Resgate

2.5K 137 11
                                    

C.R


Já era quatro da manhã e todo mundo saía pro resgate.

Xenon ia ficar pra cuidar do morro, mas tinha coisa incomodando ele, eu conhecia.

— Desenrola logo ! —

— Mano, não é me intrometendo não, sei que é tua mina e teus filhos, mas não era melhor esperar amanhecer ? —

— Se eu ficar aqui mais um minuto, sem ter notícia delas, eu enlouqueço, e é isso que aquele filho da puta tá esperando. Esse desgraçado não vai esperar o dia amanhecer pra machucar elas, e eu também não vou esperar o dia amanhecer pra matar ele.
Tem dois dias que minha mulher tá lá, tu tem noção ? —

Arrumei o fuzil nas costas.

— Cuida da favela, segura os que tão trampando e manda os outros descerem. E cuidado, já tô levando uma pá pro perigo, não posso perder quem tá ficando —

Subi na moto e a rapaziada me seguiu.

Encontrei o F.P na rodovia e já bati o olho no ZL, fiquei puto mas não falei nada, pelo menos acrescentava.

A gente parou quase quinhentos metros antes da comunidade e os linhas de frente foram primeiro com silenciador, pra não fazer alarde pra quem tava lá em cima.

Nove homens faziam a segurança e foram derrubado de primeira. A gente continuou subindo, mas claro, como toda paz não é eterna, os pipocos de verdade começaram e a chuva voltou.

O bagulho tava louco, já tinha uma pá de morto e eu não achava o filho da puta do Miranda, muito menos a Juliana e a Manu.

Dei visão e o Bracinho passou na minha frente atirando nos olheiros, a chuva apertou e eu continuei subindo.


Entrei no escritório e não tinha ninguém lá.

— Cadê você, desgraçado ? —

Sai e vi logo um cria dele descendo, atirei na perna e ele caiu gritando de dor.

Me aproximei apontando a outra perna.

— Cadê minha mulher ? —

— EU NÃO SEI, IRMÃO ! — Segurou a perna com dor e eu atirei na outra. — Aquela vaca atirou em mim também, sabia ? —

— A SUA MÃE ATIROU EM VOCÊ ? — Chutei o saco dele vendo a chuva levar o sangue que saía de suas pernas. — CADÊ MINHA MULHER, PORRA ? —

— ELA TÁ NA VEILA QUATRO.....DUAS VIELA DEPOIS DESSA ! — Tossiu com dor, as pernas estavam destruídas.
— É um.....um barraco todo pintado de preto, tem um macaco desenhado na porta —

Mirei o pote dele e apertei o gatilho.

Peguei a arma que ele deixou cair e sai correndo tomando cuidado pra não ser atingido.

O sangue fervia na minha cabeça, eu sentia era medo de como ia encontrar as duas, isso sim.




JULIANA


As contrações só pioraram madrugada adentro. Pelas minhas contas e se eu estivesse certa, estavam vindo a cada cinco minutos.

Eu não conseguia me concentrar em nada, eu só pensava que daria a luz naquele lugar e sozinha.

Agradecia a Deus mentalmente, pela Manu estar dormido, pois eu não conseguiria dar atenção a ela, estando nessa situação.

Senti outra onda de dor vindo e fechei os olhos mordendo a gola da minha blusa.

— Porra.....— Joguei a cabeça pra trás. — Senhor, me ajuda, não me deixa morrer aqui, minha filha só tem dois anos e meu filho nem nasceu ainda.... —

Da Zona Sul pro Morro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora