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— Bom... Podemos falar agora? – perguntei quando parei a caminhonete em um pequeno mirante próximo ao acostamento, na estrada.
Harry continuou olhando pelo para-brisas, mas algo me dizia que ele não estava enxergando as montanhas à nossa frente.
Ele negou com a cabeça e puxou os lábios pra baixo, relutante.
— Eu não devia ter deixado isso acontecer... Você e ele.
Engoli em seco, sem tirar os olhos do seu perfil concentrado.
Os poucos raios de sol daquele dia nublado refletiam em seus glóbulos como brasas, desenhando a agonia queimando nos olhos de Harry.
— Isso não estava no seu controle, Harry... Você e eu não tínhamos nada quando aconteceu.
Não sei se temos alguma coisa agora.
— Eu tinha medo que... – franziu o cenho e olhou pra baixo. — Eu tinha medo que você percebesse que ele era melhor do que eu.
— Harry...
— Ela percebeu – subiu os olhos agoniados até os meus. — Zayn foi o filho que eu nunca pude ser. Ele tomou isso de mim e a pior parte é que eu não posso nem culpá-lo... Deus, seria tão mais fácil se eu pudesse odiá-lo. Isso me deixa com raiva, frustrado...
Fiquei em silêncio, dando espaço para que ele se abrisse, atenta a tudo o que ele estava disposto a compartilhar comigo.
— E então a fazenda... Você... Ele toma tudo.
— A fazenda? – estranhei, percebendo os traços de Harry vacilarem.
Ele voltou a me encarar, parecendo receoso.
— Melissa, eu não quero que você passe a me olhar de outro jeito, mas eu preciso te contar algo...
— Você pode confiar em mim – assenti levemente, tentando passar conforto para o garoto ao meu lado.
Harry respirou fundo, relutante. Eu senti que ele usou toda a força e coragem em seu corpo para puxar o ar e finalmente se abrir comigo. Passando por cima da sua dificuldade e do seu receio em me perder.
— Foi... Foi logo depois da morte da minha mãe. Eu estava... perdido. Tentando afastar todo mundo, mas Zayn insistia em não desistir de mim... – começou em um sopro baixo que me deu arrepios, seus olhos perdendo o foco enquanto ele parecia estar revivendo alguma memória.
— Me deixa em paz! – falei alto, cansado de escutar aquelas besteiras.
Eu só queria ficar sozinho! Por que ele não me deixava sozinho?
— Olha pra você! – franziu a testa e balançou a cabeça, me olhando de cima a baixo como se me recriminasse. – Esse não é você, Harry!
— Você não pode me dizer quem eu sou! Só sai da casa, me deixa em paz! – repeti, sentindo as veias saltadas em completa raiva enquanto eu tentava focar a visão em alguma coisa, mas tudo rodava à minha volta.
Frustrado, me joguei no sofá e acabei derramando um pouco da vodka no chão, mas pro inferno se eu ligava para aquilo.
— É claro que eu sei quem você é. Eu te conheço a droga da minha vida inteira! – insistiu, se mantendo em pé e me observando atentamente. – Nós somos melhores amigos!
Quase ri do seu esforço em tentar achar alguma esperança para mim. Ele sempre foi assim... Desde quando éramos moleques. Sempre tentando achar o que havia de melhor nas pessoas. Mas daquela vez ele estava errado... Nós não éramos melhores amigos, não éramos nada. Porque aquele Harry estava morto, junto com ela.
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Fuck Me [HS]
FanfictionEssa é a história sobre o verão que uniu a garota estragada ao garoto quebrado. Duas pessoas aparentemente de mundos opostos, mas que no fim das contas, têm mais em comum do que aparentam. Amargurados por traumas do passado, escolheram assumir per...