Brenda
— Tinha deixado o quarto de Ricardo à algumas horas apenas e enquanto olhava para cima pensando em que espécie de garota tinha me tornado acredito que não há ninguém pior do que eu nesse momento já que ao chegar em casa vou até minha vó que tinha me deixado um bilhete preso na geladeira dizendo que precisou deixar umas entregas para algumas padarias e que estava sentindo saudade da netinha dela.
Brenda:– Minha vó é uma figura...
— Apesar de ter comido bastante no segundo que passei pela porta já era a terceira vez que tinha ido vomitar tudo e não foi planejado apenas aconteceu mas quando aquela comida começou à descer pela minha garganta a culpa bateu forte igual uma pedrada certeira na cabeça e tive que colocar tudo para fora como uma compensação pela maneira que me comportei como uma porca.
— Fui até minha bolsa e peguei um cigarro era um hábito que tinha adquirido quando iniciou as sessões com a doutora mesmo sentada aqui fico constantemente olhando para o celular e querendo ligar para a Julieta e contar que recomecei tudo outra vez.
— Queria ser forte e não vomitar nunca mais só que quanto mais precisava fazer isso menos tinha força de vontade o bastante era assim com a bulimia e agora tinha feito com o Ricardo porque mesmo querendo me afastar dele estava convivendo no trabalho todos os dias aceitado uma carona e ido pra cama com ele e porra!Tinha adorado!
— Não conseguia ficar em um só lugar então me levanto e sinto uma tontura e acabo sentando novamente e mesmo não tendo fumado muito apago o cigarro no cinzeiro.
Brenda:– O que você diria se pudesse me ver agora em Maria?
— Minha melhor amiga está muito bem fora do Brasil e não precisa que eu à pertube com meus dramas estúpidos naquele segundo e aí o celular finalmente toca e ao pegá -lo vejo o nome dele.
Brenda:– Você já me teve hoje idiota!
— Jogo meu celular sobre o sofá e fico apenas observando a geladeira mas isso seria loucura e por qual motivo ainda continuo dando murro em ponta de faca!?
Brenda:– Quer saber?Foda-se!
— vou até lá e para minha surpresa tinha um bolo inteiro de chocolate mesmo estando dividida pelo que é certo ou o que posso fazer acabo tirando ele e o colocando em cima da bancada da cozinha.
Brenda:– Me desculpe vó.
— Antes de pensar em qualquer coisa vou devorando ele pedaço à pedaço no começo apenas com a colher depois com as mãos fazendo com que eu ficasse lambuzada até que alguns minutos se passam e a culpa surge tão forte quanto a vergonha por ter feito aquilo então corro para o banheiro e vou vomitando tudo com força e aquilo arde por onde passa e mesmo sabendo que isso iria voltar contra mim não conseguia dizer que estou pronta para não fazer mais essa loucura e poucos segundos após ter acalmado mais meu estômago noto algo caindo sobre o vaso.
Brenda:– Sangue?
— Tinha vomitado muito daquela vez e nem pensei em parar já que quando colocava a comida pra fora demorava três ou até quatro dias para fazer as mesmas besteiras só que não pensei muito nas consequências e vou me levantando e me mantendo firme entre as paredes como se isso tivesse levado um pouco de mim no processo.
Brenda:– Como cheguei à isso?
— Era uma pergunta retórica é claro porque sabia a resposta aquilo sempre de alguma forma esteve me rondando desde a infância então escuto a voz da minha vó na sala e no segundo seguinte tudo fica obscurecido.
(Anos atrás)
— Odiava ser filha única até porque toda a atenção e desejo para que eu fosse algo maior do que na verdade eu nunca quis ser caiu sobre mim como uma enorme onda já que todo concurso bizarro pra crianças minha mãe me inscrevia e passei boa parte da minha infância participando de concursos ridículos de beleza infantil para tentar deixar a pessoa que mais amava no mundo feliz mas era sempre frustrante já que nunca ganhava nada e o mais perto que cheguei de ganhar algo foi quando fiquei em terceiro lugar ou seja mais caras de frustração e até privação por comida é claro que minha mãe me dava de comer até porque meu pai ficava sempre em cima à observando mas nunca podia comer doces ou salgados muito menos depois de qualquer derrota quando voltávamos para casa e ela não chegava à me bater mas fazia algo que me deixava evasiva e com raiva de mim mesma que era pedir pizza bolos e salgados e comer tudo na minha frente sem deixar que eu tocasse em nada me dizendo que só poderia comer essas guloseimas quando ganhasse algum troféu e me tornasse a rainha da beleza.
— Tudo está pesado e estou me sentindo uma idiota por aquilo que cometi ao meu próprio corpo e ao abrir os olhos e vê-la dormindo no canto em um pequeno sofá marrom percebo o quanto fui fraca não era pra ter sido tão cruel comigo mesma mas agora era tarde pra querer que tudo fosse diferente.
— Passo uma das mãos pelo meu rosto e vejo uma agulha saindo de mim para que pudesse colocar soro em minhas veias e aquela sensação de culpa e vergonha é bem pior do que senti dentro do banheiro.
— Olho para a janela do quarto que está fechada mas a luz do sol passava por ela e vejo minha mochila no canto droga!Que vontade de fumar um cigarro!
Ricardo:– Bom dia.
Brenda:– Se você está aqui quer dizer que morri e fui pro inferno.
Ricardo:– Fica tranquila ainda está viva.
— Ele se aproxima até sentar na beirada do meu colchão e merda!Que cara bonito é claro que devo estar muito drogada por essas porcarias que estão injetando em mim mas agora estando tão perto depois da noite de ontem posso admirar sua fisionomia e toda aquela arte na sua pele parecia um quadro vivo.
Brenda:– Como soube que eu estava aqui?
Ricardo:– Sua avó ligou para mim ontem depois de ter te encontrado desmaiada e falando nisso ótimo trabalho em?
Brenda:– Do que está falando?
Ricardo:– Quase se matou de tanto comer por isso que começou à vomitar até sangue.
— Me ajeito nos travesseiros com ajuda dele e mesmo não querendo preciso aceitar já que não iria perturbar a vovó por causa da minha infantilidade.
Brenda:– Obrigado por ajudar ela.
— Ele faz um aceno com a cabeça meio que concordando comigo.
Brenda:– Pode me dar aquela mochila por favor?
Ricardo:– Se não me engano você me deve uma agora certo?
Brenda:– Essa não.
— Enquanto remexia as coisas procurando meus cigarros e finalmente achando ele tinha se encaminhado para perto da janela e observava lá embaixo no estacionamento provavelmente e agora teria que pagar de alguma forma o que fez já que não gostava de dever em nada o que faziam por mim.
Brenda:– Você sabe que não gosto de dever nada pro diabo né?
— Quando estava com o cigarro na boca procurando o isqueiro ele retira jogando pra longe e junto meu maço o colocando dentro da lixeira e mesmo que estivesse querendo matá-lo naquele segundo precisava pensar na pessoa que mais amava e que estava junto da gente naquele quarto.
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Sobre tua Pele - Série IMPERFEIÇÕES
RomanceBrenda precisa enfrentar seus traumas sozinha agora e por mais que fuja dos problemas ao seu redor outra vez os velhos vícios voltam para sua vida dentre eles um em especial parece desejá-la mais do que antes. Ricardo Fontes é o tipo de cara misteri...