Capítulo 20

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O almoço de domingo, por incrível que pareça, foi bem mais silencioso que os demais dias. Meus pais tentavam conversar com meus irmãos mais velhos, mas eles respondiam apenas aquilo que era perguntando. Sem render assunto.

Os olhos de Ícaro não brilhavam mais de emoção e felicidade, como aconteceu no dia anterior. Na verdade, eu enxergava medo em suas íris.  Não imaginava que meu irmão mais velho temia tanto o nosso pai. Quero dizer, eu era assim. Mas, eu era medrosa. Tinha receio de apresentar meus dois antigos namorados ao meu pai. Mas, Ícaro era diferente.

Após o almoço, subi ao meu quarto para trocar meu chinelo por um tênis. Minha roupa estava boa para ir à casa do meu amigo. Uma blusa branca, com estampas floridas, e um short jeans. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, colocando uma presilha no elástico para enfeitar. Mandei uma mensagem a George, avisando que eu iria a casa dele.

Despedi de Melissa que estava em nosso quarto e sai do cômodo. Descendo os últimos degraus da escada, vi Sabrina agachada mexendo na estante da sala. Ou melhor, nos poucos objetos decorativos que havia no local.

— Sabrina. — chamei, para lhe dizer que estava saindo.

Minha irmã se atrapalhou com um dos porta-retratos, deixando ele cair no chão. Felizmente, não era de vidro, ou teria feito um grande estrago. Minha irmã se levantou e olhou na minha direção.

— Tudo bem? — perguntei preocupada.

— Sim. Só estou um pouquinho nervosa. — ela foi até um dos sofás, e se sentou. Mas, sua perna direita não parava quieta — Ícaro está conversando com nossos pais. Vai sair?

Eu queria muito ir ver George. E contar a ele a novidade do ano. Tenho certeza de que ele ficaria tão surpreso e chocado como eu. Mas, talvez, meus irmãos precisavam de mim. Eu poderia conversar com meu melhor amigo em outro momento.

— Eu estava indo na casa de George. Mas, eu posso ficar com vocês… — tentei dizer, mas fui interrompida.

— Está tudo bem, Nina. Ícaro se colocou nessa situação sozinho. Ele está bem grandinho para lidar com as consequências de seus atos.

Minha irmã se levantou do sofá e caminhou até mim. Deu um abraço e um beijo em meu rosto.

— Fica tranquila, está bem? — ela perguntou e eu assenti — Pode ir ficar com seus amigos. Aproveito para conversar um pouquinho com Melissa sobre o que aconteceu segunda feira. Antes que eu comece a arrumar cada mínimo detalhe dessa casa.

Minha irmã se afastou, indo em direção as escadas. Resolvi seguir o conselho dela e fui ver meu amigo. Peguei minha bicicleta na garagem e seguir em direção a casa de George.

Não demorou muito para que eu chegasse. Deixei minha bicicleta no local de sempre. Bati na porta. Meu amigo abriu rapidamente. Até me assustei, até me lembrar de que ele, possivelmente, estava jogando videogame e me esperava. George me cumprimentou com um abraço e um beijo na testa, como sempre fazia.

Entrei na casa e comprovei minha teoria. O videogame estava ligado e pausado. Enzo passou pela sala, vindo da cozinha. Ele seguiu direto pelas escadas, sem ao menos me cumprimentar como sempre fazia. Talvez, ele apenas estivesse distraído demais e nem me viu.

Oye, Enzo! — chamei por ele.

Oye!

Enzo me respondeu, sem ao menos olhar na minha direção. Olhei para George, que mantinha os olhos no primo, que continuava a subir as escadas lentamente.

— Gabriel! É Carolina. Lina. — meu amigo esclareceu, para caso ele não tenha reconhecido minha voz.

— Eu sei. Eu vi e ouvi. Não sou cego nem surdo.

Conflitos de Carolina  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora