Só uma provinha

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BONNIE

Nunca imaginei que o aniversário dos meus irmãos fosse chegar tão rápido. Pra eles pode ter demorado séculos pra chegar, mas pra mim, pareceu apenas alguns meses.

Eu não consigo ignorar a sensação de incômodo. É como se houvesse um alfinete espetando meu coração sempre que penso que meus irmãos não precisam mais de mim.

Quer dizer, eles nunca precisaram. Eles sempre tiveram um ao outro para se apoiar. Talvez fosse por esse motivo que eu gostasse tanto deles precisarem de mim pra ir a qualquer lugar.

Lembro quando a mamãe me contou que seria minha responsabilidade levar meus irmãos pra escola. Eu nem reclamei, porque foi naquele momento que eu senti que era irmã mais velha. Era fácil esquecer disso quando meus irmãos era tão independentes de mim, e ao mesmo tempo tão dependentes um do outro.
Pelo menos uma vez eu ia fazer o papel de irmã mais velha, e iria levar meus irmãos pra escola... até agora. Eu só tenho alguns meses antes que eles não precisem mais de mim.

– Filha? – ouço a voz doce da minha mãe, e imediatamente abro um sorriso. – Está pronta? Precisamos ir.

Esqueço do meu reflexo no espelho, e olho para a minha mãe na porta.
Ela está linda no seu vestido preto de alcinhas finas, e seu cabelo está solto, lhe dando um ar mais jovial. Minha mãe facilmente passa por 25 anos, algo que com certeza é vantajoso, principalmente quando se está indo para a festa de seus filhos de 16 anos.

– Estou.

– Você está linda, querida. – ela responde, seus olhos emocionados me avaliando.

Estou com uma calça jeans com rasgos  abertos, uma bota coturno preta, e um top frente única de oncinha. Coloquei argolas douradas e um batom vermelho para completar o look, junto com uma boina preta.

– Valeu, mãe. Mas hoje com certeza os olhares vão estar em você.

– Que isso, B? Eu não vou pegar no pé de vocês. Eu sei como os jovens são.

– Não é porque você é a mãe, é porque você é gata. – esclareço, e ela sorri envergonhada.

– Você só está tentando me comprar. Mas não se preocupe. Nós, os adultos, vamos sair antes da festa acabar. – ela me lança uma piscadela e então desaparece no corredor.

Ah, com certeza vão!

Me olho no espelho mais uma vez, e então ajeito um fio do meu cabelo fora do lugar.

Ao que parece, está tudo onde deveria estar agora.

Um suspiro escapa da minha boca, e estou quase caminhando para fora do quarto quando o celular vibra sobre a minha cama.

Sinto um frio na barriga ao caminhar até lá e observar a tela.

É o Ethan.

Deve ser a terceira mensagem dele em dois dias que eu ignoro, porque tenho medo de descobrir o que ele tem pra me dizer. E como não quero estragar minha empolgação com a festa de hoje, prefiro fazer o que eu sei de melhor: ignorar.

Deixo o celular sobre a cama, apago a luz e fecho a porta.

Não quero distrações está noite.
Desfilo pelo corredor até a escada, e quando chego ao topo, encontro meus pais e meus irmãos na sala.

Dylan parece a caminho de um velório, enquanto o Thomas parece animado pelos dois.

A diferença entre eles não para por aí. Hoje eles estão exatamente o oposto um do outro.

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora