Super- herói

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JULIANA


O dia amanheceu e ele foi passado pro quarto, eu não consegui vê-lo pois os meninos me tiraram com receio que eu passasse mal. Pra ser realista era bem provável que isso acontecesse mesmo.

O médico, não deixou ninguém entrar porque ele ainda estava fraco e precisava repor algumas coisas no corpo, ninguém me deu nenhuma informação concreta e isso só me dava mais raiva e preocupação.

O neném se revirou de uma vez dentro da minha barriga e aquilo doeu um bocado, fechei os olhos respirando fundo e deslizei a mão por ela tentando acalmá-lo e ele fez novamente. Me lembrou muito a última gravidez, Manu fazia aquilo também.

— Ai... — Cocão levantou rápido e veio até mim.

— Aê Juh, oque tu tem ? Ele vai nascer ? Vou chamar um médico ! —

— Não.....— O segurei e levantei me apoiando na cadeira. — Ele tá se revirando, se faz isso rápido demais, acaba doendo, mas não se preocupa. Ninguém nascer hoje —

— Aê....vai pra casa, mina. A gente cuida do Cláudio aqui, tu tem que descansar, o bebê deve estar sentindo as coisas, por isso tá assim —

— Nem pensar, eu não arredo o pé daqui, não sei se você lembra da última vez — Me repreendi mentalmente pois tinha que cuidar da Emanuelle.

— Não sei porque tu tá assim, vocês não tão separados ? — Tentou se segurar pra não rir da cara que eu fiz.

Fechei os olhos e suspirei.

— Olha, se não quiser ficar no lugar dele, é melhor calar essa boca —

O Bebê se revirou novamente e uma enfermeira apareceu no corredor, o enxerido do Xenon que parecia estar dormindo até agora, levantou e pediu pra ela me examinar e como eu já imaginava, não era nada demais.

Aproveitei a oportunidade e pedi a ela pra chamar o médico para dar uma olhada no C.R e assim foi feito.

Logo ele apareceu e entrou no quarto, quando saiu nos encarou seriamente.

— Fala, por favor, como ele tá ? —

— No momento, estável, porém desacordado, não sabemos quando ele vai acordar. Teremos que mantê-lo na UTI, ele não morreu por muito pouco.
Quando o trouxeram, ele estava entrando em choque hipovolêmico, isso poderia ter afetado vários órgãos do corpo dele. Mas ainda bem que não aconteceu, ele está tomando sangue e soro, juntamente com os remédios. O rapaz tem muita sorte e tudo indica que vai sobreviver —

— Parece que alguém está repetindo um filme, ele já passou por isso, artéria, sangue, choque, a única diferença é que ele ficou em coma. E mesmo assim não saiu dessa vida —

O médico me olhou solidário e começou a falar.

— O meu irmão levava uma vida mais ou menos assim. Foi quase morto muitas vezes, numa dessas ocasiões, ele disse que algo maior chegou até ele, contou que era como se visse alguém brigando pra salvá-lo e outra coisa arrancando a vida dele. Foi assim que a mudança dele chegou.
Muitas pessoas chegam aqui, saudáveis, felizes e saem num caixão, muitas outras, entram no mesmo estado que aquele rapaz e saem sorrindo e felizes. Tudo tem um propósito, tudo é vontade de Deus, mas nós temos o livre-arbítrio, infelizmente fazemos coisas e não podemos sair impunes.
Uma hora as coisas mudam, não se preocupa, ninguém aguenta ver ou fazer remake de um filme pra sempre —

Abracei o médico por impulso sentindo meu peito doer.

— Eu te agradeço, te agradeço muito, não sei oque eu faço se aquele homem morrer. Mas eu te agradeço por isso —

O sonhor, já de idade, segurou minhas mãos e olhou bem no fundo dos meus olhos.

— Minha querida, eu só fiz o meu trabalho. Agradeça a Deus e também, aqueles dois homens bem ali — Apontou para os dois. — Tá faltando um, mas eles não estavam nem ai pra nada, me ameaçaram com gosto e nem ligaram se alguém poderia ver ou chamar a polícia pra eles. Apenas se importaram com a vida do seu namorado — Sorriu. — Ele vai ficar bem, tá bom ? Eu te prometo —

Abracei ele novamente.

— O senhor é um anjo, e perdoa o jeito deles, por favor, eles são boas pessoas. Só não chama a polícia, por tudo que é mais sagrado, eu amo aquele rapaz que está lá dentro. Se ele for preso, eu vou demorar mais ainda pra dizer isso a ele —

O médico concordou me tranquilizando e me deixou entrar pra ver o C.R.

Abri a porta calmamente e andei até a cama vendo aquela bolsa de sangue conectada na veia dele. Uma máscara de oxigênio em sua boca e mais alguns aparelhos conectados ao corpo, fiquei em pé ali, observando por um bom tempo aqueles curativos.

Fechei os olhos e respirei fundo pra não chorar, mas de nada adiantou.

— De novo...você tá ai machucado, correu risco de vida, e de novo, eu nem falei que te amo. A gente errou um com o outro. Mas você errou mais ! —

Ri sem humor.

— Por favor... — Segurei a mão dele. —  Se estiver me ouvindo, volta logo....volta pra casa, volta pro nosso quarto, volta pra mim. Eu não aguento mais, ficar longe de você —

Funguei e uma enfermeira entrou me pedindo pra sair, beijei a testa dele e caminhei em direção a porta.

Felipe e Nick estavam sentados ao lado dos meninos lá fora.

Minha amiga se aproximou e me abraçou com força. Desabei na mesma hora, se foi difícil da primeira vez, quem dirá agora.

Meu coração doía.

— Amiga.....vai dar tudo certo, o médico já disse que ele vai ficar bem — Ela me lembrou.

— Eu sei, eu entendi, só espero que....ele acorde logo — Sorri secando minhas lágrimas e Felipe me abraçou, também me confortando.

— Gente, obrigado por terem vindo, sério mesmo — Dei outro sorriso. — E vocês dois....— Abracei os meninos. — Obrigado por cuidarem dele, obrigado por terem o trazido, muito obrigado —

— Qual é Juh, ele é nosso irmão, pô, é pra lá de obrigação, entendeu ? — Xenon sorriu. — A gente considera ele pra caramba —

— Mano, o morro sem ele não ia ser o mesmo, morô ?. A gente faz por amor, e o Bracinho também tava com a gente — Cocão me lembrou.

— Não se preocupa, eu vou agradecê-lo depois. Mas, vocês.....— Apontei para as camisas manchadas. — Precisam de um banho e descanso. Eu vou ficar aqui, só preciso saber da minha filha, vou ligar pra Bruna e depois avisar a Rita e o Jaime. Vocês podem ir —

— A gente vai ficar aqui com ela, mas manda alguém pra fazer a segurança aqui.
O C.R, também não pode ficar sem ninguém armado por perto. Se algum urubu souber, não vai dar bom — Felipe concluiu e eles concordaram saindo.

— E você, em ? — Ele sentou ao meu lado. — Tu tem que descansar, seus pés estão parecendo um pão —

— Eu vou embora mais tarde, não posso ficar o dia todo, por causa da Manu. Mas por mim, não sairia daqui, vocês sabem, né ? —

— Claro que sim, olha, eu posso ficar com ela amanhã — Disse minha amiga. — Você vai hoje, dorme com ela e descansa. Amanhã o Felipe pega ela, tenho certeza que a pequena vai adorar brincar com Bernardo —

— Tá bom, pode ser — As horas passaram e lá pelo meio da tarde, Matheus e Jájá chegaram.

Dei uma última olhada em C.R e fui pra casa.

Manu, me recebeu com um abraço e perguntando pelo pai, ela com certeza sentiu a tensão.

Peguei minha filha no colo e fui até o sofá.

— Meu amor, o papai tá dodói....a mamãe não sabe quando ele vem. Mas ele está dormindo e tá sendo muito bem cuidado, tá bom ? —

Manu fez uma cara nada agradável.

— Naum mamãe, o papai naum fita dodói, ele é um supelelói — Me abraçou começando a chorar.

Da Zona Sul pro Morro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora