Conflitos de Carolina [Concluído]

Capítulo 06

Meus pais odiavam que eu deixasse meus irmãos sozinhos. Mesmo que a vizinhança fosse tranquila. Mesmo que Melissa tenha 13 anos. Mesmo que fosse para que eu estudasse ou fizesse trabalho.

Caso eles soubessem, logo me chamaria de irresponsável. Me comparariam com Sabrina, dizendo que ela, na minha idade, cuidava de crianças da vizinhança. Que nunca causou nenhum problema. Nem ousou me deixar sozinha com os mais novos enquanto ela morava conosco.

Foi por isso que, no dia seguinte, chamei Enzo para estudar na minha casa. E, claro, George iria junto. Não que eu achasse ele perigoso ou que fizesse algo a mim. Mas, mal nos conhecemos. Sentia mais segura com meu melhor amigo junto.

Porém, os dois não foram para a minha casa comigo, como eu havia feito com eles no dia anterior. Pelo que eles me disseram, tia Duda, mãe de George, deu um ultimato em Gabriel, para que ele arrumasse a bagunça no quarto do primo. E, devo dizer que estava precisando mesmo. Aquele lugar não estava propicio para uma boa noite de sono.

No momento que cheguei a minha casa, dei uma boa observada em cada cômodo, notando que estava bem arrumado. Subi rapidamente ao meu quarto, onde me troquei. Fiquei de frente ao espelho, dando uma última conferida em minha roupa.

Por que eu estava tão nervosa? Por que estava me preocupando tanto com minha aparência e de minha moradia? A resposta era simples. Era a primeira vez que o meu novo amigo colocaria os pés em mina casa. Não queria que pensasse que eu morava em um chiqueiro, ou que eu fosse uma desleixada.

Meia hora depois, eu estava na sala, indo abrir a porta para os meus amigos que haviam acabado de chegar. Passei a mão pela minha roupa pela última vez, alisando meu vestido preto florido.

Girei a maçaneta e abri a porta. A primeira coisa que eu vi foi o sorriso lindo que Enzo estampava em seu rosto, fazendo com que um parecido escapasse pelos meus lábios. Por um instante, esqueci da presença de meu melhor amigo ao seu lado. Mas, logo me lembrei e os convidei para que entrasse.

— Onde está o seu irmão? — George me perguntou.

— Erick? — perguntei, apenas para fazer graça.

Ganhei uma revirada de olhos como resposta. Claro que ele estava se referindo ao meu irmão mais novo. Os dois se davam muito bem. Além disso, George sabia que Ícaro não estava em casa. Além do fato de que os dois não era o que eu chamava de “amigos”. Eles conversavam. Eram cordiais um com o outro. Mas, meu amigo sabia bem como era a minha relação com meu irmão mais velho. Por isso, para não cutucar a onça com o dedo (no caso, a onça seria eu), George evitava qualquer interação a mais. O que era bem diferente com Erick.

— Se ele não tiver no quarto é porque ele fugiu. E, como ele não é de fugir, então está no quarto.

Como se fosse um dos moradores da minha casa, meu amigo subiu as escadas, indo em direção ao quarto dos meus irmãos. Se havia alguém no mundo capaz de tirar Erick de seus livros, esse alguém chamava George, também conhecido como meu melhor amigo. E, tenho certeza que, em menos de dez minutos, os dois estariam jogados no sofá, entretidos em uma disputa de videogame.

— Vamos para a sala de jantar. — disse a Enzo, conduzindo ele até ao local.

— Soube que você não é uma pessoa organizada. — Gabriel comentou, me seguindo.

A única pessoa capaz de fornecer a ele aquela informação era George, meu melhor amigo (ou ex-melhor-amigo. Estava pensando seriamente em rever minhas amizades). Ah! Aquele fofoqueiro que adorava me constranger!

— Está com medo de que eu veja o seu quarto? — me provocou — Duvido que ele esteja mais bagunçado do que o do meu primo. Aquilo lá parecia uma zona de guerra.