37: as malas estão prontas

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— Ele não veio aqui essa semana – o barman respondeu, jogando a toalha no ombro e se distanciando para atender outros clientes.

Respirei fundo e passei a mão na testa, sentindo a pele suada. Meus cabelos estavam presos em um coque desarrumado e a blusa xadrez de Harry que eu usava estava com os 2 primeiros botões desfeitos, mas ainda assim eu sentia o calor impregnado em mim. Culpava a maldita ansiedade.

Engoli em seco e corri os olhos pelo bar. Não que eu estivesse duvidando do barman, mas talvez Harry estivesse por ali e ele não tinha percebido.

Porém, não foi o cara de cabelo ondulado e olhos verdes que eu encontrei. Mais à frente no balcão, outros traços familiares já estavam me encarando de volta, sorrindo.

Apertei os lábios e me aproximei.

— Oi, Zayn.

— Oi – ele fez sinal para que eu sentasse no banco ao seu lado. — Tudo bem?

Troquei o peso de perna, pensando se deveria me sentar ou não.

Eu estava exausta, não só por me sentir estressada, mas porque vinha dormindo mal há dias. Talvez fosse bom conversar com alguém de fora um pouco. Por isso, acabei me sentando.

— Sim... Não sei, na verdade.

Zayn ergueu as sobrancelhas, sentindo meu tom.

— Aconteceu alguma coisa? Você parece cansada.

Desci os olhos para as minhas mãos no balcão e dei de ombros.

— Não precisamos falar sobre, se você não quiser. – ele corrigiu, me deixando mais confortável. E então, logo tentou mudar de assunto. — Animada para voltar pra cidade?

Ri pelo nariz da ironia.

— Bom... As malas estão prontas. Voltamos em 2 dias.

Zayn assentiu e bebeu um pouco de sua cerveja, sem tirar os olhos de mim.

— Eu também, mas logo vou viajar de novo.

Subi os olhos de volta pra ele, curiosa.

— Mesmo? Pra onde?

— Meu pai vai abrir um escritório e pediu para que eu já começasse a trabalhar lá até poder assumir, assim que me formar.

Abri a boca, impressionada.

— Meu Deus, parabéns! Isso é incrível!

— Obrigado – sorriu de volta, claramente satisfeito com a novidade.

Eu me ajeitei no banco para que o fluxo do ventilador giratório do bar me acertasse em algum momento.

— E onde é?

Zayn bebeu mais um gole antes de me responder.

— Geórgia.

Mantive a boca aberta, surpresa.

— Tá brincando.

— Não – ele riu, apoiando o rosto na mão.

— É onde eu faço faculdade... E moro, basicamente.

— Eu sei, eu me lembro. Você me contou quando saímos.

Balancei a cabeça e ofeguei, ainda em choque.

— Bom, isso é ótimo! Meus parabéns, Zayn. Eu espero que dê tudo certo.

Seus olhos escuros estavam profundos, como sempre, e sua pele beijada pelo sol estava brilhando. Eu podia ver que Zayn estava feliz.

— Obrigado, Mel. Você quer uma cerveja?

— Ah... Estou dirigindo, melhor não.

— Entendo... Você está sozinha?

— Sim, eu... Ei, pode me dar um chá gelado, por favor? – pedi ao barman, me voltando para Zayn em seguida. — Eu, ahn, estava procurando por Harry...

— Ah... – desceu os olhos, balançando a cabeça.

Mordi a boca e batuquei os dedos no balcão, pensando se eu deveria ou não dizer o que estava na minha cabeça.

— Zayn, eu... Eu espero não te deixar desconfortável falando disso, mas Harry me contou o que houve entre vocês.

Ele me encarou, parecendo surpreso.

— Ele contou?

— Sim... E eu sinto muito. Sinto pelo o que houve, por você ter se machucado.

Zayn olhou fundo nos meus olhos e eu pude perceber as memórias dolorosas refletidas nas suas íris. Ele apertou a boca e respirou fundo, assentindo discretamente.

— Eu sinto muito também.

Primeiro, achei que ele estava falando dele mesmo. Mas quando Zayn continuou me olhando, percebi que suas palavras eram para mim.

— Eu não estou machucada – franzi o cenho, confusa.

— Tem certeza?

Abri a boca para responder, mas o barman colocou o chá gelado à minha frente.

Nervosa, virei o copo de uma só vez, tentando fazer aquele calor insuportável passar.

Zayn acompanhou meu gesto com os olhos, me dando espaço para respirar.

Quando terminei a bebida, puxei todo o ar que eu conseguia para os pulmões.

— Ele está me afastando – coloquei pra fora, finalmente nomeando o que estava acontecendo, tornando real. — Eu sinto como se estivesse perdendo ele, mas ao mesmo tempo me pergunto se ele foi meu em algum momento.

Zayn ficou em silêncio por um instante, tendo cuidado para não me sufocar.

— Eu entendo... Harry afasta as pessoas. Ele fez isso comigo.

Pousei meus olhos nele, aflita.

— Por que acha que ele faz isso?

Zayn deu de ombros.

— Eu não sei, Mel... Talvez ele ache que não merece ser feliz.

— Isso é idiota.

— Eu sei, mas você nunca se sentiu assim? – ergueu as sobrancelhas, me deixando sem palavras.

— Ele não sabe que é importante para as pessoas?

Zayn respirou fundo e tomou o último gole de sua cerveja.

— Talvez você devesse perguntar isso a ele. Quem sabe? Talvez ele só precise saber como você se sente.

— Como eu me sinto? – fiquei confusa, repetindo a frase de Zayn.

Ele sorriu melancolicamente, como se estivesse dizendo algo óbvio.

— Vamos lá, Mel. Você não estaria assim se não sentisse algo. E eu acho que você sabe disso.

Larguei ainda mais o meu peso no banco e baixei os olhos, suspirando.

Zayn estava certo.

Não tinha por que mentir, por que esconder.

A verdade estava estampada em cada traço do meu rosto, correndo cada gota do meu sangue, em cada centímetro do meu peito.

Eu estava completamente apaixonada por Harry.

E, talvez, fosse hora de contar a ele.

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Fuck Me [HS]Onde histórias criam vida. Descubra agora