9 Months of Trouble

Capítulo 1

Acordar naquele dia foi particularmente mais alegre que os últimos meses. O primeiro dia de férias na vida de qualquer adolescente era incrível, o fato de acordar mais tarde, por si só, já deixava o dia mais bonito.

Apesar de ainda ter um trabalho de meio período, suas obrigações diárias em casa e ter que ir à igreja quase todas as noites, Ana sentia aquela crescente sensação de felicidade pela chegada do verão.

Ana Wentworth era a caçula de três irmãs, uma garota calma, meiga e extremamente dócil. O tipo de garota que o seu sorriso não precisa mostrar todos os dentes, apenas um leve repuxar nos lábios, para ser adorável. Não tinha uma natureza falante como sua irmã mais velha, Eva, mas suas poucas e comedidas palavras já eram o bastante para qualquer um simpatizar com ela.

Ana vinha de uma família extremamente conservadora, seu pai era pastor e sua mãe uma dona de casa ímpar, como você já não se via mais nos tempos de hoje, mais dedicada impossível ao lar e a sua família.

O lema daquela casa, proferido pelos seus pais desde o dia que nascera, e que era respeitado e seguido à risca era "Servir à Deus, honrar a família e ser um exemplo aos outros." Para George, o patriarca, nada era mais admirável do que seguir a caminhada da vida como o Senhor deixava claro nos mandamentos, ter um sobrenome honroso, um sobrenome o qual ninguém duvidava ser de extremo respeito e um modelo a seguir. Wentworth era definitivamente um desses sobrenomes.

Todos na pequena cidade de Laurel, no Mississipi, conheciam aquela família, de honra inquestionável. Um pastor simpático, uma esposa adorável e dedicada e três filhas bem encaminhadas. 

Eva, a mais velha, apesar de estar na flor da juventude com apenas 25 anos, já era mãe do pequeno Samuel, de três anos, e já estava à espera de uma menininha, a quem, por influência do pai, já tinha escolhido até o nome: Rebecca. Não era coincidência todos os nomes femininos daquela família serem bíblicos, George era um homem bastante fiel a sua crença. 

Eva tinha se casado bem jovem, com apenas 19 anos, o marido, Daniel, era um rapaz de boa família, frequentadores assíduos na igreja de George, uma família de sobrenome honroso, os McLane. Daniel era herdeiro de uma rede de lojas de material de construção, bem conhecida pela região, e pretendente o qual o pastor escolheu à dedo para a primogênita.

Bastou uma pequena reunião amigável entre os Wentworth e os McLane, algumas piadas de como Daniel estava um "moço bonito" e de como Eva era uma "garota encantadora", incentivos aparentemente inocentes para Eva ajudar Daniel com as leituras da bíblia e pronto, os dois começaram a namorar e dois anos depois veio o casório.

Foi uma festa realmente linda, Eva estava impecável com seu vestido rendado que lhe cobria os braços, cabelos minuciosamente presos num coque, maquiagem leve que realçava seus belos olhos verdes e um sorriso sincero e doce. Sinceramente feliz. Eva amava Daniel, era inegável. 

Ana constantemente se perguntava se sorriria para o esposo do mesmo jeito, daquele jeito apaixonado, que você mal nota, mas que sempre está lá quando você vê o dono das batidas descompassadas do coração. Eva teve sorte de amar verdadeiramente o pretendente que o pai arrumara, Ana se perguntava se teria a mesma sorte.

Não era segredo pra ninguém daquela família que o pai faria de tudo para ver suas meninas com maridos aprovados por ele, homens de bem, nem que isso o fizesse escolher por elas.

Depois de dois anos veio à notícia da gravidez da mais velha. Foi uma festa. Era maravilhoso ver aquela aura de felicidade que pairava sobre os Wentworth com a novidade da renovação da família. A cada mês que se passava, Ana admirava o progresso da barriga de Eva. Ela achava tudo àquilo fascinante, ter uma vida nascendo dentro de alguém, dois corações batendo num só corpo. Sentir os chutes na barriga da irmã, então, era inexplicável. Ana nem conseguia imaginar o amor que Eva devia sentir por aquela pessoinha, que nem era conhecida, mas que já emanava amor de dentro dela.