BONNIE
Estou conversando com minha avó há cerca de vinte minutos quando meus irmãos chegam.
E quando escuto um par de botas desengonçado subir a escada, sendo seguido por um praguejo, já sei que andaram aprontando.
- Só um segundo, vó. – peço, e quando ouço um “tudo bem” do outro lado, deixo o celular sobre a cama e corro para o corredor.
Thomas está agarrado ao corrimão, subindo com dificuldade.
- Eu sabia que vocês não estavam na casa do Connor.
Ele ergue os olhos quando ouve minha voz, e bufa.
- Estava torcendo pra que já estivesse dormindo. – ele diz.
- Que pena acabar com seu plano. – respondo. – Onde vocês estavam, Thomas?
- Quando a mamãe não tá, você assume o lugar dela, é? – ele me encara com deboche e reviro os olhos.
- Não preciso ser sua mãe pra saber onde você estava.
- Não preciso ser sua mãe pra saber onde você estava. – ele me imita, exagerando na voz fina. – Só saímos pra curtir. Não foi nada demais.
- Sério? Porque você parece bêbado demais.
- Não enche, Bonnie. Não é nada que você já não tenha feito antes.– e com isso ele passa por mim e segue para o seu quarto.
Volto para o meu quarto, deixando a porta aberta ao passar por ela, e me deito na cama novamente.
- Voltei. – anuncio para minha avó.
- Está tudo bem?
- Está sim. Eu só fui pegar um copo com água. – minto, porque não quero que minha avó saiba como meu irmão está...ou irmãos.
Ainda não vi o Dylan, mas ele não deve está muito diferente do irmão.
- Então continua. Me conta mais sobre o Ian. – ela pede, e sinto um sorriso brotar no meu rosto.
Adoro que ser tão amiga da minha avó.
- Ah, vó! Ele é lindo. – solto um suspiro.
Há uma risada do outro lado da ligação.
- Você já disse isso. – minha avó me lembra. – Quero outros detalhes. Como ele é?
- Ele é moreno, um pouco mais alto que eu, e...- mas me interrompo quando vejo o relance de alguém na minha porta. Não quero que meus irmãos escutem minha conversa.
Mas quando ergo a cabeça para expulsar qualquer que seja o gêmeo, meu coração salta.
Não é um dos gêmeos. É o Ethan.
Eu abro a boca, mas nada sai dela.
São tantas perguntas na minha cabeça, que não consigo me concentrar em só uma para fazer.
O que ele faz aqui? Como conseguiu entrar? E pior, cadê a camisa dele? Será que ele foi assaltado?
- Bonnie. – ele diz surpreso.
Seu cabelo está mais bagunçado do que o habitual, e ele parece indeciso entre alívio e alegria enquanto me olha.
- O que você tá fazendo aqui? – pergunto.
- Como, querida? – minha avó pergunta, confusa.
- Desculpa, vovó. Não foi com a senhora. – me apresso em dizer. – Olha, eu preciso resolver uma coisa rapidinho. Posso falar com a senhora depois?
- Claro.
- Tchau, vó.
- Tchau, querida. – ela diz, e então eu desligo.
- Ethan, o que você tá fazendo aqui? – sussurro, ao mesmo tempo que me levanto da cama e caminho até ele. – Como conseguiu entrar?
Ele parece precisar de muito esforço para pensar numa resposta.
- Eu saí com os seus irmãos. – ele diz lentamente, como se estivesse se lembrando dos fatos.
Ah, que maravilha.
Mais um bêbado para a coleção.
- E o que você tá fazendo aqui?
- Eu vou passar a noite aqui.
- O QUÊ?! – quase tenho um infarto. – Por quê?
- Não quero que minha mãe me veja assim, Bonnie.
- Bom, então não deveria ter bebido. – respondo, mas no mesmo segundo que ele se encolhe me sinto culpada, então mudo de assunto. – Cadê a sua camisa?
Seus olhos caem para o peito nu, e contra minha vontade faço o mesmo.
Droga de peitoral.
- Eu não sei. – sua testa se enruga.
- Tá tudo bem. Tenho certeza que algum dos meus irmãos tem uma camisa que te sirva.
- O que eu falei? – Dylan diz com a voz amarga, atraindo minha atenção para a escada. – Eu falei pra você ficar longe da Bonnie. – ele fuzila o Ethan com os olhos.
- Minha porta estava aberta, Dylan. Ele passou e me viu.
- Que coincidência. – meu irmão zomba. – Vamos. Você precisa tomar banho e eu preciso arranjar um lugar pra você dormir. – ele não espera por uma resposta do Ethan, apenas segue seu caminho até o próprio quarto.
- Desculpa, eu não queria te incomodar.- Ethan me diz.
Ele parece tão perdido, tão desolado, que sinto uma vontade quase que incontrolável de abraçá-lo.
- Não incomodou. – lhe asseguro.
Ele permanece de pé, me olhando com algo triste nos olhos.
Algo parece lhe incomodar, mas não tenho certeza se quero saber o que é.
- Bom, é melhor você ir.
Ele pisca com a minha resposta, como se tivesse tomado consciência agora que estava parado me observando.
- Ham, claro. A gente se vê amanhã?
- Claro.
Ethan parece satisfeito com a minha resposta.
- Boa noite, Bonnie.
- Boa noite. – respondo.
E então lentamente ele se vira, e segue seu caminho até o quarto do Dylan.
Volto para o meu e fecho a porta.
Minha respiração está oscilante no peito, e preciso de alguns segundos para me acalmar.
Assim que isso acontece, eu pego meu celular da cama e mando uma mensagem para a Ava.
O Ethan tá aqui.
Para minha sorte ela não demora a ver, e logo já está me mandando uma resposta.
Na sua casa???
É. Ele saiu com os meninos.
Pra onde?
Algum bar ou boate. Ele e o Thomas estão bêbados.
Dessa vez sua resposta demora.
E o Dylan?
Ele não tá. Ou pelo menos, não muito.
Que bom!
E o que eu faço? O Ethan vai dormir aqui.
E o que seu pai acha disso?
MERDA! MEU PAI.
Eu tinha esquecido completamente disso.
Ele não tá em casa. Meus pais saíram. Mas o Dylan dá um jeito, afinal o amigo é dele. Mas... Não sei o que fazer, Ava. O Ethan e eu... É complicado.
Amiga, se ele tá bêbado, a única coisa que ele vai querer é dormir. Depois vocês conversam. Só relaxe, ok?
Repito suas palavras várias vezes na minha cabeça, e solto um suspiro.
Tudo bem. Você tem razão.
Eu sei que tenho. Agora relaxe. Precisamos treinar amanhã, e eu não quero você estressada. Os treinos são sempre os piores quando você está assim.
Solto uma risada culpada.
Já relaxei.
AMÉM!
Com um sorriso bobo, jogo o celular na cama e desço para a sala de estar.
Mesmo com meus dois irmãos em casa, ela parece silenciosa.
Mas aí o pensamento me ocorre:
Ethan.
Minhas pernas se atrapalham quando lembro que há uma terceira pessoa.
Tudo bem, tudo bem!
Não é algo comum tê-lo aqui, mas também não é algo de outro mundo.
Ele é amigo dos meus irmãos. É normal que durma aqui.
- É. É normal. – digo em voz alta, tentando de alguma forma me tranquilizar com essas palavras.
- O que é normal? – uma voz pergunta, e solto um gritinho com o susto.
Olho na direção da escada, e encontro Dylan descendo.
- Não sabia que você falava sozinha. – ele observa.
- Nem eu. – admito para mim mesma. – Só estava cantando uma música. – minto para ele.
- Hum. Acho que não conheço.
Que bom!
- Cadê o seu amigo? – pergunto.
Dylan solta um suspiro cansado, e se senta no sofá ao meu lado.
- Tomando banho. – ele responde, e faço um leve aceno com a cabeça, fingindo desinteresse.
Dylan não parece convencido com minha atuação, e me olha como se estivesse atento a qualquer sinal que eu possa deixar escapar.
- Você não precisa fingir pra mim. Para os nossos pais? Talvez. Mas pra mim não.
- Não sei do que você tá falando. Não tô fingindo nada. – pego o controle sobre a mesa, mas a única coisa que consigo fazer com ele, é jogar de uma mão para a outra, tentando me acalmar e ao mesmo tempo atrair a atenção do Dylan para as minhas mãos, e deixar meu rosto expressivo demais longe da sua avaliação.
- Eu sei que é difícil pra você vê-lo aqui. – Dylan diz, infelizmente ainda olhando para o meu rosto. – Por um segundo eu quis dizer que ele não podia vir, mas... algo nele me dizia que ele precisava. Não só pela bebedeira, mas algo além disso. – nesse momento minha atenção está toda focada no meu irmão.
- Como assim? – pergunto, sedenta por qualquer informação nova que eu possa ter sobre o Ethan.
- Você não acha estranho que ele não fale sobre o pai?
Finalmente alguém percebeu a mesma coisa que eu.
- Sim, claro. Mas ele nunca pareceu aberto a conversar sobre isso, então nunca tive coragem de perguntar.
- Ninguém tem. Sempre que a palavra “pai” é mencionada, o Ethan fecha a cara.
Hum. Interessante.
- Você acha que o pai dele morreu?
- Ou ele não tem uma boa relação com o pai. – Dylan sugere.
- Pode ser.
Um minuto de silêncio se passa entre nós, enquanto de forma individual, pensamos nas razões pelo Ethan ser assim.
- Você sabe alguma coisa sobre a família dele? – meu irmão me pergunta.
- Sei que ele tem uma irmã mais velha, mas ela preferiu ficar em Ventura. Então aqui, ele só tem a mãe.
- Merda! – Dylan se põe de pé rapidamente. – Ele precisa avisar a mãe onde tá.
Solto uma risadinha ao ouvir isso, e meu irmão me encara.
- Falei alguma coisa engraçada?
- Você até tenta não ser o responsável de nós três, mas esse papel não te abandona. – respondo, e ele sorri.
- Fazer o quê? Alguém tem que ser. – ele responde, e mostro a língua. – Ham, Bonnie?
- Oi?
Qualquer sinal de humor deixou seus olhos, e agora eles parecem penosos.
- Eu sei que é ridículo te pedir isso, mas...tenta conversar com o Ethan. Sei que a situação entre vocês não é a das melhores, mas você deve ser a única pessoa com que ele pode confiar de verdade agora.
Sou pega completamente desprevenida com esse pedido.
Dylan preocupado com o Ethan? Essa é novidade.
- Ham...claro.
Dylan assente com um sorriso raso.
- Agora vá cuidar do seu irmão postiço. – brinco, e ele revira os olhos.
- Que bom que você considera ele um irmão. Assim não preciso vigiá-lo a noite, não é mesmo? – ele ergue uma sobrancelha atrevida, e sinto meu estômago dá um nó.
- Se manda logo daqui. – o empurro em direção a escada, porque na verdade, eu não quero que ele veja como meu rosto deve estar vermelho agora.
***
Já são quase onze da noite quando deixo a sala e volto para o meu quarto novamente.
Uma parte minha diz que eu só estava no andar de baixo esperando meus pais chegarem; mas a outra joga na minha cara a verdade: eu estava esperando que o Ethan me procurasse para conversar.
Não sobre nós. Até porque não há mais nada para se conversar.
Mas conversar sobre ele.
Qual a história dele? Quais os seus segredos? Por que ele não conversa sobre a família? O que aconteceu para que ele se fechasse tanto, ao ponto de não conseguir falar nada a respeito?
Mas claro que eu não tinha respostas para essas perguntas. Porque pra eu ter as respostas, eu precisaria fazer as perguntas, e pra quem eu faria se ele não deu as caras?
Fecho a porta da quarto e caminho até o meu banheiro. Escovo os dentes, prendo meu cabelo num rabo de cavalo, e lavo o rosto.
Depois visto meu pijama, e me deito na cama...mas o sono não vem. E ao invés de me aconchegar ainda mais na cama e fechar os olhos, eu pego o celular sobre a mesinha e digito Ethan Jones na minha pesquisa.
Aparecem milhares deles. Mas minha busca pelo Ethan Jones certo leva cerca de três minutos, até finalmente encontrar na foto de perfil, o mesmo cabelo e olhos escuros que já me são familiares.
A primeira coisa que noto, é porquê eu não fiz isso antes? Teria evitado muita coisa.
Mas ao olhar suas publicações, percebo que eu não descobriria muita coisa se tivesse pesquisado por ele antes.
Suas fotos são sempre de lugares, e nunca de pessoas.
São palmeiras, praias, pranchas de surf, sombras na areia...mas não há nenhum rosto.
A foto do perfil é a única dica que é do Ethan, de fato.
Passo pelas fotos e encontro um vídeo curto. É do Ethan surfando.
A data marca um ano atrás.
Seu cabelo estava mais comprido e levemente mais claro, como se pela exposição ao sol, alguns fios tivessem se tornado loiros.
Ele desliza sobre a água com tanta facilidade, que me pergunto desde quando ele sabe surfar. Pela forma como aquilo lhe pareça tão natural, presumo que seja há muito tempo.
A última cena do vídeo é uma imagem do Ethan de perfil, sorrindo enquanto se equilibra sobre a prancha.
Ele parece tão feliz, que me ocorre que eu nunca o vi desse jeito. Já faz quase um mês que o conheço, e eu nunca vi ele exibir esse sorriso.
O que aconteceu para tirar esse sorriso dele?
Passo mais algumas publicações, até finalmente encontrar uma que ele esteja na foto. O problema é que ele não está sozinho. Susan está ao seu lado, com um sorriso imenso.
Eles parecem tão felizes, que aquilo me incomoda.
Droga, Bonnie! Não seja assim.
Digo isso para mim mesma várias vezes, mas a frase perde a importância quando leio os comentários.
Pelo visto eles eram o casal sensação da escola.
Não há um mísero comentário que não elogie a beleza do jovem casal, ou que não fortaleça que o amor deles é eterno.
Com a respiração presa, passo a foto e encontro mais postagens de lugares, de desenhos em paredes...até finalmente encontrar uma foto em família.
Parece ser o aniversário do Ethan, já que ele está no meio de duas mulheres loiras, com um bolo sobre a mesa.
Não tem como negar que as duas mulheres são parentes. Ambas possuem um cabelo loiro claro com fios lisos, e olhos de um castanho claro, quase verde.
A diferença, é que enquanto a mais velha prende duas mechas para trás, a mais nova usa um rabo de cavalo alto.
O Ethan parece contente entre elas, e mesmo com a diferença do cabelo e dos olhos, ele e sua irmã conseguem ser muito parecidos. O sorriso é exatamente o mesmo.
Movida pela curiosidade, leio alguns dos comentários.
Quase todos são felicitações. Exceto um.
O último diz : “Eu soube. Sinto muito.”
Soube o quê? Sente muito pelo quê? O que há com essas pessoas que não falam as coisas por completo?
Clico no comentário, e ele me leva para a conta de uma senhora. Pelo sobrenome, e por não ter nenhuma foto com o Ethan, presumo que não tenha nenhum grau de parentesco com ele. Talvez seja apenas uma vizinha mexeriqueira.
Uma batida tímida na porta me faz derrubar o celular sobre mim.
- Droga. – deixo escapar, enquanto pego celular novamente.
Com o coração acelerado, levanto da cama e caminho silenciosamente até a porta.
Quando a abro, a luz do corredor ilumina o motivo da minha pesquisa:
Ethan Jones.Eitaaa! E agora? 😱
Vou postar o próximo na sexta 🌼
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A barraca do beijo 2
RomanceHISTÓRIA SOBRE OS FILHOS DO NOAH E DA ELLE. Iniciada em : 30 de maio de 2020. Bonnie pode ser confundida com uma típica garota do colegial. É bonita, popular, e poderia facilmente conseguir qualquer cara que quisesse. Exceto, que o único cara que c...