Podemos conversar?

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BONNIE




- Olha só quem eu achei perdido e trouxe  pra casa. – Thomas comemora da porta.
Dou pausa no filme e espero que ele apareça com um cachorro ou algum animal perdido.
- Por favor, me diz que é um cachorro. – peço. – Eu sempre quis um.
- Não fode, Thomas. – Dylan diz, e jogo fora a ideia de um animal de estimação. – Eu posso latir se você quiser.- ele me responde, e reviro os olhos.
- Olha só quem está de volta. – saio do sofá e caminho na direção do meu irmão para um abraço. – Mamãe vai ficar feliz quando te ver.
- Ela não está em casa?
- Precisou sair. Você sabe, trabalho. – respondo, e ele dá de ombros.
- Vou tomar um banho.
- Dylan ? – a voz do meu pai ecoa até a sala, e poucos segundos depois ele surge .
Sua testa franzida é substituída por uma expressão de alívio quando vê o filho.
- Finalmente. – ele puxa Dylan para seus braços, e fecha os olhos. Dylan apenas ri, como se tentasse esconder que não está feliz por estar em casa.
- Preciso de um banho, pai. – ele resmunga, ainda entre o abraço apertado do pai.
- Claro. – ele responde, e então permite que o filho saia.
Quando Dylan some no topo da escada, Thomas diz :
- De nada.
- Pelo quê? – meu pai pergunta, com uma leve carranca.
- Trouxe seu filho de volta. – Thomas se gaba.
- Você trouxe meus dois filhos de volta. – ele põe o braço sobre o ombro do filho caçula. - Você não parecia o mesmo há dias. Fico feliz que esteja voltando a ser o velho Thomas de novo. – meu pai pisca, e então volta para onde quer que estivesse antes.
- Como assim? Quando eu parei de ser eu?- ele me olha confuso.
- Difícil dizer.  Você nunca foi...como posso dizer? – procuro a palavra certa - ... Normal. – abro um sorriso sarcástico e ele bufa. – Seu normal é com uma garota nova a cada dia? Ou quando está em celibato? Quer dizer, alguma vez você já fez isso? Você ao menos sabe o que é? – testo.
- Claro que sei. – ele bufa, mas deixa óbvio que não sabe. – Olha só, eu até queria te dar os parabéns, mas mudei de ideia. Acho que o Ethan ainda não sabe onde se meteu. – ele já está caminhando em direção a escada, quando compreendo suas palavras.
- Espera aí. Parabéns pelo quê, e o que o Ethan tem a ver com isso?
- Não precisa fingir, Bonnie. O Connor me disse.
- Disse o quê?
Do que o Thomas tá falando?
- Sério que você vai continuar? – sua expressão é  cansativa, como se estivesse esgotado demais para essa conversa.
- Thomas, eu não sei do que você tá falando.
Não tenho certeza se foi minha expressão confusa ou minhas palavras sinceras, que finalmente o fizeram perceber que eu não fazia ideia do que ele estava falando.
- Connor me disse da conversa que teve com o Ethan. – ele começa, mas para, como se esperando que essa pequena informação desprenda alguma memória em mim. Quando não demonstro nada além de impaciência, ele continua : - Ele disse que o Ethan foi pedir conselhos...sobre você.
Sinto meu coração palpitar tão forte, que é como se tentasse sair do peito à socos.
- Sobre mim?
- É. Parece que ele conversou com a namorada, ou...ex, não sei. Não entendi muito bem essa parte. Mas ele abriu o jogo e decidiu ficar com você. Então parabéns, maninha. Você conseguiu fisgar o boy. Nunca duvidei de você. – ele soa como um pai orgulhoso, mas eu só consigo pensar em uma frase.
“ Ele decidiu ficar com você”
O Ethan conversou com a Susan, e mesmo a amando há tanto tempo, ele escolheu a mim.
- Mas espera. – ergo um dedo. – Quando você soube disso?
- Hoje no almoço, por quê?
A tentativa do Ethan antes da aula começar. Era isso que ele ia me dizer e eu não deixei.
- Você não sabia mesmo? – ainda parece difícil pra ele acreditar.
- Não. Ele tentou conversar comigo há poucos dias, mas preferi conversar com a Ava, o que no fim não deu certo, porque ela simplesmente sumiu.
Eu não acredito nisso.
- Bom, foi pouco tempo. Duvido que ele tenha mudado de ideia. – Thomas dá de ombros, e sem mais nenhuma palavra sobe em direção ao quarto.
Eu encaro a parede como se visse a cena se passando na minha frente. Ethan nervoso para me contar alguma coisa, e eu totalmente distraída com a situação dos meus irmãos com a Ava. Tinha tantas perguntas pra fazer na tentativa de ajudar a relação deles, que possivelmente acabei perdendo a minha chance de ter uma relação com quem eu quero.
Preciso fazer alguma coisa, mas o quê?
Não sei onde ele mora, e não tenho o número do celular dele.
Connor! Ele deve ter.
Meus pés são silenciosos enquanto subo os degraus até o meu quarto. Meu celular está sobre a cama, e rapidamente digito o número da Gena.
- Manda. – é a primeira coisa que ela diz quando atende.
- Preciso de um favor.
- Pode dizer.
- Preciso do número do Ethan.
Há uma pausa do outro lado da linha, até que Gena solta uma risada alta.
- Esse tempo todo e vocês ainda não tem o número um do outro?  Estão tentando trazer o romance de época de volta? Vão se comunicar por cartas, agora?
Reviro os olhos e bufo.
- Você vai conseguir o número dele ou não?
- Eu já tenho. – ela responde simplesmente.
- Desde quando?
- Desde que ele começou a andar com o meu namo... Com o Connor.
Huuumm! Agora faz sentido.
- Hum. Entendi. Me manda.
- Pode deixar.- ela diz, e então desliga.
Dez segundos depois recebo o contato por mensagem.
Minha respiração parece falhar enquanto observo o número.
Mando mensagem ou ligo? E se ligar, o que eu vou dizer?
Não, melhor mensagem. Assim ele não ouve a insegurança na minha voz.
Salvo o número no meu celular, e mando um simples “ Hey”.
Encaro a tela do celular enquanto um segundo tracinho aparece.
Ótimo, ele recebeu.
Mas nos próximos trinta minutos não há nenhuma resposta. E eu passei cada minuto aflita.
Porém, quando estou saindo do banho dez minutos depois, meu celular apita com uma notificação.
Meus pés param por dois segundos na soleira da porta, e então estou caminhando com pressa em direção a penteadeira.
“ Hey”
Foi tudo o que ele disse.
“ Podemos conversar?”
Ele parece hesitante quando vai responder, e automaticamente me sinto idiota por ter tentado. Está claro que ele já esqueceu.
“ Desculpa, B. Agora não é uma boa hora.”
Quando leio as palavras, meu corpo murcha.
“ Tudo bem”
Respondo. Não quero perguntar o porquê, e nem saber se está tudo bem. Não vou insistir no assunto.
Jogo o celular sobre a cama, e volto para o closet.

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora