Prólogo

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Era a terceira vez que eu observava meu reflexo no grande espelho de meu guarda-roupa. Eu não estava linda como a modelo Kathryn Lesle. Ou como Alicia Belmonte, minha amiga. Estava bonita. E, como não conseguia ficar deslumbrante, me contentei com minha aparência.

Não usava nada de anormal. Estava simples e básica, como gostava. Meus cabelos castanhos estavam soltos naturalmente, com algumas ondas bonitas. Resultado que eu consegui após passar alguns cremes bem cheirosos. Uma mecha estava presa do lado direito, com uma presilha de estrelas com strass, que eu gostava muito. Presente de George.

Usava uma blusa branca, com mangas até o cotovelo. Uma saia jeans, com botões na frente. E, para finalizar o meu visual para o Festival de Música, em meus pés estava uma bota, cano alto, até meus joelhos, onde coloquei meu celular e dinheiro. Odiava usar bolsas.

Dei uma voltinha, constatando que eu estava bem. Sorri para mim mesma. Fazia dias que eu estava esperando por esse dia. Precisava relaxar. E nada melhor do que ir a uma festa com os meus amigos. Esperava que aquela noite alegrasse o meu dia. E fizesse com que meus problemas seguissem caminho para o mais longe possível de mim.

Sai do meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Andei pelo corredor antes de descer as escadas. Assim que meus pés alcançaram o primeiro degrau, ouvi uma pequena discussão que acontecia na sala. Revirei os olhos ao ouvir a seguinte frase sendo pronunciada por Melissa:

— O que custa me deixar ir, mãe? Eu vou ficar o tempo todo com Carolina.

Aquela não era a primeira vez em que eu ouvia aquela frase nos últimos… ah, sei lá, seis meses? Não sei exatamente há quanto tempo, mas minha irmã insistia em querer sair comigo para todos os lugares que eu ia com os meus amigos.

Entretanto, dois fatos importantes faziam com que eu lhe dissesse “não”:

Primeiro: eu queria sair para me divertir com os meus amigos. Relaxar. E não servir de babá para minha irmã mais nova.

Segundo: Melissa era uma criança. Não tinha idade para sair comigo nas festas com os meus amigos.

Assim que minha irmã mais nova colocou os olhos em mim, fez seu típico biquinho, implorando em silêncio para que eu convencessem nossa mãe a deixar ela sair. Comigo. Bom, se ela tivesse cinco anos, e tivesse me pedindo para brincar de boneca com ela, eu até consideraria. Mas, não era o caso.

Sinto-lhe informar, Melissa, mas você não vai comigo!

— Ah, não, mãe! Quando eu queria sair com Sabrina e com Ícaro, a senhora nunca deixava. E, outra, o carro de Felipe está completo.

Cruzei os braços na frente do meu corpo, recebendo um olhar reprovador da minha mãe. Pena que ele não me atingia. Eu estava negando para o bem dela. O Festival estaria lotado de pessoas. Bêbados em especial. Não era lugar de uma criança.

— Você vai ficar em casa, Melissa! Está decidido! — minha mãe disse por fim.

Comemorei internamente, dando pulinhos, batendo palmas e soltando fogos de artifício. Minha irmã que não gostou da resposta da nossa mãe. Melissa deu um grunhido, irritada. Passou por mim, me empurrando.

— Eu te odeio, Carolina! Você é a pior irmã do mundo! — ela gritou, enquanto subia as escadas.

Ignorei o comentário de Melissa, preferindo acreditar que ela teve uma perda de memória momentânea. Afinal, ela havia se esquecido que existia Ícaro e Sabrina. Aqueles dois, sim, deveriam receber o troféu de “Piores Irmãos Do Mundo”.

Agradecia por eles só chegarem pela madrugada. Assim, não precisaria ouvir nenhum comentário a respeito da minha saída.

Ouvi três buzinas breves e seguidas, que reconheci imediatamente. Era Felipe. Despedi de meu irmão mais novo, que estava deitado em um dos sofás da sala, lendo um de seus livros, com uma bagunçada em seus cabelos. Ele pareceu nem perceber, de tão vidrado que estava na história. Minha mãe já não estava mais na sala.

Conflitos de Carolina  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora