É revelação atrás de revelação

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BONNIE

Tomar café com os meus pais, deve ser uma das coisas que mais gosto de fazer. É um momento só nosso. Sem trabalho, sem escola, sem preocupações. É onde podemos conversar sobre o dia, e aproveitar aquele momento em família. É uma pausa no dia corrido, e uma folga com hora marcada.
Adoro chegar da escola e encontrar meus pais tomando café. Não importa se meu dia foi terrível ou perfeito. Com momentos assim, meu dia sempre fica melhor.
Por isso sinto toda a preocupação deixar meu corpo depois de uma hora e meia de ensaio, e aproveito o suco de laranja fresco com torrada, enquanto minha mãe me conta como foi sua visita a casa do meu avô. 
- Ele parecia bem. Na verdade, parecia até arrumado demais pra quem não estava esperando visita. – minha mãe ri.
- Você acha que o vovô tem uma namorada? – a torrada parece seca na minha boca, enquanto tento imaginar meu avô com alguém.
A ideia me incomoda e me agrada ao mesmo tempo. É estranho pensar no meu avô com outra mulher, por mais que eu nunca tenha conhecido minha avó. Mas ao mesmo tempo fico feliz por ele. Desde que meu tio Brady casou, ele tem andado solitário.  Meus pais até tentaram que ele viesse morar com a gente, mas ele não quis. Desde então minha mãe se preocupa com ele morando sozinho, mas prefere respeitar a vontade dele. Mesmo assim, ela sempre arranja um motivo pra visitá-lo numa tentativa de ficar de olho nele.
Acho que no fim, uma namorada cairia bem.
- Não sei. – ela admite. – Mas ficaria feliz se tivesse.
- Qualquer coisa o Billy poderia me ligar. Conheço um lugar ótimo pra ele arranjar uma namorada. – meu pai diz com um sorriso. Ele nem ergue os olhos, porque sabe que nesse momento está sendo agredido mentalmente pela esposa.
- Ah, é?! – ela pergunta num tom baixo, com falso desdém.
- Ah, é. – ele devolve, ainda sorrindo.
- Eu alugo um caminhão e você leva suas coisas pra esse lugar ótimo, o que acha?
Finalmente vencido, meu pai inclina a cabeça para trás e explode numa gargalhada alta.
- Ainda ciumenta. – ele comemora.
Vejo um pequeno sorriso surgir no rosto da minha mãe, mas quando ela abre a boca para dizer alguma coisa, a porta se fecha num estrondo tão alto, que pulo da cadeira com o susto.
Eu nem ouvi a porta abrir.
Meus pais olham alarmados em direção a sala, e meu pai já está de pé quando Dylan entra na cozinha.
- Cadê o Thomas? – ele pergunta.
Sua expressão é sombria, e suas narinas se dilatam com a respiração pesada. O suor brilha pela sua testa, enquanto suas bochechas estão num tom forte de vermelho. Metade pelo esforço, porque tá na cara que ele veio correndo da casa da Ava, e a outra metade pela raiva.
- Dylan, o que aconteceu? – minha mãe pergunta. Seus olhos observam o filho como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.
- Cadê ele? – ele pergunta mais uma vez.
Seu peito sobe e desce com tanta força, que me pergunto o que de tão sério aconteceu, pra o Dylan estar dessa forma.
Ele não é assim. O Dylan é o oposto do que tá demonstrando agora. Ele é calmo, paciente, responsável. Nada do que aparenta agora.
Ele parece outra pessoa. É como se tivessem injetado pura raiva em suas veias. Seus olhos são tão frios, que sinto um tremor percorrer meu corpo. Eu nunca vi meu irmão assim.
- Ei, ei, ei, ei. – meu pai chama. Ele para ao lado do filho do meio, e repousa uma mão tranquilizadora sobre seu ombro. Não sei se ele está de fato tentando acalmar, ou se é apenas uma desculpa para ficar perto do filho caso ele perca a cabeça. Algo que pelo visto, já aconteceu. – Respire, ok? Melhor você sentar e tentar se acalmar.
- Eu não quero me acalmar. – Dylan grita, me surpreendendo pela segunda vez no dia.
O Dylan não grita.
O Thomas? Sim, direto.
Mas o Dylan?... Nunca. Ou pelo menos, até agora.
- Dylan. – minha mãe repreende. Ela parece tão aflita, que sinto o impulso de tocar sua mão e tranquiliza-la. Mas estou tão perplexa, que nem consigo me mexer.
Eu só consigo encarar o cara na minha frente, e me perguntar o que aconteceu com o meu irmão. Esse não é ele.
- Elle, ta tudo bem. – meu pai a tranquiliza, mesmo que todos saibam que nada está bem.
Quando meu pai desvia a atenção do filho para a esposa, é o momento perfeito para o Dylan fugir do seu toque e correr em direção as escadas.
- Dylan. – meus pais gritam juntos.
É como uma cena de filme. Num segundo estamos chocados, e no outro estamos correndo.
Subo as escadas aos tropeços, ouvindo ordens do meu pai para que o Dylan pare.
Sigo a gritaria até o quarto do Thomas, e quando paro na porta, encaro uma cena que nunca imaginei ver.
A cama está desfeita, e metade do edredom se arrasta pelo chão. Um fone de ouvido pende da cama, como se o Thomas estivesse ouvindo música antes do irmão chegar.
E os meus irmãos? Um está caído no chão, enquanto o outro distribui socos pelo rosto do irmão gêmeo.
É algo assustador ver tanta raiva em uma só pessoa.
O Dylan está tão cego pela raiva, que parece não se importar enquanto sangue sai do rosto do irmão.
- Para! – meu pai ordena, sua voz ecoa pelo quarto com autoridade, mas ambos parecem não ouvir. – Larguem, já. – ele grita, enquanto puxa o Dylan de cima do irmão.
- Parem com isso. – minha mãe grita, e então entra no quarto e se mete no meio da confusão.
Enquanto meu pai puxa o filho mais velho, minha mãe segura o mais novo, que agora parece mais irado do que nunca.
- O que foi isso, porra?! – Thomas grita. Gostas de sangue escorrem de sua testa e boca.
- O que foi isso?! – Dylan repete, como se não tivesse ouvido direito. – Você sabe o que foi isso.
- Dylan, acalma-se. – minha mãe pede. – Vocês dois. – ela encara os filhos.
- Vocês podem me explicar que porra tá acontecendo?! – meu pai grita.
- Seu filhinho se aproveita de mulheres bêbadas. – Dylan diz, com desgosto.
Olho para o meu irmão mais novo, que parece pálido de repente, como se tivesse sido pego no ato.
Isso é sério?!
- O quê?! – meu pai pergunta, seus olhos fixos no Thomas em busca de explicação.
- Isso é verdade? – minha mãe pergunta, mas ele não responde.
Ai. Meu. Deus.
- E a pior parte... é que a mulher...- Dylan encara o irmão com repulsa, e sinto meu coração morrer.
Quem é a mulher?
- ... É a Ava. – Dylan conclui, e minha boca cai.
Puta. Merda.
Meus pais encaram o Thomas com os olhos arregalados, enquanto ele abaixa a cabeça e solta um suspiro.
- É isso aí. O filhinho de vocês é um merda, que beijou a própria cunhada enquanto ela estava bêbada. – Dylan grita. Mas por baixo de toda a raiva, posso ver sua dor.
Ele se sente traído e magoado, e nessas circunstâncias, não teria como ser de outra forma.
Ainda não consigo acreditar que o Thomas beijou a Ava.
- Thomas, por quê você fez isso? – meu pai pergunta, mas ele não responde. – Thomas. – ele grita.
- Porque eu gosto dela. – Thomas grita, e pela segunda vez, meu queixo cai.
Eu já desconfiava, mas ainda assim não consigo não ficar chocada com essa revelação.
Eu já tinha notado que o Thomas mudava quando a Ava tava perto, mas não tinha 100% de certeza que era isso.
Quer dizer, é muito The Vampire Diaries ter dois irmãos apaixonados pela mesma garota.
Mas, ai, droga! Realmente é verdade.
- Você ainda tem coragem de dizer isso na minha frente?- Dylan ruge, e tenta chegar até ele, mas os braços do meu pai parecem  barras de aço.
- O que você quer que eu diga, Dylan? – Thomas devolve. – Eu sempre gostei dela, e você sabia disso. Acha que eu também não me senti traído quando você a pediu em namoro? Você sabia que eu gostava dela, e não se importou com isso. Então por quê eu deveria me importar agora? Você nem a merece. Onde você estava quando ela tava enchendo a cara?
- Bem ao lado dela. Sabe por quê? Porque é isso que os namorados fazem. Coisa que você nunca vai saber, ou pelo menos, não com ela.
- Eu amo a Ava, Dylan. – Thomas diz, e eu já desisti de contar quantas vezes fiquei surpresa. É revelação atrás de revelação.
Dylan fica ainda mais vermelho, enquanto meu pai parece surpreso. Já a minha mãe, é como se ela já soubesse.
Me pergunto se o Thomas contou isso pra ela alguma vez.
- Você vai ficar longe dela. – Dylan ordena.
- E por quê eu faria isso?
- Você tá abusando da minha paciência. – Dylan grita.
- É melhor vocês se acalmarem. Os dois tão de cabeça quente, e desse jeito não dá pra ter uma conversa. – minha mãe diz.
- Conversa? – Dylan pergunta, intrigado. – Ele beija a minha namorada, e você quer que eu tenha uma conversa com ele?
- Vocês são irmãos, Dylan.
- Mais um motivo pra ele não ter feito o que fez. – ele responde, e então olha para o irmão mais novo. – Você é meu irmão, Thomas. Como pôde?- sua voz soa tão fraca, que por um segundo me pergunto se ele vai chorar. Mas então sua postura endurece novamente, e ele diz: - Vou dormir no Connor. Não aguento olhar pra sua cara. – e então ele se desvencilha dos braços do nosso pai, e sai.
Ele nem me olha ao passar pela porta. Apenas desvia de mim e caminha em direção ao seu quarto.
- Eu não sabia. – Thomas sussurra.
- O quê? – meu pai pergunta.
- Que ela estava bêbada. Quando percebi, já era tarde demais.
- Por que você fez isso, Thomas? Você sabe que ela é a namorada do seu irmão. – Meu pai tenta entender.
Ele passa a mão pelo rosto cansado, e então aguarda uma resposta do filho.
- É o que eu disse : eu a amo. Eu sempre gostei dela. Mas depois que ela e o Dylan começaram a namorar, eu me afastei. Eu tentei muito ficar longe. – ele passa um dedo pelo corte no lábio, e quando vê o sangue, faz uma careta. – Eu sei que mereci isso. Merda, eu merecia coisa pior. – ele pragueja.
Meus pais ficam em silêncio, e aproveito para falar pela primeira vez. É uma pergunta que teima em surgir na minha cabeça.
- Ela sabe que é você?
Thomas me olha surpreso, como se só agora percebesse minha presença.
- Agora? Com certeza! Mas antes...ela achava que era o Dylan. Só depois eu percebi que o tempo todo ela achou que era ele. Eu que fiz papel de idiota. – ele se ergue do chão com uma expressão de dor. – Nessa história toda, o único otário sou eu. – e então ele entra no banheiro.
Eu continuo parada, ainda digerindo tudo o que aconteceu. Mas então o pensamento me vem:  onde é que eu estava que não percebi tudo isso?



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Até o próximo capítulo 💋





A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora