Capítulo 24

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Depois de um banho bem relaxante, vesti meu pijama e desci para a sala. Deitei no sofá e coloquei em algum canal, onde passava um filme. Pouco depois, Erick desceu as escadas. Ele não disse nada. Apenas sentou onde minha cabeça estava, colocando ela em seu colo. Ele permaneceu calado, fazendo cafuné em meus cabelos. Meu irmão podia ser de poucas palavras. Mas, seus gestos demonstravam o quanto ele se importava e se preocupava.

Estávamos tão concentrados no filme que passava na televisão (filme de aventura e fantasia, percebi logo depois), que assustamos quando a porta da sala foi aberta. E risadas preencheram o ambiente. Sentei em um pulo. Eu e Erick olhamos para a direção da porta, notando ser nossos pais.

Estranhei o fato de que os dois haviam chegado cedo. Olhando a hora em um relógio digital que estava na estante, percebi que eles haviam chegado uma hora antes. E, só podia significar uma coisa.
Observei melhor o relógio, verificando a data que estava abaixo das horas. Constatei que eu estava certa.

Todo ano, além das datas comemorativas comuns (as que estavam no calendário e nossos aniversários), meus pais comemoravam entre si quatro datas diferentes: o dia que eles se conheceram (quando meu pai se mudou para a mesma escola que minha mãe), o dia que eles começaram a namorar, o dia que minha mãe foi pedida em casamento e o dia do casamento dos dois. Meus pais saiam, passavam a noite fora e só voltavam no dia seguinte (ou nem voltavam, iam direto para o trabalho). Aquelas datas eram importantes para eles. E nem se importavam se era algum dia da semana. E, era por causa de dias assim que eu e meus irmãos surgimos.

E, naquela sexta feira, era um dia desses. Aniversário de namoro dos dois. Se eu não tiver muito errada com as contas, eram 24 anos. Meus pais eram muito novos. Quando Ícaro nasceu, eles estavam entre 18 a 19 anos. Meu irmão seria pai mais velho que os nossos foram quando ele nasceu.

— Mãe. Pai. Eu posso dormir na casa de Giulia? — Melissa perguntou, surgindo nas escadas.

Não era de duvidar que ela estivesse esperando por eles. E que sabia que data era aquela. Durante seus Dias Especiais, nada no mundo estragaria sua felicidade. E eles eram bem mais liberais do que nos demais dias. Ambos viviam em sua bolha de felicidade e amor.

— Sim. Claro. — mamãe respondeu.

Melissa sorriu radiante. Subiu as escadas correndo em direção ao nosso quarto. Nossos pais foram atrás, sem pressa alguma. Mas com sorrisos estampado em seus rostos. Esperava que eles não trouxessem nenhuma surpresinha com eles. Felizmente, a última foi há dez anos.

Quando nossos pais sumiram do nosso campo de visão, olhei para Erick, que olhava para mim. E, conseguimos nos entender bem através daquela troca de olhares. Nada de jantar naquela noite. Eu cozinhava, quando a comida era para mim. Ela não chegava aos pés das refeições feitas por minha mãe, minha irmã e tio Marcos. Porém, Erick e Melissa odiavam o que eu cozinhava (aqueles dois eram chatos demais na hora de comer). Por isso, naqueles dias, comíamos besteiras que nossos pais proibiam diariamente.

Pouco depois, Melissa desceu, usando um vestido preto com estampas marrons e com uma mochila branca nas costas. Dei algumas instruções a ela. Habito que adquiri desde que nos reaproximamos e ficávamos distantes. Eram coisas básicas, como ter cuidado na rua e ligar caso precisasse. Em seguida, se despediu de mim e Erick, saindo em seguida.

Uma hora depois, meus pais desceram as escadas. Bem arrumando. Mamãe usava um vestido branco, longo, com algumas estampas de flores. Suas belas madeixas castanhas (como os meus, de Melissa e Ícaro) cacheados (como os de Sabrina) estavam soltos. Já meu pai estava usando blusa e calça brancas, mas com tons diferentes. Seus cabelos castanhos claros (como os de Sabrina e Erick) estavam bem penteados. Eles parecia bem mais jovens do que realmente eram. Os dois deixaram inúmeras recomendações para mim e Erick, das quais não prestei atenção. Sabia que a maioria era inútil. Éramos apenas eu e meu irmão mais novo em casa. Não faríamos nada de errado. Sabíamos nos cuidar muito bem.

Conflitos de Carolina  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora