Capítulo 08

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A conversa que eu tive com George após a aula na quinta feira não saiu da minha cabeça.  O único momento que não pensei sobre o assunto foi quando foquei na matemática para ajudar Enzo. Mas, após ele ir embora com meu melhor amigo, voltei a me questionar: que tipo de irmã eu era?

Observei meus irmãos durante a tarde e a manhã seguinte. Durante a noite de um dia para o outro, não consegui dormir direito. E não foi por causa de pesadelos. Mas, por causa de meus pensamentos conflituosos.

Na sexta feira, enquanto pedalava da minha escola até minha casa, em silêncio, com meus amigos ao meu lado, eu já tinha uma nova conclusão: George estava certo. Eu estava mesmo afastada de meus irmãos. Além disso, eu não sabia nada sobre eles.

Mas, eu mudaria essa situação. Tentaria me aproximar deles.  Eu não seria como Ícaro e Sabrina. Não queria ir para a universidade (que eu ainda não havia escolhido) e ver o sorriso dos meus irmãos por terem se livrado de mim. Eu faria diferente.

Durante o tempo que eu e Enzo estudamos juntos pela tarde, foquei apenas nos cálculos matemáticos. Ou melhor, tentava ao máximo focar. O que era bem difícil, tendo Gabriel como parceiro.  Além de ser lindo e ter um sorriso encantador, ele adorava soltar frases de duplo sentido e flertava comigo sempre que tinha oportunidade, me deixando constrangida diante de seus elogios.

Apesar dele sempre me deixar envergonhada (e, assumo, às vezes também fazia o mesmo com ele), eu gostava de passar um tempo com ele. Mesmo que fosse para estudarmos matemática. Gostava de trocar mensagens com ele quando não estávamos no mesmo ambiente, mesmo que fosse por besteira. Gostava de ter sua atenção em mim. Gostava de poder conversar com ele. Eu gostava de estar com ele.

Eu não sabia que tipo de relação tínhamos. Não era simplesmente amizade. E, na verdade, não sabia se conseguia ser somente amiga de um garoto que beijei (e que, constantemente, me lembrava de seus beijos), que deixava meu coração bater acelerado e minhas pernas bambas com um simples contato. Independente da relação que tínhamos, eu gostava.

— Continuamos amanhã? — Enzo me perguntou, ao fim de nossos estudos, guardando seus materiais na mochila.

O dia seguinte era sábado. Ou seja, meus irmãos estariam em casa. Eu não fazia ideia de como eles reagiriam diante da presença de Enzo. Esperava que eles não me deixassem mais constrangida do que George me deixava.

— Sim. Depois do almoço, pode ser? — perguntei, e ele assentiu.

Juntei meu livro e meu caderno, deixando em cima da mesa. Segui para a sala de estar junto com Enzo, onde encontrei George e Erick jogando videogame, cada um sentado em um sofá. Os dois estavam tão concentrados, que só perceberam a nossa presença quando um deles ganhou. E, eu supus ser Erick, devido o sorriso que cresceu no rosto do meu irmão. Ele possuía um sorriso tão bonito. Nem me lembrava quando foi a última vez que vi ele sorrir.

Erick era sempre sério. Calado. Vivia lendo pelos cantos da casa, principalmente em seu quarto. Vez ou outra encontrava ele vendo algum filme. Seja na TV, ou no notebook de Ícaro, que ficava em seu quarto. E, quando George aparecia, ele jogava videogame com meu amigo. Além disso, a única coisa a mais que sabia sobre ele era que gostava de histórias em quadrinhos e filmes de super heróis. O resto era uma incógnita.

— Já acabaram? — George perguntou a nós. Assentimos juntos.

— Vamos continuar amanhã. — Enzo respondeu.

George se levantou do sofá e colocou o controle do videogame em cima da mesinha de centro. Ele caminhou até onde eu e Enzo estávamos e olhou para mim.

— Amanhã eu não vou poder vir. Minha mãe quer que eu ajude ela no restaurante. Tudo bem para você?

George me conhecia tão bem, que sabia dos meus receios em ficar em casa, com meus irmãos mais novos, na presença de um estranho. Não que eu não confiasse em Enzo ou achasse que ele me faria mal. Mas, não nos conhecemos direito. Eu não me sentia a vontade.

Conflitos de Carolina  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora