Rise and Pride

05. Boston não é uma cidade pequena.

"Colocar para descansar oque você pensou de mim. Enquanto eu limpo essa ficha, com as mãos, da incerteza.
Então deixe a compaixão chegar e limpar"
— What i've done.

Luther Hughes

Não apenas eu, como todos os caras no vestiário estão pingando de suor. Há poucos chuveiros espalhados, então normalmente eles brigam por um lugar atrás de uma das seis cabines. E quando digo "eles", não me incluo, porque ser capitão tem lá os seus privilégios, este como um.

Estamos todos há mil por hora porque hoje é o dia do amistoso com os caras da Harvard. Mesmo a ideia ser apenas uma partida qualquer, o time todo está em uma espécie de ansiedade para matar o time rival. Seria mais apropriado estarmos com esse fogo nos olhos para o  primeiro jogo da temporada, este que será na próxima segunda. Sinceramente, não damos muito a mínima pra isso. A rivalidade canta mais alto e, com isso, a competitividade. Fico completamente aceso nessas horas.

Com esses mesmos pensamentos, visto a blusa preta depressa. Quando solto o cós, ouço o meu nome de forma distante e irritada.

— Hughes, na minha sala!

Dylan faz uma careta, ao mesmo tempo que Miller me oferece certo apoio com o soquinho no ombro.

Sabemos do que se trata.

A sala do treinador é do outro lado do vestiário, mas opto por não ter que atravessar o campo usando apenas tênis. Quando me aproximo, a porta já está semi aberta.

— Treinador? — dou duas batidas contra o batente. — Me chamou?

— Sim. — ele me olha com seus olhos azuis assassinos, mas normalmente estou acostumado com esse tipo de expressão. — Senta.

Obedeço, engolindo um bolo de ar que atravessa a minha garganta. Não há a possibilidade de mentir sobre a festa de sexta, tenho um supercílio roxo e um canto da boca cicatrizando para me contradizer. De todo jeito, não é minha intenção mentir sobre o que aconteceu. Eu enfrento e admito todas as minhas ações.

— Você ainda quer ser o capitão da minha equipe?

Arregalo os olhos. Pisco-os algumas vezes.

— Perdão?

O treinador ri.

— Eu sussurrei? — repete, quase gritando. — Você ainda quer ser o capitão da minha equipe?

— Sim, senhor. — respondo como se fosse óbvio demais.

— Então não soque a cara de jogadores rivais. Não dou a mínima pra qual é a sua desculpa ou se ele mereceu bem mais do que levou, mas se você não der a porra do exemplo, vai perder o seu título e vai parar no banco, ouviu? — concordo com a cabeça. Ele respira fundo. — O líder do departamento de esportes quis reportar isso ao reitor, mas disse a ele que não aconteceria novamente. Odeio a Harvard tanto quanto vocês e tenho certeza que Drax Hammington mereceu, mas qualquer discussão ou briga traz uma imagem ruim pra universidade e eles odeiam isso. Na próxima, seja mais discreto ou você tá fora, Hughes.

É louco dizer isso, mas mesmo o raivoso treinador consegue transmitir certa preocupação e carinho pelos olhos e nas suas broncas. Deixei de ficar mais intimidado com isso faz muito tempo, o que sobrou apenas um respeito gigantesco.

Deixo a sala em silêncio.

Os caras estão em frente a universidade. Hoje é dia 14 de setembro, data que faz com que Boston esteja muito mais bonito do que qualquer outra época do ano. O outono deixa tudo muito colorido, apesar de trazer dias muito chuvosos.