Meu nome é Ian

199 19 14
                                    

BONNIE



- Você acha que eles voltam? – Gena me pergunta enquanto observamos Ava e Dylan escondidas.
Eles parecem um pouco desconfortáveis, mas nada que os impeça de conversar e rir de vez em quando.
Acho que para todos aqui, eles são apenas mais um casal no seu primeiro encontro.
- Talvez. É difícil dar outra resposta quando não sei quase nada sobre eles.
- Sério? Achei que Ava fosse fechada só comigo.
- Não. Ela é com todo mundo. – digo. – Ela nunca me contou nada sobre o relacionamento deles. Era quase como se fosse um romance secreto ou algo assim. Eu só sabia das brigas depois que já tinham feito as pazes, e isso também quase nunca acontecia. Eles mal brigavam, e foi por isso que fiquei surpresa quando um pouco antes deles terminarem, o Dylan me pareceu inseguro sobre eles. Pelo visto não ter brigas, não significa necessariamente que o relacionamento vai bem.
Gena esquece a mão com amendoim no ar, e me encara com a boca aberta.
- É sério? – ela pergunta, completamente chocada.
- Muito sério.
- Mas ele não te falou nada?  Tipo, não deu nenhum detalhe do que estava acontecendo entre eles?
- Não. O Thomas apareceu bem na hora, e a gente mudou de assunto.
- Pelo visto não é só de agora que o caçula estraga as coisas. – ela resmunga, e então  joga o amendoim na boca.
- Gena. – exclamo.
- O quê? Eu tô certa.
- Será? Se as coisas já não estavam bem entre eles, será que então o Thomas não fez um favor?
Ela para de mastigar e me encara no mesmo segundo.
- É sério mesmo que você perguntou isso?
- Estou tentando ver as coisas por outro lado. – me defendo.
Não acho que o que Thomas fez tenha sido certo. Mas se o Dylan e a Ava já não estavam nos melhores dias, isso quer dizer que, talvez, num futuro próximo, o término fosse inevitável. Então o Thomas apenas adiantou isso... só que de uma maneira mais ...dolorosa.
- Pelo lado errado. – Gena diz, e volta a mexer no saco de amendoim.
Ignoro seu comentário e procuro pelo casal em meio a multidão, mas eles já não estão mais a vista.
Procuro então pelo o outro irmão, mas se foi difícil achar o Dylan, que dirá o Thomas, que deve estar se enrabichando com alguém em algum buraco escuro desse parque.
- Aquele gatinho não para de olhar pra você. – Gena sussurra ao meu lado.
Fixo meus olhos nela, para que sem querer eu não acabe procurando pelo tal cara, e acabe deixando claro que estávamos falando dele.
Gena está com a atenção em outro lugar, e presumo que esteja avaliando o rapaz.
- É um pouco mais alto do que você, e tem braços fortes. Aposto como tem tanquinho também. – ela morde o lábio, e me pergunto se essa avaliação é pra mim ou pra ela. – Nossa, ele tem um olhar tão intenso. Ele nem está olhando pra mim, e eu me sinto intimidada. – reviro os olhos e vejo quando os dela descem pelo corpo do rapaz. – Olha, é um gatinho mesmo, mas o rabo está na frente.
Quando compreendo suas palavras, meus olhos crescem no rosto e sinto minhas bochechas esquentarem.
- GENA! – repreendo.
- O quê? Essa informação é importante. – ela me olha de forma inocente.
- Não pra mim. – desvio o olhar do dela, e acabo acidentalmente encontrando o do garoto.
E...UAU.
Ele é praticamente um Jacob Black.
Seus fios são lisos e escuros, arrumados num topete meio certinho. E definitivamente os braços morenos parecem não caber nas mangas da camisa.
Ele deve ter mais de 18 anos, e isso é óbvio.
No primeiro segundo que percebe que minha atenção está nele, ele abre um sorriso de lado e parece aprofundar ainda mais o olhar.
Merda! Ele é muito charmoso... e quente.
- Que tensão sexual. – minha amiga diz ao meu lado, me tirando da bolha que eu tinha me metido.
Rapidamente olho para ela, e sinto o ar circular por meus pulmões novamente.
- Você está corada. – ela avalia com um sorriso. – Eu falei que o maluco era brabo. É melhor me levar mais a sério.
Pra evitar alguma resposta engraçadinha, não digo nada.
Levo o canudo até a boca e tomo um longo gole do refrigerante.
- Droga, meu amendoim acabou. – Gena diz, e encaro suas mãos ocupadas com um saco vazio. – Preciso de mais.
- Vamos lá. – já estou me pondo de pé, quando ela me segura com a mão.
- Fica aqui. Eu volto logo. – ela faz um gesto para o lado, indicando um certo alguém que ainda está nos olhando, e então sai.
Gena me larga num banco de madeira no meio do parque, completamente exposta aos lobos.
Tiro o celular do bolso da saia jeans, e finjo que meu corpo não está tenso com a atenção do desconhecido gostoso.
Mas minha encenação não leva muito tempo, já que cerca de dois minutos depois que Gena saiu, um par de pernas torneadas para a um metro de mim.
Encaro um tênis branco, duas panturrilhas fortes, uma bermuda jeans e uma camisa de listras brancas e azuis.
Faço uma pausa quando chego ao pescoço, porque lembro da intensidade daquele olhar. E depois de um preparo psicológico rápido,  continuo meu caminho e encontro uma boca sexy, um nariz levemente torto e olhos escuros como a noite.
Acho que estou de boca aberta quando termino minha avaliação.
- Oi. – ele diz com um sorriso que poderia ser tímido, se sua forma de se portar não deixasse nítido que ele sempre consegue o que quer.
- Oi.
- Sua amiga te abandonou? – ele brinca.
Encaro suas veias aparentes quando ele enfia as mãos nos bolsos e flexiona os braços.
- Quase isso. – me lembro de dizer.
Desvio meu olhar dos seus braços e procuro por Gena na fila do amendoim, mas ela não está lá. Três segundos depois a encontro de trás de um porte, comendo amendoim, mas com os olhos fixos em nós.
Quando nota que a encontrei, ela pisca um olho e ergue um polegar dando ok. E então ela dá as costas e caminha sem pressa e sem rumo, apenas saboreando seu amendoim.
Realmente a vida é uma ironia. Eu enganei a Ava para ela ficar com o Dylan, e agora Gena me enganou para me deixar sozinha com um completo estranho.
Que ótimo!
- Meu nome é Ian. – ele diz, atraindo minha atenção novamente.
- O meu é Bonnie.
- Bonito nome. – ele diz, e então senta no banco ao meu lado, mantendo um pouco de distância. – Mas tinha que ser né? Pra combinar com você.
A minha vontade é de sorrir e ao mesmo tempo revirar os olhos.
Eu quero perguntar da onde ele tirou essa cantada, mas não posso, porque ela conseguiu me fazer corar.
Droga!
Quando não digo nada e apenas sorrio, ele continua:
- Aproveitando a noite? – ele apoia a mão esquerda sobre o banco, se inclinando levemente na minha direção.
Penso na minha noite por dois segundos, e percebo que se eu só levei dois segundos pra lembrar de tudo o que fiz, é porque não fiz muita coisa.
Na verdade, minha noite se resume a roubar algodão doce da Gena, e se esconder da Ava.
- Nem um pouco. – admito, e ele parece confuso.
- Você está me dizendo que está num parque, numa ótima noite, e não aproveitou nada?
Exatamente isso!
- É, acho que sim . – abro um sorriso amarelo, e ele me observa como se eu fosse alguma espécie de enigma.
- Ainda bem que eu te encontrei. – ele se levanta. – Vem . Vamos consertar sua noite.- ele estende a mão pra mim, e meus olhos notam uma escrita na parte interna do seu antebraço.
Acho que minha atenção não foi tão discreta, já que ele abaixa a cabeça para ver onde meus olhos estão, e sorri.
- Sim, é uma tatuagem. – ele se aproxima mais de mim, me dando livre acesso para vê-la melhor.
Meus dedos tocam as letras escuras, enquanto leio “ Enjoy the journey”.
- “ Aproveite a jornada”. – falo em voz alta. – Por que você escolheu essa frase?
- Pra eu sempre me lembrar de aproveitar minha vida. Não importa se as coisas vão bem ou mal. É preciso simplesmente aproveitar a jornada, Bonnie.  – a forma como meu nome sai da sua boca, é tão sexy. É como mel escorrendo. – E é isso que vamos fazer agora. – ele fecha sua mão em torno da minha, e me puxa delicadamente até eu estar de pé. – Vamos aproveitar. Onde você quer ir primeiro? – seus olhos se fixam no meu rosto, enquanto tento lembrar quais brinquedos tem aqui.
- Pode escolher. – digo, porque eu não consegui pensar em nada.
- Tudo bem, então. – ele diz, e então nos afasta do banco, enquanto vejo de relance que os seus amigos lhe dão sinais de aprovação.
Ian parece já ter um plano traçado, enquanto me leva entre a multidão num caminho certo.
Quando vejo a enorme roda gigante iluminada, já sei pra onde ele está me guiando.
- Você não tem medo de altura, né?! – ele me olha por sobre o ombro, ainda com a mão quente na minha.
- Não. – é a minha resposta, e ele sorri satisfeito.
Nós entramos na fila, e nem mesmo assim ele solta a minha mão.
Eu não sei se me assusto com a intimidade, ou se aproveito o momento.
Meus olhos caem para o seu antebraço novamente, e leio a frase tatuada.
“ Aproveite a jornada.”
Só aproveite, Bonnie.
- Então... – começo. Ele desvia o olhar da fila e fixa sua atenção em mim. – Me fala sobre você.  Quero conhecer melhor o cara com quem estou andando de mãos dadas. – e como se lembrasse que ainda estamos com as mãos dadas, seus olhos caem até elas e ele abre um sorriso de lado.
- Eu posso soltar se você quiser. – ele sugere, mas um brilho no olhar dele me diz que ele não quer fazer isso. Mas tudo bem, nesse momento eu também não quero.
- Eu não disse isso. – abro meu melhor sorriso sedutor, e o dele se amplia ainda mais.
- O que você quer saber?
- Algo que você nunca contou a alguém antes. – respondo.
- Eu tenho medo de altura. – ele diz, e minha testa franze.
Ele percebeu onde estamos? É a fila do brinquedo mais alto desse parque.
Estou prestes a lembrá-lo desse detalhe, quando Ian solta uma gargalhada.
- É brincadeira, Bonnie.  Você tinha que ver a sua cara. – seus ombros tremem com a risada baixa.
- Muito engraçado. – respondo num tom azedo, e ele aperta delicadamente minha mão. – Ainda estou esperando um segredo seu.
- Tudo bem. Deixe-me me ver. – ele fita o céu por alguns segundos, e então me encara, divertido : - Eu fiz uma nova tatuagem, mas não contei pra ninguém ainda.
- Eu posso ver? – meus olhos já estão procurando um novo rabisco no seu corpo.
- Quem sabe um dia. – seus olhos brilham com a promessa. – Sua vez.
Um segredo meu? Droga, são tantos.
Penso nos meus segredos, avaliando qual deles é o menos pior.
- Quando eu era pequena, derramei corante na piscina de casa e culpei meus irmãos.
- Ah, então você tem irmãos. – ele parece curioso sobre isso.
- Tenho, dois. Eles são gêmeos.
- Sério? E como você faz pra distingui-los?
- Fácil. Eu pintei a nuca de um deles de loiro.
Ele gargalha tão alto, que algumas pessoas na fila se viram para nos olhar.
- Maneiro!
- Só ele que não acha isso. – brinco.
E então chegamos ao início da fila. Ian compra nossas fichas, e logo estamos nos acomodando na cabine.
- Me fala mais sobre você. – ele pede, quando já estamos mais no alto.
- Deixa eu vê...como já falei, tenho dois irmãos mais novos chamados Dylan e Thomas. Faço parte de um grupo de dança, e adoro roubar roupas dos meus irmãos, principalmente do Thomas.
- Essa roupa é dele? – ele olha para minha saia cintura alta com blusa de oncinha.
- Talvez. – brinco, e ele ri.
- Onde você estuda?
- High School Center. – respondo, mas ele não parece surpreso. – E você? – pergunto.
- Universidade da Califórnia.
Então eu de fato estava certa. Ele é mais velho.
- O que você estuda?
- Ciências Políticas.
Uau. Impressionante!
- Você já tem em mente para quais universidades vai se candidatar?
- Ainda estou pesquisando. – admito, o que é vergonhoso, já que estou no meu último ano e já deveria saber.
Ian não me julga, apenas balança a cabeça em concordância.
Ficamos num silêncio confortável, apenas admirando a beleza da cidade vista pelo alto.
- Então você é dançarina. – ele diz de repente.
Viro meu rosto na direção dele, e o modo como me olha, é como se já estivesse fazendo isso a um tempinho, eu que não tinha notado.
- Só agora que você percebeu isso? – sorrio.
- A informação estava guardada na minha memória. – ele bate o dedo indicador na lateral da cabeça.
Reviro os olhos, mas respondo :
- Sim, sou dançarina.
- Alguma chance de eu te ver dançar?
- Quem sabe um dia. – repito sua frase, e ele bufa com uma risada.
Mas o clima alegre quebra, quando sinto meu celular vibrar no bolso. Quando vejo o nome na tela, é como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre mim.
- Você não vai atender? – Ian pergunta, quando o celular continua berrando na minha mão, e eu só encaro a tela.
- Vou. – digo. Inspiro fundo uma vez, e atendo.
- Hey. – ele diz.
Seu tom é hesitante e nervoso.
- Hey.
- Será que a gente pode conversar?
Agora?
Olho para o cara ao meu lado, que tenta a todo custo não prestar atenção na minha conversa. Mas com uma cabine tão pequena, é impossível não ouvir.
- Agora não é uma boa hora, Ethan.
Há uma pequena pausa do outro lado.
- Claro, tudo bem, então. – ele soa desapontado.
- Tchau.
- Tchau.
Desligo a ligação, mas mantenho o celular na minha mão, como se esperando uma nova ligação ou mensagem.
- Era o seu namorado? – Ian pergunta, os olhos fixos no meu rosto.
- Não. – respondo. – Era só um amigo. – e então lembro da Susan e da cena no estacionamento da escola. Ele tem uma namorada agora, e eu sou apenas uma amiga.  Mas na verdade, eu nunca fui outra coisa.
- Você tem um namorado? – ele corrige a pergunta.
- Não. – guardo o celular no bolso, e tento voltar ao clima que estava antes.
Quero fingir que essa ligação nunca existiu.
- Por quê? – pergunto . – Você tem um?
Ele solta uma risadinha e me encara com atenção.
- Eu só queria saber se tenho permissão pra fazer uma coisa.
Eu nem preciso perguntar o quê. É exatamente o que eu preciso pra esquecer a ligação do Ethan.
- Você tem.
Ele não diz nada, mas nem precisa. Seus olhos já dizem tudo. Ele precisa disso tanto quanto eu.
Sua mão toca minha bochecha por um momento, apenas para que eu me acostume com o seu toque. E então ela desliza gentilmente até a minha nuca, e sinto meu coração palpitar em antecipação.
Já se passaram meses desde a última vez em que beijei alguém, então é normal que eu me sinta tão nervosa e ansiosa assim.
Ele aproxima seu rosto do meu, enquanto circula minha cintura com o braço livre, e me puxa de encontro ao seu corpo.
- Já falei que você é linda? – ele pergunta. Mas ao contrário de antes, não há humor na sua voz. Existe apenas um tom rouco e baixo, enquanto ele encara minha boca.
- Não. – consigo responder.
- Você é linda, Bonnie. Você definitivamente é a garota mais linda que eu já conheci. – e com essas palavras ele cola nossos rostos, selando minha boca com a sua.


Opa, opa, hein?! Parece que alguém está seguindo em frente. 😏
O que será que vai acontecer quando o Ethan descobrir esse "pequeno" detalhe?
Fiquem ligados nos próximos capítulos.
O último capítulo dessa semana, sai no último dia do ano.
Até lá, pessoal 🌼😘💃

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora