Eu sei

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THOMAS



Estou indo fechar a cortina do quarto, quando vejo um carro preto parar em frente ao portão. Espero que o alarme soe, anunciando que o visitante precisa que o portão abra, mas isso não acontece.
O carro permanece lá, e minha curiosidade só aumenta.
Quem será?
Mas aí vejo minha irmã descer do lado do carona, e então a porta do motorista abrir.
Um cara que eu nunca vi sai do carro, e pra minha surpresa, ele cerca Bonnie com os braços, e pela inclinação da sua cabeça pra baixo, adivinho que estão se beijando.
Uau.
Eu queria ter a capacidade que a  Bonnie tem em superar as coisas.
Acho que ela nem sabe mais quem é o Ethan .
Ainda bem. Porque um cara que diz gostar da minha irmã, e dias depois surge com a ex, não a merece.
Quando eles se separam, Bonnie sorri, e com um aceno se despede.
Ela abre o portão e caminha em direção a casa, enquanto o estranho a observa atento, como se mesmo dentro de casa algo fosse lhe acontecer.
Só quando ela entra em casa, que o estranho parece satisfeito, e então abre a porta do carro e se manda.
Com o fim da novela, fecho a cortina e desço.
Bonnie está na cozinha, bebendo água.
- Eu vi. – abro um sorriso de lado, e ela fecha a cara. – Não sabia que eu tinha um novo cunhadinho.
- Você não tem.
- Sério? Não foi o que pareceu.
Bonnie revira os olhos e pragueja.
- Gostava mais de você quando não sabia falar.
- Se isso foi uma tentativa de me ofender, saiba que fracassou.
Ela não responde, só termina a água e lava o copo .
- Então...
- Então o quê? – ela pergunta.
- Qual o nome dele?
Ela encara minhas roupas, e abre um sorriso letal.
- Qual o nome dela?
- Leah. – respondo simplesmente, o que a pega desprevenida.
Eu sempre fujo de perguntas como essa. Mas aqui estou eu, dando de bandeja o nome da garota com quem vou sair esta noite.
De novo.
Foi difícil não pegar o número dela na noite passada, e mais difícil ainda não chamá-la para um segundo encontro hoje.
Talvez ela me ache desesperado, ou talvez esteja tão ansiosa pra sair quanto eu. Seja qual for o motivo, ela aceitou sair comigo, o que me rendeu uma sensação de frio na barriga.
- Leah? – ela parece intrigada. – Eu já ouvi esse nome.
- Fácil! O Thomas suspirou esse nome a noite inteira. – Dylan diz ao entrar na cozinha.
- Muito engraçado, irmãozinho, mas eu não falo dormindo.
Ou será que falo?
Nunca me ouvi falando enquanto dormia.
- Não, né?! – ele diz com sarcasmo, e então pega um suco na geladeira e some novamente.
- Eu não falo dormindo. – repito. – Não falo, né, B?
- Não escuto nada que vem do seu quarto. Ainda bem. – ela responde, e então me abandona na cozinha.


***



-Pensei que o combinado era que eu fosse te pegar.
Espero que literalmente!
A porta do carona abre, e Leah faz um sinal para que eu entre.
- E era. Até eu parar pra pensar se você tinha carteira. – ela diz enquanto entro. – Você tem? – Leah me encara.
Eu poderia mentir e dizer que sim, mas quão romântico seria se fossemos parados por um guarda?
- Não. – admito.
Não vejo a hora de fazer 16 anos e tirar logo essa bendita carteira.
Ainda bem que falta só mais uma semana.
- Foi o que eu imaginei. – ela sorri convencida, e dá a partida no carro.
- Então, pra onde você vai me levar? – pergunto, tentando não me sentir do avesso.
Sempre sou eu quem leva a garota para algum lugar. A preocupação de escolher um lugar bacana sempre cai pra mim.
Mas não que eu saia muitas vezes. É sempre uma única saída, e nada mais. Como eu disse : não saio em encontros.
É apenas um momento para amassos e nada mais.
- Estreou um filme novo de terror. Pensei da gente assistir. – ela me olha empolgada.
Terror é? Que ótimo!
- Parece ótimo.
- Sério? Você não pareceu muito empolgado. – ela desvia rapidamente a atenção da estrada para me olhar.
- É que eu... – vamos, Thomas. Diga a verdade. Você não precisa ser fã de filmes de terror. – não comi antes de sair de casa. Pensei da gente sair pra comer.
- Ah, claro. Tudo bem. A gente pode comer algo antes do filme.
Meu sorriso treme.
DROGAAAA!
- É, foi exatamente isso que eu pensei.


***


Eu contei cada maldito segundo do filme, e minhas únicas distrações eram a nuca peluda do cara sentado na minha frente, e o roçar da perna da Leah na minha.
Quando o filme acabou, foi difícil conter o alívio.
Se eu tivesse passado uma hora e meia com Leah em meus braços, eu com certeza não estaria reclamando. Mas como passei todo esse tempo tenso e aflito, é como se a saída do cinema fosse simplesmente a luz no fim do túnel.
- Não gostei. – ela diz.
Olho surpreso, mas ela não me olha. Sua atenção está no caminho à nossa frente.
- Sério?!
Ela parecia tão atenta ao filme, que o mundo poderia ter acabado e ela não teria notado.
- Uhum. Achei fraco. – ela me lança um sorriso de lado, e volta sua atenção para outro lugar.
Achou fraco? E o que era aquela expressão de surpresa a cada maldita cena?
- Acho que cansei desses filmes de terror.
E é então que eu entendo.
Ela sabe.
De alguma forma Leah percebeu que não sou um grande fã de terror, e está me libertando dessa tortura sem ferir o meu ego.
Mas ele está ferido desde que ela segurou aquela arma no parque, e assassinou todos aqueles patinhos de madeira.
- Eu diria que é uma pena, mas a verdade é que estou aliviado.
Ela ri, e seus olhos brilhosos me observam.
- Acho que qualquer outro cara preferiria a morte a ter que admitir isso. Mas aqui está você, me deixando ver esse seu lado vulnerável.
- O que eu posso fazer? Sou humano. – uma sensação de paz inunda meu corpo enquanto digo isso. Chega de fingir. – Mas tem uma coisa que você precisa saber. – ela me olha, curiosa. – Não sou qualquer cara, Leah. – o sorriso se desfaz lentamente do seu rosto, e ela me fita com um olhar indecifrável, até responder:
- Eu sei.

HELLOOO🌼 Próximo capítulo na sexta-feira.💃✨

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora