OFF: atenção, meninas. Este capítulo tem uma história que pode causar gatilhos de abuso, então quem for mais novinha ou já tiver passado por experiências ruins do tipo, POR FAVOR, não leia agora e pule este capítulo. Semana que vem tem capítulo novo e daí vocês continuam a história. Ficarei chateada se este capítulo causar algum mal estar em alguém, mas eu vou publicar por que acho que é uma história que pode servir de alerta para outras meninas e dar um pouco de apoio a quem já passou por isso, pois ninguém está sozinha nisso. Foi bem difícil para mim escrevê-lo, estamos todas juntas!
...
– Sua vez, Poliana – disse Ester.
– Bem – Poliana suou frio e engoliu a saliva, ela ainda estava imersa na história de Filipa e não esperava ter que contar algo do tipo. Ela olhou para Ester, depois seu olhar caiu sobre Filipa que a olhava ainda tristonha – Talvez eu possa contar uma história mais animada para melhorar um pouco o ânimo – falou Poliana virando o olhar para Ester.
– Desde que seja um segredo bem secreto – disse Ester que raramente usava redundâncias.
– Bom, acho que você vai gostar, foi de uma vez que eu e a Filipa estávamos... – iniciou Poliana, mas logo foi interrompida por Ester.
– Não, não quero uma história de vocês duas, deve ser algo que a Filipa também não sabe – Ester se impôs em Poliana.
– Ah, tem essa regra agora, é? – Poliana se fez de desentendida.
– Sim, depois eu explico meus motivos – disse Ester.
– Nesse caso – começou Poliana – Acho que o que me resta é uma história triste também. De certa forma faz sentido, né? São nossas histórias mais tristes as que mais guardamos para nós – Poliana começou a filosofar consigo mesma – Enfim, eu tinha cerca de 12 anos e ainda viajava com meus pais, os dois ainda eram vivos. Tínhamos recém chegado em uma nova cidade e eles iriam se apresentar nos dias seguintes. Era comum que sempre que a gente chegava em um lugar novo, no dia anterior a gente passeava para conhecer as ruas e os locais principais. Porém, dessa vez, meus pais estavam bem cansados da viagem e fomos direto para uma pousada – apesar do tom alegre da história, era notável uma voz melancólica em Poliana, ela falava com pesar, arrastando as palavras – Meus pais estavam bem cansados e haviam pedido para eu ficar em casa, mas vocês sabem como eu sou, né – Poliana esboçou um sorriso forçado – A tarde, quando eles dormiram, eu resolvi sair para passear sozinha pela cidade. Era um dia claro de verão, nada demais ia me acontecer. Embora não fosse uma cidade grande, ela era cheia de ruas apertadas e parecidas, eu consegui caminhar até a parte que tinha um centro comercial e uma feira, mas na hora de voltar, eu não fazia ideia para onde ir – Poliana deu uma pausa na narrativa, bebeu um pouco de água para molhar a garganta e retomou a história – Comecei a andar meio devagar, procurando me recordar de algo até que um homem mais velho percebeu que eu tava perdida e ofereceu ajuda, ele parecia bem simpático e eu expliquei a situação. Ele disse que ia me ajudar e que conhecia a pousada. Comecei a andar com ele então – Poliana desviava o olhar da meninas, fingindo que elas não estavam ali, era um jeito para ela conseguir contar a história – Depois de andarmos um pouco, chegamos até uma casa mais afastada em uma rua sem saída, ele disse que era a casa dele e que queria entrar rapidinho para beber água, fui com ele e ele me serviu suco. Ele então disse para eu esperar ali um pouco, pois ele não lembrava bem onde era a pousada, mas que iria perguntar para os vizinhos e que logo viria ali me buscar para me levar – Poliana mais uma vez pausou, desta vez respirando fundo, como se estivesse tomando ar para dar um longo e profundo mergulho.
– Tem certeza que quer continuar? – Perguntou Filipa. Enquanto ouvia a história, Filipa sentia um aperto no coração, ela já havia percebido o rumo que aquilo estava levando e temia muito que falar aquilo pudesse machucar demais Poliana – Tá tudo bem se você não quiser falar – Filipa completou olhando para Ester com as sobrancelhas arqueadas.
– Obrigada, amor – disse Poliana – Mas eu vou até o fim – Poliana sorriu para Filipa encontrando alguma motivação nas palavras de sua namorada e continuou a história – Até o momento eu estava tranquila, sem desconfiar de nada. Porém quando ele saiu, ele trancou a porta, achei um pouco estranho, mas tudo bem. Comecei então a andar pela casa. Eu sei, eu sou meio enxerida – Poliana riu novamente, mas novamente era um sorriso forçado – Era uma casa pequena e eu reparei que no quarto dele havia portas retratos com fotos de meninas, de momento achei que eram filhas ou sobirnhas dele, mas eram várias diferentes. Na escrivaninha, ao lado da cama, havia um álbum – Poliana parou olhando para o vazio – Cheio de fotos – as palavras doíam para sair – De muitas meninas – ela respirava fundo e tentava se concentrar – Em poses... erradas – os olhos de Poliana finalmente foram tomados por lágrimas – Eu corri para a porta e tentei abrir, mas ela estava trancada, no pavor eu tinha esquecido disso. Eu tava completamente desesperada, comecei a tentar forçar as janelas da casa, mas estavam todas fechadas. Foi quando comecei a ouvir um som da porta de entrada, era o som de chaves virando uma fechadura – Poliana agora contava a história com voz de choro, as lágrimas escorriam pelas suas fartas bochechas. Filipa a olhava pálida, com os olhos arregalados de medo – Eu corri para o banheiro e fechei a porta, mas ela não tinha tranca, mais uma vez me encontrei em desespero, então eu vi uma pequena janela acima da pia. Consegui subir na pia, me apertar pela janela e escapar para o lado de fora da casa. Eu corri. Corri muito, não importava para onde eu estava indo, só queria ficar longe dali – Poliana começou a cessar o choro e secar as lágrimas. Ela tomou mais um pouco de água, respirou fundo e continuou – Notei que estava de volta na parte comercial quando ouvi o grito da minha mãe me chamando. Ela e meu pai saíram para me procurar e agora me acharam chorando e correndo. Eu falei que estava assim porque tinha me perdido. Eu nunca contei essa história para eles, nem para nenhum amigo, realmente pra ninguém. Eu nunca senti tanto medo na minha vida e daquele ponto em diante eu decidi que nunca mais ia mentir ou desobedecer a meus pais – Poliana respirou fundo novamente – E foi isso – Poliana terminou a história com um olhar vazio, como se tivesse trazido toda fragilidade da época para aquele momento. Filipa a abraçou de imediato, ela pensou que deveria ter feito isso antes, mas estava praticamente em choque ouvindo a história. Até mesmo Ester, que sempre é muito fria, não tinha uma resposta para dar quando Poliana terminou de falar. Aquilo havia deixado as três meninas com uma sensação de pânico e insegurança.
– Fica bem, Poli – disse Filipa ainda a abraçando com a voz tremula – Infelizmente, nós meninas vivemos a mercê dessas coisas o tempo todo, é cruel que você tão pequena tenha passado por isso, mas a gente tem que encontrar conforto em nós mesmas – Filipa então dá um beijo na testa de Poliana – Infelizmente muitas meninas devem passar por coisas parecidas e até piores. Sei que foi difícil desabafar, mas isso pode ajudar eu e a Ester a tomarmos mais cuidado – Filipa a abraçava e falava baixinho em seu ouvido.
– Desculpa, Poliana, eu não esperava ouvir algo assim – disse Ester e em seguida deu um abraço nela, ficando as três abraçadas – Saiba que agora eu vou estar sempre aqui para te defender – Ester falava seriamente – O meu intuito era vocês se aproximarem mais, ao contar segredos a gente fica mais íntima da pessoa e confia mais nela, por isso eu queria que vocês contassem segredos que a outra não soubesse – explicou Ester – E por fim, vocês sabem que eu perdi a memória e praticamente todo meu passado, assim tudo o que eu já vivi foi junto de você ou do tio Pendleton, eu não sei o que é ter um segredo ou uma história só minha. Eu queria entender um pouco a sensação – disse Ester dando um meio sorriso. Aquela estava sendo uma noite de muitos sorrisos falsos – Obrigada por compartilharem isso comigo.
– E que tal se... – Poliana abriu um sorriso largo, talvez o primeiro sorriso sincero da conversa – A gente colocasse os colchões todos no chão, fizesse uma barraquinha com os lençóis e dormíssemos as três juntas – Poliana parecia uma criança empolgada. Filipa olhou com uma cara de desinteresse, mas topou, afinal sua amada estava empolgada. Ester, por outro lado, pareceu realmente animada, abrindo um doce sorriso infantil naquele rosto geralmente sério e analítico.
Elas colocaram os colchões, montaram os lençóis e dormiram amontadas uma sobre as outras. Um pouco abaladas e com o coração pesado pelas histórias, mas felizes por terem umas as outras. Todas tinham algo em comum: se sentiam finalmente parte de uma família.
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O Primeiro Amor de Poliana #Polipa - As Aventuras de Poliana
RomancePoliana está crescendo e descobrindo novos sentimentos. E é a pessoa mais inusitada que irá despertar nela uma emoção nunca antes sentida. Esta história é uma fanfic da novela as Aventuras de Poliana. Capa feita pela @Piczaai Comecei a fic antes do...