Dylan

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DYLAN

A volta pra casa depois da escola é silenciosa. Thomas parece pensativo no banco de trás, enquanto encara as mãos sobre o colo. Algo parece ter acontecido, mas pela expressão dele eu sei que não vai me contar. Thomas anda estranho há meses; e eu sinto que nossa amizade está ameaçada. Ele não me conta mais as coisas, e parece sempre irritado com alguma coisa ou com alguém.
As vezes fico magoado e bem puto quando vejo que ele conta as coisas para o Jude e não pra mim. Eu me pergunto quando deixei de ser confiável. Alguma vez ele me contou algo importante e eu contei a alguém? Será que fiz isso alguma vez? Penso por alguns segundos, tentando lembrar de algo que prejudicou a nossa relação, mas não lembro de nada. Thomas foi apenas se afastando com o tempo.
Bonnie solta um suspiro no volante, e observo sua expressão sonhadora. Ela parece lutar contra um sorriso, como se uma piada estivesse flutuando sobre sua cabeça.
Nunca vi minha irmã tão feliz depois da aula de dança. Geralmente ela vem bufando e xingando Donna de todos os nomes existentes, e até inexistentes. As duas nunca se deram bem, já que Donna teme que sua posição como líder do grupo de dança esteja ameaçada pela Bonnie. Mas minha irmã nunca ligou pra isso. Ela não entrou no grupo de dança pra ser líder, ela entrou pra dançar. Bonnie dança por prazer, e não por um status.
Quando ela sorri pela quarta vez desde que entramos no carro, eu pergunto:
- O que aconteceu? Você parece feliz. - aponto, e ela sorri ainda mais. - O que foi? Donna faltou? Ou você finalmente deu uns bons tapas nela?
- Diz que foi a segunda opção. - Thomas diz, falando pela primeira vez.
- Não. - ela revira os olhos. - Só...foi um bom dia.- e ela diz.
Observo seus olhos brilhando, e suas bochechas coradas. Bonnie é animada, mas não a esse ponto. Isso só significa uma coisa: é um cara.
- Quem é o cara? - pergunto, e vejo pelo canto do olho quando Thomas se remexe no banco para ouvir a resposta.
- Não tem cara nenhum. - ela diz, mas seu sorriso nega tudo.
- Eu conheço? - pergunto.
- Não há ninguém, Dylan.
- Vai mentir pros seus irmãos? - Thomas pergunta, parecendo ofendido.
- Sabe que é até irônico você falar isso, né? - ela diz, seus olhos no retrovisor enquanto ataca nosso irmão. - De nós três, você é o que mais esconde as coisas.
- Não escondo nada. E não jogue o assunto pra mim. Estamos falando de você. Quem é o cara?
- Não tem cara. - ela diz impaciente. - E é melhor mudar de assunto. Vocês dois tão me estressando, e eu tô dirigindo. Em outras palavras, se não quiserem morrer, é só mudar de assunto.
Levanto as mãos, me rendendo, e ouço quando Thomas solta um suspiro derrotado.
- Vocês vão pra festa do Luke? - Bonnie pergunta do nada.
- Como você sabe dessa festa?- pergunto.
Luke é o ex-namorado da Bonnie. Eles namoraram por alguns meses, até decidirem ser só amigos. Não que eu tenha ficado surpreso com essa decisão. Tava bem na cara que aquilo não ia dar certo.
- Ele me chamou. - ela responde simplesmente.
- Seu ex-namorado te chamou pra uma festa na casa dele? - Thomas pergunta, tão confuso quanto eu.
- Qual o problema nisso? A gente se dá bem.
- Então tá. - Thomas e eu respondemos juntos.
- A gente sai às oito. Estejam prontos. Ouviu Thomas? Às OITO. - ela dá ênfase, e ele bufa.
- Ouvi.
Quando dobramos na nossa rua, Bonnie aperta o botão do portão automático, bem a tempo de passarmos por ele.
Depois de poucos segundos seguindo um caminho de pedras e pinheiros, a casa de três andares surge, e pelo carro parado em frente, percebo que temos visita.
Bonnie estaciona nosso Range Roger branco na garagem, e entramos em casa.
A sala está vazia, mas as risadas e a conversa vem da cozinha. Quando chegamos até lá, nossos pais e avós estão sentados à mesa tomando café.
- Finalmente. - nossa avó diz, e se ergue da cadeira com os braços abertos em nossa direção.
Bonnie já está caminhando até ela com um sorriso no rosto, e a cercando em seus braços.
- Oi, vovó.
- Como está minha princesa? - June pergunta.
- Ótima. - Bonnie responde com convicção.
- Que bom, querida.
Bonnie caminha para abraçar nosso avô, enquanto caminho até June.
- Oi, vó.
- Oi, querido. - ela me abraça. - Como foi a aula?
- Chata. - respondo, e ela ri.
- E como vai a Ava?
Minha avó é louca pela minha namorada. Na verdade, ela já a conhecia há anos, desde quando Ava e Bonnie eram pequenas.
- Bem.
Ela sorri, satisfeita.
- Thomas? - ela chama, seus braços ainda abertos esperando o abraço.
- E aí, coroa? - ele pergunta, então a ergue nos braços e a roda.
Todos na sala riem, enquanto minha mãe revira os olhos.
Quando ele a coloca sobre seus próprios pés, ela se segura em seus braços, ainda tonta.
- Minha labirintite. - ela diz, e ele ri.
- Você precisa lembrar que sua avó não é mais tão novinha. - meu avô diz, seu braço posicionado sobre o meu ombro.
- Não diga isso. Eu gosto exatamente porque me faz sentir nova. - June diz, nos tirando uma risada.
- Vó, você é nova. - meu irmão diz, e ela bufa.
- Não foi você que acabou de me chamar de "coroa"?
- Do "cara e coroa". Da moeda. - ele explica, e então passa para cumprimentar nosso avô.
- E aí, cara. - eles batem os punhos, e meu avô o puxa para um abraço.
- E as namoradas? - ele pergunta, e eu seguro uma risada.
- Essa pergunta nunca soou tão literal. - digo, e Bonnie ri.
- Passa a lista pro vovô, Thomas. - ela pede, e ele revira os olhos. - O que foi? Tá com medo de não lembrar o nome de todas? - ela provoca, e ele revira os olhos.
- Igualzinho ao pai quando tinha essa idade. - meu avô diz, e observo meu pai abrir um sorriso amarelo pra minha mãe.
- Bom, vou tomar um banho. O ensaio hoje foi puxado. - Bonnie diz.
- Donna pegou no seu pé? - minha mãe pergunta, sua expressão preocupada.
- Ela sempre pega.
- Você precisa conversar com ela. Vocês não podem continuar desse jeito.
- Ou, você pode descer a porrada. - Thomas diz enquanto puxa uma cadeira, e pega um sanduíche do prato.
- Converse com ela, B. - minha mãe diz.
- Ou desce a porrada. - repito.
Minha mãe nos encara, seus olhos nos ameaçando em silêncio, até ela notar o pão nas mãos do meu irmão e franzir a testa.
- Você lavou as mãos? - ela pergunta.
- Lavei.
- Quando?
- Quando saí do banheiro.
- Você não foi ao banheiro. - Bonnie diz.
- Fui na escola. - ele diz, como se aquilo resolvesse tudo.
Bonnie finge vomitar, e sobe a escada para o seu quarto.
- Eu vou tomar uma ducha.- aviso.
- Desçam para tomar café com a gente. - meu pai diz, e eu confirmo com a cabeça.
- Pelo menos dois sabem o que é higiene. - minha mãe diz.
- Quer um pedaço do meu sanduíche? - Thomas a oferece, e ela abre um sorriso.
- Não sei o que faço com você, Thomas.
- Que tal começar com um suquinho? - ele indica a jarra de suco, e ela ri.

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora