Capítulo 04

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Definitivamente, aquela foi a pior segunda feira de toda a minha vida.

Acordei de madrugada com um pesadelo, e logo pela manhã com minha irmã dançando ao som de uma música bem alta. Tive que aguentar meus irmãos na hora do café da manhã e no trajeto até a escola. Reencontrei Enzo, e descobri que ele mentiu para mim. Ele, na verdade era o primo do meu melhor amigo. E se chamava Gabriel. Falei mais do que deveria ao meu professor, e, felizmente, não ganhei uma suspensão ou coisa pior. Gabriel deveria ter achado que eu era mais uma dessas alunas que não respeita o educador. O que, quero deixar bem claro, não é verdade. Durante o primeiro intervalo, eu e minha amiga de infância discutimos. Ao menos, fizemos as pazes durante o almoço.

Pensei que, quando chegasse a minha casa, eu me livraria de todo azar que foi o meu dia. Enganada estava.

Tive que voltar andando, na companhia do meu irmão mais novo. Era como se eu tivesse sozinha. Ele quase não falava nada. Cheguei a me perguntar se ele era mudo e eu não sabia. Porém, vez ou outra trocávamos algumas palavras.

Chegando a minha casa, percebi que aquela pequena mentirinha que contei ao professor se concretizou. Passaria o resto da tarde largada em cima da minha cama, sofrendo com uma dor insuportável se meu irmão não tivesse me pedido ajuda em um trabalho escolar. Trabalho esse que deveria ter o auxilio de um adulto responsável. Eu não era adulta, tinha apenas 17 anos. Mas, eu era responsável. Afinal, desde o início do ano eu ficava em casa sozinha com meus irmãos mais novos, e eles nunca se envolveram em nenhum acidente doméstico.

Além disso, Erick não podia contar com a ajuda de nossos pais. Eles chagavam tarde do trabalho de vendedores em uma loja no centro da cidade, cansados demais para dar atenção aos filhos. E saiam cedo, no mesmo horário que íamos para a escola. Aos fins de semana, eles se dedicavam aos trabalhos domésticos. Minha mãe dentro de casa, e meu pai do lado de fora.

Ou seja, sobrou para mim.

Por isso, passei o resto da tarde ajudando Erick ao invés de sofrer com minhas dores mensais. E, quando terminamos, era tarde. Melissa e nossos pais chegaram. E, consegui terminar meu dia sem mais problemas. Felizmente.

☆ ☆ ☆ ☆ ☆

Na manhã seguinte, acordei um pouco antes de o meu despertador tocar. E não era por algum barulho (felizmente, Melissa ainda estava dormindo). E sim por causa de um sonho que eu tive (ou pesadelo, dependendo do ponto de vista).

Eu não me lembrava bem do que acontecia no meu sonho. Porém, dois detalhes estavam claros para mim. Eu estava na escola. E era aula de matemática. E, quando acordei, me lembrei que, na semana antes do recesso, a professora de matemática passou uma lista com 20 equações para ser entregue na primeira aula assim que os dias de descanso terminassem. Eu sempre adiava fazer aquelas atividades, afinal, eu era muito boa em resolver equações. Entretanto, adiei tanto, que acabei me esquecendo.

Olhei a hora em meu celular, notando que faltavam vinte minutos para o meu despertador tocar. Levantei e comecei a me arrumar rapidamente. Não fiz nada de diferente do dia anterior. Uniforme, maquiagem simples e cabelos soltos, com uma mecha presa com uma presilha.

Quando desci para tomar café da manhã, o resto do pessoal da casa já havia acordado. Preparei meu leite e tomei ele acompanhando de alguns biscoitos. Terminei e fui para a escola de bicicleta. Sorte que não estava fazendo calor (estava fresco), ou teria chegado à escola suada e como um pimentão.

Sentei no meu lugar de sempre e comecei a fazer as equações. Fáceis. Mas demoradas.

Alicia foi a primeira a chegar quando eu estava na equação 05. Ela me cumprimentou e não disse mais nada. Chris foi a segunda. Eu estava na equação 08. Vendo minha concentração, não me interrompeu. Quando eu resolvia o exercício número 13, os meninos chegaram. Também me cumprimentaram. Curioso do jeito que era, George me perguntou o que eu estava fazendo.

Conflitos de Carolina  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora