foi o que mais sofreu neste acidente. Na tentativa de vos salvar, virou o carro num ângulo em que o camião lhe acertou gravemente. Partiu a coluna vertebral e um braço, tem diversos cortes por todo o seu corpo, mas nenhum profundo.
- Isso quer dizer que ele está paralisado? - perguntou Aurora.
- Sim. - confirmou. - O menino Henrique não consegue mexer o corpo da cintura para baixo.
Aurora não queria acreditar, isto não podia estar a acontecer, simplesmente não podia.
- A Angela e os rapazes estão lá fora, o meu pai está com o Henrique. - informou Sara.
- Já ligamos aos seus pais e eles estão no avião para cá neste preciso momento.
Aurora acentiu com a cabeça, tinha que ser forte especialmente por Henrique, mas não estava a ser fácil especialmente sabendo que nunca mais poderia voltar a tocar.
- Eu quero vê-lo. - pediu Aurora.
- Neste momento, é impossível, mas se amanhã a menina estiver melhor, concederei esse seu desejo.
- Obrigada.
- Não tem que agradecer. - disse preparando-se para deixar novamente ambas as raparigas sozinhas.
- Posso só lhe pedir mais um favor?
- Diga?
- Trate bem dele, sim?
- Faremos os possíveis.
- E os impossiveis também.
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a cor da vida
Подростковая литератураA história de uma rapariga de 16 anos, que foge para Londres onde faz um amigo para a vida e onde desenvolve o seu conhecimento e paixão pela música e pelas artes.