Um parque?

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DYLAN

Os dias nunca pareceram tão tediosos e vazios pra mim. Parece que depois de dividir meus dias com a Ava, eu simplesmente perdi o costume de aproveitá-los sozinho.
Cada vez que tento, sinto como se uma parte importante estivesse faltando, e é doloroso quando percebo que parte é essa.
Ava não fala comigo há dias. Tudo o que ganho é um sorriso perdido de vez em quando, quando nos cruzamos pelos corredores da escola .
Só percebi que ela evitava contato, depois de receber uma resposta monótona pela quinta vez consecutiva.
A partir daí, nossas “falas” se resumiram a meros sorrisos, como se fossemos apenas conhecidos se encontrando por acaso.
É horrível ver o quanto regredimos.
Achei que conseguiríamos ao menos manter uma relação amigável, mas ela parece disposta a evitar qualquer tipo de contato comigo.
- Que carinha feia é essa? – Desvio minha atenção do caderno, e ergo os olhos para a porta.
Meu irmão está casualmente encostado na porta aberta, com uma expressão neutra.
- Nada. Só pensando nas provas. – minto.
Thomas bufa, e com poucas passadas se joga sobre a cama arrumada.
- Você precisa aproveitar mais a vida, maninho. Você não vai ter 16 anos pra sempre.
- Você parece uma pessoa mais velha falando. – aponto, e ele ri.
- É exatamente por ter sua idade que eu sei que você precisa aproveitar. Vamos sair, curtir. Tem tanto lugar nessa cidade que a gente ainda não conheceu.
Isso é verdade!
- Preciso estudar, Thomas. – inclino a cabeça na direção da mesa abarrotada de livros.
- Não, você precisa de curtição. E pra sua sorte eu sou seu irmão e vou cuidar disso. – ele levanta da cama com um sorriso confiante no rosto, e antes de passar pela porta, diz : - Esteja pronto às sete.


***


-Você disse às sete. – reclamo, quando finalmente Thomas me encontra na sala.
- Primeira coisa que você precisa saber : nunca chegue na hora. Isso te faz parecer muito certinho. – ele caminha até onde estou, e me avalia dos pés a cabeça. – Vamos abrir alguma botões, você não é um padre. – ele desabotoa os dois primeiros botões da minha camisa e sorri. – Bem melhor.
Thomas caminha até a mesa e pega a chave do carro. Quando vê minha expressão de censura, ele sorri e me lança uma piscadela.
- Não conto se você não contar. – e então sai em direção a garagem, me deixando com a única opção de segui-lo.
Ele não me deu nenhuma pista de pra onde estávamos indo, e no fundo eu não queria saber. Aquela viagem de carro já era o suficiente pra mim. O silêncio do carro sendo preenchido apenas pelas músicas animadas, as luzes clareando a estrada, e o vento no rosto era tudo que eu poderia pedir naquele momento.
Só naquele instante percebi o quanto precisava me distrair.
Pouco tempo depois, quando uma roda gigante iluminada ganhou foco, percebi exatamente para onde estávamos indo.
- Um parque?
- Ah, cala a boca. Você vai gostar. – Foi tudo o que ganhei do meu irmão.
Fiquei calado pelo resto do trajeto, até finalmente passarmos pelos portões iluminados.
- Sinto como se tivesse 12 anos de novo. – saio do carro, minhas mãos tentando acalmar meu cabelo bagunçado pelo vento.
- Veja pelo lado bom : você vai poder ir em lugares que não podia com 12 anos. – Thomas responde, enquanto passa os dedos para bagunçar ainda mais o cabelo.
Entramos no parque e o cheiro de pipoca e algodão doce me dominam de imediato.
Tem tanto cheiro e tanta coisa pra ver, que por um momento eu só consigo encarar tudo e decidir para onde ir primeiro.
Thomas parece decidir por nós dois, quando caminha até um estande de tiro ao alvo.
Há um pequeno grupo tentando acertar ao menos um pato de madeira, mas a maioria dos tiros, senão todos, passam longe.
Thomas compra a ficha, e com poucos minutos já tem derrubado 5. Duas garotas parecem impressionadas com a habilidade do meu irmão, enquanto o que suponho serem seus parceiros, lhe lançam um olhar amargo.
Mas ele não nota. Nem a atenção das garotas, nem a indignação dos rapazes. Thomas apenas se concentra, e cada vez mais acerta nos pobres patos amarelos.
Dois minutos depois ele volta com um elefante rosa pendurado sob o braço.
- Você devia tentar.
- Não depois de você. – eu definitivamente seria um fiasco.
Caminhamos pelo parque sem destino, apenas escolhendo qual seria nossa próxima parada.
Quando um grande medidor surge no meu campo de visão, já estou caminhando em direção a ele.
Thomas fica para trás, observando em silêncio enquanto compro a ficha e seguro o martelo entre as mãos.
Respiro fundo três vezes, e então bato. O medidor sobe e para um pouco abaixo da pontuação máxima.
- Ah, não. Mais uma vez. – Thomas grita, e quando viro na sua direção, ele segura o elefante como se fosse uma criança pequena.
Eu acho ridículo, mas pela expressão das garotas que passam por ele, é exatamente o contrário.
Pego mais uma ficha e reúno toda minha força numa batida. Quando o ponteiro chega no maior valor, o sino toca e Thomas comemora.
- Isso foi tão sexy. – ele grita, fazendo com que uma gargalhada minha escape.
Depois de escolher um coelho como prêmio, uma imagem do passado me desanima.
Ava e eu estávamos com alguns meses de namoro quando viemos a um parque exatamente como esse. E em um momento da noite, eu ganhei um urso pra ela.  Será que ela lembra disso?
- Bonnie vai adorar os presentes. – Thomas diz ao meu lado, me trazendo de volta para o presente.
Volto minha atenção para o meu irmão, e vejo seus olhos intercalando entre o seu elefante e o meu coelho.
- O meu é mais bonito. – ele diz, e eu reviro os olhos .
Ele parece satisfeito com minha reação, até que seus olhos param em algo além de mim e ele parece surpreso.
- Ava. – ele cumprimenta com um sorriso na voz.
Sinto um suor imaginário brotar na minha testa, enquanto viro na direção que ele olha.
Ava está parada à alguns metros de nós, como se estivesse tentando entender alguma coisa.
Ela está linda, como sempre. Seu cabelo está preso num rabo de cavalo, e ela veste um macacão jeans e um top preto.
- Que surpresa te encontrar aqui. – meu irmão continua, e então caminha até ela.
Ignoro o incomodo que se forma no meu peito, e tento esquecer tudo que já aconteceu entre nós três.
Ele é apenas meu irmão, indo cumprimentar minha ex- namorada. E ela é ex, porque por um equívoco beijou meu irmão gêmeo ao invés de mim. Que ótimo!
- Oi, Thomas. – ela parece hesitante ao cumprimentar, como se ainda estivesse na dúvida se deveria fazer isso ou simplesmente ir embora.
Pela expressão nervosa, tenho quase certeza que ela está mais inclinada para a segunda opção.
- Dylan. – ela diz, seus olhos finalmente pousando em mim. – Eu não sabia que você vinha.
- Nem eu. – respondo, e ela abre um pequeno sorriso. – Thomas me sequestrou até aqui.
- Depois você me agradece. – ele responde, e então volta sua atenção para a Ava. – Passeando?
Seus olhos se fixam por mais alguns segundos em mim, até ela desviar o olhar e encarar meu irmão.
- É, eu...vim me encontrar com as meninas.
- Sério? Que coincidência. – ele responde, mas eu logo percebo que não tem coincidência nenhuma.
Thomas de alguma forma descobriu que ela viria aqui hoje, e deu um jeito de me trazer.
- Thomas. – chamo, mas quando ele olha pra mim, vejo que ele já tem tudo planejado.
- Você pode segurar isso pra mim? – ele lhe entrega o elefante que ganhou, e ela segura com confusão. – Estava ajudando o Dylan a segurar todos os prêmios dele, mas preciso de um refrigerante. Carregar esse elefante exigiu muito da minha beleza. Volto logo, crianças. – ele avisa, mas tanto eu, quanto Ava, sabemos que ele não vai fazer isso.
Observo enquanto meu irmão caminha sem rumo com tranquilidade, como se não tivesse acabado de me largar com a minha ex, que parece mais desconfortável do que eu jamais vi.
- Desculpa. Eu não sabia que ele ia fazer isso. – solto a primeira coisa que vem à minha cabeça.
- Tudo bem. Nós dois sabemos como o Thomas é. - ela diz, e então seus olhos caem para o elefante rosa. Ava parece perdida em pensamentos por alguns segundos, e me pergunto se ela lembra da nossa primeira vez num parque juntos. Pela expressão de dor que ela tenta esconder, eu digo que sim. – É bem fofo.- ela alisa as orelhas do elefante.
- Você pode ficar.
Vejo quando ela olha com carinho para o animal de pelúcia, como se fosse aceitar minha ideia; mas então seu semblante muda e ela pisca, como se estivesse saindo de um transe.
- A Bonnie vai adorar. – ela me devolve, e sem outra opção, aceito. – Falando nela, eu preciso encontrá-la.
- Eu vou com você. – digo rapidamente, e ela me encara. – Se quiser.
Seus olhos passeiam pela multidão ao nosso redor, como se estivesse procurando minha irmã ou talvez desejando que ela apareça magicamente.
Quando percebe que isso não vai acontecer, ela responde:
- Claro.
E por um curto segundo não posso conter a alegria de passar um tempo, mesmo que pequeno, com ela.

Próximo sai na véspera de Natal 🌼

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora