BONNIE
- Posso falar com você? – Ava me pergunta, o que é estranho.
Ela nunca faz esse tipo de coisa.
- Claro, o que foi? – pergunto.
Estamos paradas no corredor, enquanto troco meus livros no armário.
- É sobre o Thomas. – ela alerta, e eu franzo a testa.
O que ela quer falar sobre ele?
- O que tem ele?
- Você não acha que ele tá meio estranho?
- Ava, meu irmão sempre foi estranho. Na verdade, os dois são. A diferença é que você é apaixonada por um deles.
- Não, é sério. Esse...jeito dele, tá saindo do controle, B.
- Você tá falando daquela cena no refeitório? – ergo uma sobrancelha.
- Também, mas não é só isso. Ele tem agindo estranho. Thomas não fica com uma garota por mais de uma semana, e ...
- E? – instigo.
- Faz tempo que não consigo manter uma conversa com ele. – ela admite, envergonhada.
- Então é isso? Você tá com medo que seu cunhado não te aguente mais? – pergunto, contendo uma risada.
- A gente não era assim. Eu lembro que a gente se dava muito bem. Não sei o que houve.
- O que houve, é que você começou a namorar o irmão dele, e talvez ele não saiba manter a amizade que vocês tinham antes. Talvez ele só esteja zelando pela camaradagem entre ele e o Dylan, ou algo assim.
- Duvido que seja isso. Dylan não faz o estilo ciumento. – ela diz, e vejo seus olhos vagarem pelo corredor, como se estivesse procurando por alguém. – Será que eu fiz alguma coisa?
- Pro Thomas?
- É. Será que eu fiz algo que ele não gostou, e por isso tá agindo assim comigo?
- Ava, eu duvido muito que você tenha feito algo. O Thomas é assim. Achei que você já tava acostumada. – digo, e ela solta um suspiro. – Não tem nada a ver com você. Talvez isso seja só uma fase.
Ela me observa em silêncio, e então fecha os olhos e balança a cabeça.
- Você tem razão.
- Eu sempre tenho. – digo, e então enlaço meu braço ao dela. – Vamos pra sala? O sinal já vai tocar.
- Preciso falar com o Dylan. Encontro você na sala. – ela grita, enquanto corre pelo corredor.
Então tá né?!
Guardo meu livro na mochila, e tiro o celular do bolso do meu jeans para conferir minhas mensagens enquanto o sinal não toca.
Respondo uma mensagem da Faith, avisando que já estou a caminho da sala.
Caminho devagar, tomando cuidado para não esbarrar em alguém enquanto mexo no celular.
- Srta Flynn? – alguém chama, e como ninguém da minha idade me chamaria assim, automaticamente deduzo que seja algum professor ou o próprio diretor.
Ergo meu olhos do celular, e encontro a Sra. Johnson, a secretária, parada no meio do corredor movimentado, com um garoto alto ao seu lado.
Por um momento eu ignoro totalmente a Sra. Johnson, e só consigo encarar o cara. Ele é bem mais alto do que ela, o que não é muita coisa, já que quase todo mundo é, mas ele poderia facilmente ser da altura dos meus irmãos. O que quer dizer que ele deve ter 1,80 de altura, ou talvez até mais. Seus olhos são de um castanho escuro, quase preto, e seu cabelo castanho é o típico “acabei de acordar”.
Seu porte físico entrega tudo: é atleta. Enquanto seu estilo mostra que ele é do tipo básico. Uma calça jeans, um tênis e algumas camisas, e ele sobrevive por meses.
Volto meu trajeto com os olhos, deixando seu ALL Star preto, sua calça jeans escura e seu moletom cinza. Deixo sua boca bem desenhada, seu nariz bem feito, e então paro nos seus olhos.
Ele ergue uma sobrancelha para mim, e abre um sorriso de lado, sabendo que eu o estava analisando.
Não me deixo abalar, e ergo uma sobrancelha de forma atrevida.
- Sim, Sra. Johnson? – pergunto, abrindo um sorriso angelical.
- Estava indo para a aula de cálculo? – ela me olha esperançosa, louca para voltar para sua sala com TV e Netflix.
- Estava.
- Ótimo. – ela responde empolgada. – Então você poderia levar o Sr. Jones, ele está indo na mesma direção.
Hum...Sr.Jones, né?!
- Claro, seria um prazer.
- Tenha um bom dia, Sr. Jones. Qualquer coisa é só procurar a Srta. Flynn .
Eu? Mas não é seu trabalho ajudar?
Mordo a língua para não soltar em palavras o que acabei de pensar, e abro um sorriso amarelo.
Não que ela veja, já que assim que termina de falar, já está caminhando em direção a sua sala.
O Sr. Jones, porém, continua no mesmo lugar, como uma estátua. Seus olhos, no entanto, sobem e descem pelo meu corpo, me avaliando rapidamente. Quando seus olhos param no meu rosto e ele percebe que sua avaliação não foi nem um pouco discreta, ele coça a garganta de forma nervosa e desvia o olhar .
- Você vai ficar parado aí, ou vai me seguir?
Imediatamente seus olhos caem em mim novamente, e ele avança na minha direção com um caminhar lento. Sua postura é confiante, como se mesmo sendo o novato que não conhece ninguém, nada poderia abalá-lo.
- Você já conheceu a escola? – pergunto, enquanto andamos pelo corredor.
- Na verdade, essa é a minha primeira aula. – ele diz, e sinto um frio na barriga ao ouvir sua voz.
Voz grossa...huuumm! Adoro!
- Jura? – E onde ele estava durante as duas primeiras aulas do dia?
- É, eu ... tive que resolver algumas coisas da minha documentação. – ele responde de forma vaga, e vejo pela sua expressão que ele não quer dar mais detalhes sobre o assunto.
- Hum! Bom, então vou te dar um guia rápido, só enquanto o sinal não toca.
- Tudo bem. – ele responde.
Nós caminhamos pelo corredor principal, enquanto eu aponto os armários, e assim que viramos a esquerda, eu aviso:
- Aqui é o refeitório, ele funciona a qualquer hora. – Aponto para o espaço cheio de mesas e alunos. – O nosso horário de almoço é entre 10 e 11 da manhã.
Ele confirma com a cabeça, enquanto seus olhos passeiam pelo teto de vidro do refeitório.
Abro um sorriso discreto. Eu também gosto do teto. Ele deixa tudo tão mais claro, e dá a leve sensação de lugar aberto.
- Agora algo que você vai gostar. - Passamos pela porta do refeitório, e indico o caminho que leva até o campo de futebol. - Campo de futebol americano.
Ele intercala o olhar entre mim e o campo, e então me olha intrigado.
- Por que você acha que eu gosto de futebol americano?
- Seu jeito.
- E qual é o meu jeito? – ele me observa com interesse.
- Autoconfiante, postura arrogante. -digo- Um bom físico. – acrescento, meus olhos descendo pelo seu corpo.
- E você acha que um jogador é tudo isso, por quê?
- Meu pai jogava alguns anos atrás, e agora meus irmãos jogam.- dou de ombros.- Então eu meio que conheço um jogador quando vejo um.
- Em que posições eles jogam?
- Dylan joga na defesa, e o Thomas no ataque.
- O Thomas é quarterback? – ele me olha curioso.
- Não, ele é corredor.
- E seu pai?
- Meu pai era.
- Corredor?
- Não. – solto uma risada. – Ele era quarterback.
Ele balança a cabeça, levemente impressionado, e então me segue em silêncio enquanto voltamos para o corredor.
- E você? – pergunto, depois que percebo que ele não vai dizer por vontade própria.
- Eu o quê?
- Joga em qual posição?
- Eu nunca disse que jogava.
- Mas também não disse que não joga.- aponto, e ele sorri.
- Eu jogava como quarterback.
- Hum. Impressionante. – respondo, e ele bufa.
- Duvido que pra você seja.
- Ei, o que você quer dizer com isso? – pergunto meio ofendida.
- Sua família joga.
- E daí? É exatamente por eles jogarem que eu sei como é difícil entrar num time. Quanto mais ser o quarterback.
Ele fica em silêncio, mas mantém um sorriso tímido no rosto.
- Acho que essa deve ser a primeira vez que alguma garota diz que ser quarterback é impressionante, e eu sinto que não.
- Mas eu acho impressionante. Só acho que pelo fato dos meus irmãos jogarem, tenha reduzido um pouco a surpresa.– digo, e ele bufa. – Ok, vamos tentar de novo. – digo, e então me concentro , e solto: - Espera, o quê? Você é quarterback? – dou passo na sua direção, fingindo empolgação. – Caramba. Que impressionante! – brinco, e ele solta uma risada baixa. – E agora? Melhorou?
Ele faz um maneio com a cabeça, como se não quisesse admitir que eu acertei em cheio as reações das garotas.
- Um pouco. – ele admite, e abro um sorriso satisfeito.
- Então quer dizer que as meninas da sua antiga escola adoram um quarterback, é?
- Vai dizer que aqui não é assim? – ele pergunta, com um sorriso de lado.
- Nem tanto. Boa parte da escola pratica algum esporte, então...- dou de ombros.
- Você pratica? – ele pergunta, e quando desvio minha atenção do corredor para encarar seus olhos, ele desvia.
- Aqui? Só dança. Mas já fiz aulas de boxe.
- Boxe? – ele parece surpreso. – Impressionante. – ele brinca, e eu reviro os olhos de forma brincalhona.
- Por que a surpresa? Você não pareceu impressionado quando disse que fazia dança.
- Porque eu já imaginava que você era líder de torcida.
- Aí que você se engana. Eu não sou líder de torcida. – digo com satisfação, porque eu adoro decepcionar as pessoas que me julgam antes mesmo de me conhecer.
- O que foi? As vagas tinham acabado? – ele insiste, e eu mostro a língua.
- Não, eu só não quis. Só porque sou uma garota tenho que ser líder de torcida? – paro no corredor para observar sua reação, e ele apenas me olha com interesse.
- Não. – ele responde com sinceridade.
- Exato. E se duvidar, ainda me candidato para o time de futebol americano. Posso até competir com você pela vaga de quarterback. – brinco, e ele ergue as sobrancelhas.
- Então quer dizer que tem vaga?
- Não sei. Quer dizer, nós temos um quarterback, mas ele não serve de muita coisa.
- Vou contar para o Jason. – um dos caras do time grita, enquanto passa por nós.
- Agradeço. Aproveita e manda um beijo. – grito, e o Sr. Jones ri. – Bom, chegamos. – digo, quando paramos ao lado da sala de cálculo.
- Valeu por ter sido minha guia.
- Sem problema. Você quer ajuda para achar sua próxima aula? – pergunto, mas a verdade é que eu quero saber se minha próxima e última aula é com ele.
Não sei porquê, mas eu gostei de ficar com ele. Mesmo o conhecendo a tão pouco tempo, eu me sinto confortável com ele.
Ele tira um papel amassado do bolso do jeans, e seguro a risada quando vejo que é seu horário.
- Marcenaria. - ele diz.
Droga! Esqueci que a última aula é de uma disciplina não obrigatória. O que quer dizer, que em um pouco mais de uma hora, vou estar caminhando para sala de dança. É um disciplina que faço há anos, graças aos genes da minha mãe.
- Fica no corredor B, sala 13.
Ele tira uma caneta da mochila, e rabisca no papel.
- Bom, obrigado... é.- ele espera que eu diga meu nome. – Você ainda não me disse o seu nome.
- Por que a pressa? Você vai saber em breve. – digo, e então entro na sala.
Observo as expressões de choque dos alunos ao ver o novo aluno.
É difícil alguém entrar no último ano.
Sigo para a minha cadeira no meio da sala, e sento entre Faith e Gena.
Ava se vira na cadeira para me olhar, e pergunta:
- Quem é seu novo amigo? – ela me olha de lado, seus olhos brilhando em provocação.
Vejo quando Faith e Gena se aproximam para ouvir minha resposta.
- Sr. Jones.
- Quero saber o nome. – Ava esclarece.
- Somos duas. – digo, e observo enquanto ele passa por mim e segue para o fim da sala.
Como se estivesse apenas nos esperando chegar a sala, o sinal toca, e em poucos segundos o Sr. Smith passa pela porta.
É um homem baixinho e rechonchudo, mas com uma facilidade com números fora do comum.
Ele coloca a pasta sobre a mesa, e então sorri para a turma. Seus olhos passeiam por rostos já conhecidos, e vejo suas sobrancelhas se erguerem com a surpresa de ter um novato no último ano.
- Bom dia, turma. – ele diz, e respondemos em uníssono. – Vejo que temos carne nova no pedaço.
Praticamente toda a sala se vira para o cara sentado na última fileira. Alguns por curiosidade, e outros para uma avaliação rápida.
- Qual seu nome, jovem?
- Ethan. – Sr. Jones diz, e repito mentalmente seu nome.
Ethan.
- Pode nos contar um pouco sobre você?
Nesse momento eu viro, desejando mais detalhes sobre a sua vida.
A única coisa que sei sobre ele, é seu nome e que jogava futebol americano.
Ethan parece receoso a falar sobre ele mesmo, e me pergunto o que tem tanto medo de falar.
O que ele esconde?
- Meu nome é Ethan, tenho 17 anos, e me mudei há alguns dias com minha mãe.
- De onde você era? – Sr. Smith pergunta, e eu o agradeço mentalmente.
- Ventura.
Ventura? Há uma hora daqui.
- Bom, seja bem-vindo, Ethan. Meu nome é Kal, mas todos me chamam de Sr. Smith. Sou o professor de cálculo avançado.
Ethan confirma com um sorriso amigável no rosto.
- Vamos começar a aula. – Sr.Smith anuncia.
Espera aí, o senhor não vai perguntar por que ele se mudou? Por que ele só falou da mãe? Por que perdeu as primeiras aulas?
- Abram o livro na página 15. – ele diz, e eu bufo.
Pelo visto vou ter que descobrir isso sozinha.
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A barraca do beijo 2
RomanceHISTÓRIA SOBRE OS FILHOS DO NOAH E DA ELLE. Iniciada em : 30 de maio de 2020. Bonnie pode ser confundida com uma típica garota do colegial. É bonita, popular, e poderia facilmente conseguir qualquer cara que quisesse. Exceto, que o único cara que c...