Capítulo 05

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Após o fim das aulas do dia, avisei aos meus irmãos mais novos que eu não iria para casa. Erick não falou nada. Eu já esperava. Melissa, como sempre, reclamou. Eu também já esperava. Ela reclamava de tudo que não fosse conforme seus desejos, graças aos mimos dos nossos pais e de Sabrina. E eu estava acostumada com seus protestos.

Assim como eu, Enzo e George também iam para a escola de bicicleta. Com isso, nossa ida até a casa do meu amigo foi mais rápida. E, para não correr o risco de ter que socializar com Enzo, apostei corrida com eles. Cheguei em último, gerando muita zoaça em relação a mim por parte de George. Gabriel foi o campeão.

Colocamos nossas bicicletas na garagem da casa antes de seguirmos para dentro da moradia. George foi o primeiro a entrar. Eu e Enzo fomos atrás. Não havia ninguém no local. Tia Duda e tio Marcos estavam trabalhando no seu restaurante “Sabores de Casa”.

Segui os meninos pelas escadas, indo em direção a um cômodo bastante conhecido por mim. O quarto de George. Mas, aquele lugar não estava nenhum pouco parecido com o ambiente que eu conhecia. Estava uma completa zona da bagunça. Em matéria de organização, meu melhor amigo tirava notas maiores que a minha. Mas, pelo visto, ele tinha decaído bastante.

— Vocês estão com fome? Porque eu estou. Vou preparar um lanche para nós.

Antes mesmo que eu raciocinasse para poder responder, George saiu do quarto, me deixando sozinha com o primo mentiroso dele. Como ele teve a coragem de fazer aquilo comigo? Me deixar com aquele… pilantra. Virei em direção à porta do quarto. Mas, antes que eu desse o primeiro passo, Enzo segurou o meu braço, fazendo com que eu olhasse para ele. Seria naquele momento que eu seria torturada até o meu último suspiro?

— A gente pode conversar? — ele pediu com seriedade.

Hipnotizada por aquele belo par de olhos escuros, assenti. Ele deveria ser sim um wesmeg, que encantava suas vítimas com aqueles belos olhos. Qual era mesmo o ser mágico que é representado pelas cores negras? Acredito que seja uma das três espécies de zaubers. Torcia para que fosse o bom, assim eu não estivesse correndo tanto perigo.

— Por que você está agindo dessa forma comigo? — ele me perguntou, soltando o meu braço. Dei alguns passos para longe dele.

Apesar de eu perceber certa magoa em suas palavras, revirei os olhos e cruzei os braços. Não cairia naquele teatrinho ridículo dele.

Como ele ousava me fazer esse pergunta? Ele era um fingido? Ou possuía lerdeza ao extremo? Assumo que sou um pouco falha em relação à fisionomia das pessoas. Mas, eu reconheceria ele se eu o visse novamente (como aconteceu). Lembraria de seu nome (se ele tivesse sido verdadeiro).

Ele, por outro lado, não me reconheceu. Ou estava fingindo. Ele não se recordava da minha aparência (que, durante todo o Festival, dizer ser linda. Bom… eu não me arrumava tanto para ir à escola como me arrumava para ir a festas. Mas também não me transformava em outra pessoa). Não se lembrava do meu nome. Lina. Era assim que ele me chamou durante quase duas horas que ficamos juntos. Talvez, fosse para compensar o fato de ele estar mentindo seu nome para mim.

Ou talvez, existisse uma explicação bem maluca. Gabriel e Enzo podiam ser irmãos gêmeos (que eu saberia. George teria me falado. A não ser que tivessem sido separados na maternidade), ou sósias idênticos, ou clones, ou… eu estava voando. De novo.

— Quero dizer, eu desconfio que seja por um motivo.

Segurei para não revirar os olhos mais uma vez. Com certeza ele viria com algum motivo estúpido. Ele era um idiota, que não sabia de nada.

— Por isso, acho melhor começar de novo. E, dessa vez do jeito certo.

Ele estendeu a mão direita para mim, em um claro gesto de cumprimento, com um sorriso no rosto. Eu apenas franzi as sobrancelhas, sem entender o que ele estava fazendo.

Conflitos de Carolina  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora