Thomas

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    THOMAS

Subo as escadas com pressa, enquanto Legend berra nos meus ouvidos. Algumas pessoas me olham com curiosidade enquanto passo por elas, e me pergunto se minha expressão está tão ruim assim. Será que a minha raiva está tão na cara?
Olho para a secretaria, e vejo meu reflexo enraivecido no vidro.
Porra!
Isso é culpa dela. Sempre que eu fico perto dela, isso acontece. Preciso disfarçar meu interesse nela, e a única forma que consigo de não sorrir a cada vez que ela abre a boca, é não conversando com ela. Preciso agir como um babaca, e fingir que não quero ouvir sua voz.
Enquanto a verdade, é que é a voz dela que eu sempre ouço. Eu procuro por  ela em outras garotas. Procuro sua risada, sua voz, seus olhos...mas nunca encontro. E isso é uma merda. Porque ela é a namorada do meu irmão, e eu não deveria me sentir assim em relação a ela.
Nem lembro quando essa paixão ridícula teve início. Bonnie e Ava são amigas há tanto tempo, que fica difícil lembrar quando a conheci. Mas eu nunca levei a sério o que sentia por ela. Porra, eu era só um garoto que tinha uma queda pela melhor amiga da irmã.
Mas olha pra mim agora. Anos já se passaram, e eu não superei isso. E pior, parece que eu gosto dela cada vez mais. Não tem nada nela que não me atraia. Ah não ser, claro, o namorado. Meu irmão.
Como eu posso fazer isso com ele? Ele é meu irmão gêmeo. Não tem como ter uma ligação maior que essa.
Mesmo sendo só três minutos mais velho, Dylan sempre cuidou de mim. Quantas vezes fiquei doente e ele me deu remédio? Quantas vezes fez provas no meu lugar porque eu não tinha estudado? E como eu agradeço tudo isso? Me apaixonando pela namorada dele.
Uma parte minha me tranquiliza, e diz que provavelmente eu gostei dela primeiro. Mas a outra me culpa, e esfrega na minha cara o irmão fodido que sou.
Eu sei que não sou um cara legal. Muitas meninas podem provar isso.
Ai, merda! Eu sou uma baita fodido.
Paro no meio do corredor movimentado, e passo a mão no rosto.
O que eu tô fazendo da minha vida?
Nesse instante, alguém toca meu ombro e abro os olhos para ver meu primo, Jude.
Ele mexe a boca, mas com o som berrando em meus ouvidos não consigo entender nada.
- O quê? – pergunto, enquanto tiro os fones.
- Ah, você tava com fone. Tá explicado porque passei os últimos 20 segundos te chamando, e você não parou. – ele diz, e então ajeita a mochila no ombro.
- Foi mal, cara. Tava distraído.
- Eu notei. – ele diz, e então caminhamos até o armário dele. – O que aconteceu? – ele abre o armário, e pega alguns livros de lá, mas então seus olhos são direcionados para o corredor, e ele me olha com pena.  - Já saquei. – ele diz, e eu viro para o corredor, até encontrar Bonnie e o casal perfeito de mãos dadas. Ava ri de algo que o Dylan disse, e ele passa seu braço pelo ombro dela, a puxando para um beijo.
O sangue esquenta em minhas veias, e meus punhos se fecham ao lado do corpo.
Como se a cena no carro não tivesse sido o suficiente.
- Não esquenta. - Jude diz. – Só relaxa. Eles vão passar direto.
E quando ele fecha a boca, Bonnie olha em sua direção e abre um sorriso de orelha a orelha.
Merda.
- Jude. – ela grita, e então corre e se lança sobre ele. – Estava com saudade.
- Você me viu há 3 dias. – ele brinca, enquanto a abraça apertado.
- E daí? Não posso sentir falta do meu primo?
- Claro que pode, B. Você pode tudo. – ele diz, e ela abre um sorriso satisfeita.
- Como é que tá cara? – Dylan diz, e observo enquanto os dois dão um toque de punhos fechados.
- Bem, e você?
- Também.
- Ava. – Jude a cumprimenta, e ela instantaneamente abre um sorriso.
- Oi Jude.
- Agora tá explicado porque ele saiu daquele jeito do carro. A outra metade dele estava esperando. – Bonnie diz, e Ava ri.
Dylan apenas bufa e desvia o olhar.
- Bom, vamos indo. Preciso encontrar as meninas. – minha irmã diz, e então nos dá um aceno e caminha em direção ao fim do corredor, cumprimentando algumas pessoas ao passar por elas.
- Vejo vocês na sala. – Dylan diz, e então puxa Ava na mesma direção por onde a Bonnie sumiu.
E claro, ela vai de bom grado, mas não antes de olhar por sobre o ombro e me lançar um sorriso.
- Ah, cara. Você precisa superar ela.
- Você acha que eu não sei? – pergunto, meus olhos ainda grudados nela.
- E qual o plano? Continuar sendo um babaca?  – ele pergunta, e então fecha o armário.
- Eu não sei. As vezes me sinto culpado por ser um idiota com ela.
- E de que outra forma você poderia afastá-la? – ele pergunta, mas eu já sei a resposta.
É algo que venho fazendo há muito tempo.

                                 ***

-Sério isso? – Bonnie pergunta, e eu me afasto da garota para encarar a expressão de nojo da minha irmã mais velha.
Estamos no refeitório, numa mesa com Dylan, Ava, Jude, Bonnie e suas seguidoras. Tem uma garota sentada no meu colo, enquanto meus dedos brincam com o seu cabelo. Ela puxa um espelho da bolsa, e retoca o batom vermelho.
Não quero nem imaginar como minha boca deve estar.
- O quê?! – pergunto de forma inocente.
- Tanto lugar nessa escola, e você decide dar uns amassos logo aqui?!
- Qual o problema?! – pergunto, e ela bufa.
Abro um sorriso vitorioso, e pesco uma batata frita do prato do Jude.
Além das amigas da Bonnie, que me olham como se eu fosse um delicioso prato, ele é o único que não me censura com os olhos. Jude sabe exatamente porque estou fazendo isso. Preciso provar para mim mesmo que sou capaz de ficar no mesmo lugar que a Ava, sem agir como um babaca.
Olho de relance para ela, e observo sua expressão neutra, enquanto come sua salada. Dylan acaricia seu ombro, e me pergunto qual a necessidade de tocá-la toda hora.
Mas espera aí...ele é o namorado dela.
Eu não acredito que estou com raiva do meu próprio irmão por tocar a namorada. Se fosse eu no lugar dele também estaria procurando desculpas para tocar ela. Sentir sua pele macia, seu cabelo sedoso...
- Thom? – a garota pergunta, e eu pisco tentando voltar a minha linha de raciocínio.
Qual o nome dela mesmo?
- Oi?
- Que tal a gente ir pra um lugar mais reservado? – ela pergunta, seus olhos brilhando com malícia.
Vejo pelo canto do olho quando todos os pares de olhos param em nós, e uso todo o meu autocontrole para não olhar para Ava.
- Acho uma ótima ideia. – respondo. E então me levanto do banco, levando-a comigo.
Sem olhar para ninguém, eu a levo em direção a saída, e vejo quando alguns caras me lançam um olhar de inveja.
Ah se ele soubessem que a garota que eu quero está sentada na mesa ao lado do meu irmão.
- Aqui parece ótimo. – a garota diz, indicando a porta da dispensa.
- Tudo bem. – respondo com um sorriso.
Então abro a porta e passamos por ela. Assim que o “clic” anuncia que estamos trancados, ela se joga sobre mim, me encurralando entre a porta e seu corpo.
Suas mãos seguram meu rosto, enquanto ela puxa minha boca até a sua.  Seus lábios tem gosto de morango, e me pergunto se o batom tem alguma coisa a ver com isso.
Meus braços se fecham ao redor da sua cintura, enquanto me curvo para aprofundar o beijo. Uma de suas mãos deixa meu rosto, e então se perde em meio ao meu cabelo. Sinto quando seus dedos puxam alguns fios, e ela solta um gemido. Logo depois disso, sinto sua língua invadir minha boca, e sua mão livre alisar meu pescoço.
Eu posso estar apaixonado por outra pessoa, mas porra, ela sabe como usar a língua.
Ela desgruda sua boca da minha, e então a leva até o meu pescoço, chupando minha pele exposta.
- Esse é o melhor primeiro dia que já tive. – ela sussurra, e imediatamente meu pensamento vai parar em outra pessoa.
Primeiro dia.
Ava me perguntou se eu estava nervoso com o meu primeiro dia.
Ava. Ava. Ava.
Abro os olhos e encaro a garota morena. Ela parece tão concentrada na sua missão de beijar meu pescoço, que nem nota enquanto a observo, tentando achar alguma similaridade com a minha cunhada.
Merda, preciso parar de chamá-la assim.
Cunhada. Argh! Essa palavra parece ter um gosto ruim na minha boca.
Fecho os olhos novamente, e tento imaginar ela.
Porra, eu sei que isso é errado, mas não posso evitar. Talvez essa seja a única forma de ficar perto dela dessa forma.
Imagino seu cabelo cacheado, seus olhos castanhos...imagino suas mãos delicadas me tocando, e sua voz sussurrando meu nome.
- Thomas. – ela diz, e quando abro meus olhos, lá está ela.
Ava sorri para mim, e prende uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela me olha com olhos travessos, enquanto sua boca exibe um sorriso nervoso. Sua boca implora pra ser beijada, e então eu a beijo.
Eu prendo sua nuca entre as mãos, e colo minha boca na dela com força, não querendo nenhuma distância entre a minha boca e a dela. Ava solta um suspiro satisfeito, enquanto suas mãos seguram meu cabelo. Eu a puxo mais para perto, colando totalmente nossos corpos. Seus lábios acariciam os meus, e eu me sinto perdendo o controle. Ela, me faz perder o controle.
Um sinal soa sobre nossas cabeças, e lembro que estamos na dispensa, e que provavelmente precisamos voltar para a sala de aula.
Contra minha vontade eu me afasto,  e meus lábios parecem frios longe dos dela.
- Estou livre hoje a noite. – ela diz,  mas não é a voz da Ava.
Abro os olhos e encaro a garota. Ela sorri satisfeita para mim, e então limpa o batom com o polegar.
- Me liga. – ela diz, e então sai, me deixando sozinho numa dispensa escura, com a culpa e a decepção me consumindo.



A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora