Luto II

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Cheryl B. Topaz – Point Of View

Como previsto, assim que retornamos para Seattle, minha esposa entrou em sua bolha onde não parecia haver espaço para mim. Nós dormimos juntas, comemos juntas, mas tudo que conversamos são assuntos cotidianos e curtos. 

Toni virou uma pedra de gelo após sair de Los Angeles sem muito contato com sua mãe e irmã, ela estava brava por nenhuma das duas aceitar vir morar conosco. Por vezes, me via tentando compreender o que passava na cabeça da minha mulher, mas claramente não é nada que cogitei porque tudo que penso não chega a uma conclusão que a faça estar sendo tão irredutível.

Os dias foram passando, não queria lhe pressionar para fazê-la desabafar, eu sei o quanto seria ruim para nossa relação se não acabasse bem. No segundo dia após nossa volta, Toni já estava novamente frequentando a academia como se nada tivesse acontecido, focando toda sua dor e tristeza nos treinos. 

Me via completamente sem saída, desejando retornar ao trabalho para ocupar minha mente e não pensar em como tudo está tomando um caminho ruim, a maneira que sinto falta da minha esposa e no quanto parece ter esquecido do nosso maior passo até hoje. 

A fertilização.

Literalmente penso em nosso futuro bebê vinte e quatro horas, o dia para fazermos o teste estava cada vez mais perto e me senti com medo de tocar no assunto com Toni. E se ela não quisesse saber? Ou me achasse uma idiota porque não estou respeitando seu luto? Claramente iria surtar. 

Então o dia em que fez três semanas que implantaram os óvulos fecundados em meu útero chegou. Quando acordei naquela manhã a Toni já não estava mais na cama e eu entendia. Hoje também faz uma semana que seu pai faleceu. O destino é realmente muito cruel com nós, não sabia que maneira chegar até ela pra dizer que é o dia de fazermos o teste, aquele que sempre estive tão ansiosa. 

— Bom dia, Debora. 

Desejei a mais velha, enlaçando o robe em meu corpo antes de sentar na mesma cadeira de sempre. Encarei a mesa repleta de variedades, mas focando na ausência da minha esposa.

— Bom dia, querida. – sorriu, sentando a minha frente. — Não vai para a escola hoje? 

— Não. 

Pressionei os lábios, servindo meu café.

— Toni foi para a academia? 

— Quando cheguei já havia saído. 

Deu de ombros. 

— Imaginei.

Balancei minha cabeça em negação, tomando um gole do líquido quente e sentindo minha mente começar a trabalhar para insinuar que Toni não estava mais tão animada com a gravidez. 

— Aconteceu alguma coisa? 

Debora franziu a testa.

— É só que... – mordi o lábio. — Hoje fazem três semanas da fertilização. 

— Oh, dia de fazer o teste? 

A mais velha sorriu em animação.

— Sim, mas a Toni nem se lembra. – coloquei a xícara acima da mesa, o meu indicador tocava na alça da mesma. — E hoje faz uma semana que o meu sogro morreu. 

— O teste com certeza dará positivo, será uma boa notícia para ela.

— E se não for? 

Encarei Debora, a insegurança tomando conta.

03 [ beyond the love - choni ]Onde histórias criam vida. Descubra agora