33.2

7.2K 774 246
                                    

✾✾✾

— Bom... Podemos falar agora? – perguntei quando parei a caminhonete em um pequeno mirante próximo ao acostamento, na estrada.

Harry continuou olhando pelo para-brisas, mas algo me dizia que ele não estava enxergando as montanhas à nossa frente.

Ele negou com a cabeça e puxou os lábios pra baixo, relutante.

— Eu não devia ter deixado isso acontecer... Você e ele.

Engoli em seco, sem tirar os olhos do seu perfil concentrado.

Os poucos raios de sol daquele dia nublado refletiam em seus glóbulos como brasas, desenhando a agonia queimando nos olhos de Harry.

— Isso não estava no seu controle, Harry... Você e eu não tínhamos nada quando aconteceu.

Não sei se temos alguma coisa agora.

— Eu tinha medo que... – franziu o cenho e olhou pra baixo. — Eu tinha medo que você percebesse que ele era melhor do que eu.

— Harry...

Ela percebeu – subiu os olhos agoniados até os meus. — Zayn foi o filho que eu nunca pude ser. Ele tomou isso de mim e a pior parte é que eu não posso nem culpá-lo... Deus, seria tão mais fácil se eu pudesse odiá-lo. Isso me deixa com raiva, frustrado...

Fiquei em silêncio, dando espaço para que ele se abrisse, atenta a tudo o que ele estava disposto a compartilhar comigo.

— E então a fazenda... Você... Ele toma tudo.

— A fazenda? – estranhei, percebendo os traços de Harry vacilarem.

Ele voltou a me encarar, parecendo receoso.

— Melissa, eu não quero que você passe a me olhar de outro jeito, mas eu preciso te contar algo...

— Você pode confiar em mim – assenti levemente, tentando passar conforto para o garoto ao meu lado.

Harry respirou fundo, relutante. Eu senti que ele usou toda a força e coragem em seu corpo para puxar o ar e finalmente se abrir comigo. Passando por cima da sua dificuldade e do seu receio em me perder.

— Foi... Foi logo depois da morte da minha mãe. Eu estava... perdido. Tentando afastar todo mundo, mas Zayn insistia em não desistir de mim... – começou em um sopro baixo que me deu arrepios, seus olhos perdendo o foco enquanto ele parecia estar revivendo alguma memória.

— Me deixa em paz! – falei alto, cansado de escutar aquelas besteiras.

Eu só queria ficar sozinho! Por que ele não me deixava sozinho?

— Olha pra você! – franziu a testa e balançou a cabeça, me olhando de cima a baixo como se me recriminasse. – Esse não é você, Harry!

— Você não pode me dizer quem eu sou! Só sai da casa, me deixa em paz! – repeti, sentindo as veias saltadas em completa raiva enquanto eu tentava focar a visão em alguma coisa, mas tudo rodava à minha volta.

Frustrado, me joguei no sofá e acabei derramando um pouco da vodka no chão, mas pro inferno se eu ligava para aquilo.

— É claro que eu sei quem você é. Eu te conheço a droga da minha vida inteira! – insistiu, se mantendo em pé e me observando atentamente. – Nós somos melhores amigos!

Quase ri do seu esforço em tentar achar alguma esperança para mim. Ele sempre foi assim... Desde quando éramos moleques. Sempre tentando achar o que havia de melhor nas pessoas. Mas daquela vez ele estava errado... Nós não éramos melhores amigos, não éramos nada. Porque aquele Harry estava morto, junto com ela.

Fuck Me [HS]Onde histórias criam vida. Descubra agora