BONNIE
Acho que os anos de treinamento me prepararam bem para isso, já que por muito pouco não estrago toda nossa apresentação com um passo errado.
Desvio meus olhos dele, e fito qualquer um, menos ele.
E é então que me dou conta da letra.
Merda! Será que dá pra chamar isso de coincidência?
Ignoro meus pensamentos e me concentro apenas na coreografia.
Não posso errar, não posso!
Repasso a coreografia mentalmente, como se estivesse assistindo o ensaio, e sinto meu coração se acalmar quando finalmente terminarmos a sequência.
Há gritos de comemoração, mas não me dou mais tempo sob o holofote.
Me afasto para o lado mais escuro da boate, meu corpo ainda lutando para se acalmar.
– Você viu, não foi?! – Faith pergunta, enquanto seus olhos me avaliam com preocupação.
Concordo com a cabeça, porque eu definitivamente não vou conseguir formular nenhuma frase.
Minha respiração ainda está irregular, e eu não quero pensar no que eu vi, ou... QUEM eu vi.
Uma queimação me atinge em cheio, e engulo em seco.
Tinha esquecido como era ruim ver a pessoa que a gente gosta com outra.
– Bonnie? – a voz que eu tanto queria esquecer, surge.
Fecho os olhos por um segundo, tentando lembrar onde guardei minha expressão tranquila.
– Ethan! Que surpresa ver você acompanhado essa noite. – Gena destila deboche sobre ele.
– Eu sei, mas...eu não sabia que ela vinha.
– Isso está virando um costume, pelo visto. – ela devolve.
– Bonnie? – ele chama mais uma vez, e empalideço quando ouço sua voz mais perto.
Abro os olhos e o encontro a poucos centímetros de mim, com a mão já estendida na direção do meu rosto.
Me afasto rapidamente e abro um sorriso oscilante.
– Você não tem que me explicar nada. – digo, antes que ele possa dizer alguma coisa.
– Na verdade, eu tenho, e você sabe disso. Eu já te falei que quero estar com você, Bonnie, mas isso parece impossível quando você foge de mim.
É, eu realmente fiz isso.
– Eu tentei muito conversar com você esses dias, mas você vem me ignorando e eu não sei porquê.
Ele espera que eu responda, mas mantenho minha boca fechada.
– Ela veio com a Emma. – ele explica, e então parece se preparar para o que vai dizer a seguir : – O meu pai vai casar no próximo final de semana. – seu tom é amargo, e esqueço a surpresa e a raiva para me concentrar apenas nele.
O Ethan mal fala do pai, e até esse momento eu não tinha certeza nem se ele estava vivo.
Mas ao que parece está, e bem vivo.
A expressão sombria do Ethan me impede de desejar felicitações. Então ao invés disso, dou um passo em sua direção, e agarro sua mão, apertando-a de leve.
Ele parece grato com o gesto.
– Minha irmã achou que fosse melhor me contar isso pessoalmente. Assim ela poderia me convencer a ir. – sua voz é fria, sem um pingo de emoção.
Eu quero perguntar o porquê ele não quer ir. O que aconteceu entre ele e o pai.
Mas eu simplesmente não posso. Não numa festa barulhenta e cercada de ouvidos curiosos.
– Você quer beber alguma coisa? – ofereço.
Ele precisa se distrair, e isso foi a primeira coisa que consegui pensar.
– Quero.
Ele me guia em direção a mesa no canto da boate, e me pergunto quantas vezes ele já fez esse caminho hoje.
O Ethan não larga a minha mão quando chegamos à mesa, e observo enquanto ele se concentra em encher dois copos com refrigerante.
Ele só solta para pegar os dois copos, e então me entregar um.
Bebo um gole, meus olhos atentos ao seu rosto, e sinto meu corpo relaxar mais ao ver sua expressão se suavizar.
– Melhor?
Ele assente brevemente.
Seus olhos caem para o líquido dentro do copo.
– Eu quero te explicar as coisas, mas você não colabora, Bonnie. – ele ergue os olhos para mim. – Por que me evitou esses dias?
Boa pergunta. Mas há tantas respostas para ela.
Porque eu tinha coisas demais na minha cabeça.
Porque eu tinha medo do que você poderia me contar. E agora percebo que eu tinha razão.
– Eu só estive ocupada.
– Ethan? – uma voz feminina desconhecida chama, e meu corpo tensiona no mesmo segundo.
Ele ergue os olhos para a voz, e parece indeciso entre ficar feliz e ficar tenso.
– Oi. – ele se afasta um pouco para o lado, como se estivesse abrindo um círculo para receber a pessoa. E obrigando a mim mesma, faço o mesmo.
Dou as costas para a mesa, e fico de frente para a dona da voz. Mas acontece que há duas possíveis donas.
Emma e Susan intercalam o olhar entre o Ethan e eu. Mas enquanto a primeira me olha com ansiedade, como se já tivesse ouvido falar sobre mim e estivesse empolgada para me conhecer, a segunda simplesmente me encara com curiosidade, e é muito desconcertante se sentir estudada.
– A gente estava te procurando. – Emma diz. Então ela volta seus olhos para mim novamente e caminha até onde estou. – Oi, você deve ser a Bonnie. Eu ouvi muito sobre você. – seus braços quentes me cercam em um abraço, e graças ao reflexo consigo abraçá-la de volta.
Estou petrificada demais.
– Oi. É um prazer te conhecer. – respondo com dificuldade.
– Você é ainda mais linda do que o Ethan disse. – ela me analisa como uma mãe orgulhosa, e sinto minhas bochechas corarem.
– É mesmo. – Susan diz, com a voz seca.
Ignoro o incômodo e o comentário, e foco minha atenção apenas na garota do bem.
– O Ethan me falou sobre você também. – digo à Emma, que parece feliz com a informação.
– Tenho até medo de perguntar o quê. – ela brinca, e abre um sorriso idêntico ao do irmão.
– Só coisas boas, garanto. – ele se mete na conversa, parecendo mais aliviado agora.
– Ele me disse que você vai casar. Então... felicidades! – sorrio, e ela abre ainda mais o sorriso.
Ela quase brilha com o lembrete ao casamento, e me pergunto se vou reagir da mesma forma quando chegar a minha vez.
– Obrigada! Nem dá pra acreditar que está tão perto. – ela se perde em pensamentos, como se estivesse imaginando o grande dia, e então pisca e volta a se concentrar em mim. – Espero que o Ethan te leve no dia.
Consigo captar duas expressões distintas pelo canto do olho.
Ethan, do nosso lado direito, expressa empolgação, como se essa ideia já tivesse passado pela sua cabeça, e ouvir a irmã falar agora só confirmasse seu pensamento.
E Susan, do nosso lado esquerdo, expressa choque. Talvez seja traição também, mas não vou olhar para o seu rosto para confirmar.
Ao que parece ela e Emma são amigas, e esse convite era a última coisa que ela esperava da amiga.
– Eu também espero. – Ethan diz com um sorriso, e sinto meu rosto imitar seu gesto.
Droga! Estou sorrindo porque acabei de ser convidada para ir a um casamento com o Ethan.
– Ótimo, então. Te vejo em 28 dias. – ela ri por saber os dias exatos, mas eu não a culpo.
Eu com certeza faria o mesmo.
– Te vejo em 28 dias. – repito, e ela parece feliz por ouvir isso.
– Bonnie! – meu nome ecoa em meio a multidão.
Procuro pelo dono da voz, mas só encontro pessoas dançando, totalmente alheias à mim.
– Desculpa, eu preciso ir. – aviso à eles.
– Claro. Mas ei. – Emma chama. Paro no meio do passo e espero. – Vai ter mais show? Eu amei aquele.
Susan bufa atrás dela, e automaticamente meu sorriso aumenta.
– É claro. – respondo. – Eu adoro um show. – e então lanço uma piscadela para a Emma, e um sorriso para o Ethan.
Para a Susan? Eu dedico meu próximo show.
Entro na multidão mais uma vez, caçando o dono da voz, e encontro meu tio Lee.
– Onde você estava? Te procurei em cada canto dessa boate.
Não em um, pelo visto.
– Na mesa de petiscos.
Meu tio revira os olhos, como se tivesse esquecido desse lugar, ou tivesse ido até lá antes que eu mesma estivesse.
– Sua mãe está te procurando. É hora do bolo. – ele esclarece.
– Tudo bem. – ele me puxa pela mão, e me leva para o canto esquerdo da boate, onde ficam os sofás.
Meus pais estão lá, junto com tia Rachel, meus avós, tio Brad e a recente esposa.
– Oh, querida! É tão bom te ver dançar. – minha vó me abraça. – Você estava tão bem e parecia tão feliz enquanto dançava com suas amigas.
– Obrigada, vovó.
– Ela tem razão. Me fez lembrar minhas tardes no fliperama com sua mãe. – tio Lee diz, e minha mãe choraminga.
– Bons tempos. – ela responde com um bico exagerado.
– Mas então, o que estamos fazendo aqui? Cadê o bolo? – pergunto.
Meu pai abre um sorriso imenso, e então puxa alguma coisa de uma porta aberta.
Um carrinho com um bolo imenso de três andares surge, e minha boca cai na mesma hora.
– Você acha que dá pra todo mundo? – tio Brad brinca, e Amanda, sua esposa, ri.
– Talvez. – brinco, porque com um bolo desse tamanho, todo mundo poderia até levar pra casa e ainda sobraria.
– Vamos logo antes que mais alguém veja e estrague a surpresa. – meu avô diz.
Nós nos organizarmos, com meus pais na frente empurrando o carinho, e o resto da família atrás. Quando todas as velas estão acesas, tio Lee faz um gesto com a mão e a música diminui e então cessa. Logo estamos adentrando na multidão de novo, cantando Happy Birthday To You.
Como se fossem cuspidos, meus irmãos são empurrados para fora da multidão.
Dylan parece levemente envergonhado, mas quando vê a animação no rosto do irmão gêmeo, sorri.
Os dois se abraçam e esperam enquanto um bolo de três andares é arrastado até eles.
Todos nos acompanham na música, até finalmente ela chegar ao fim, e meus irmãos soprarem as velas.
E como num filme, todos os aniversários anteriores dos meus irmãos voltam à minha mente.
Meus irmãos com 3 anos nos braços dos meus pais com as bochechas coradas. Meus irmãos um pouco maiores, com as mãos gordinhas apoiadas sobre a mesa com um bolo de chocolate. Meus irmãos na troca de dente, sorrindo com uma grande janela na frente para um bolo confeitado. E finalmente, a fase onde as personalidades se mostraram completamente distintas, com Dylan emburrado com a cara coberta de bolo, enquanto Thomas ri com a mão cheia de glacê.
Minhas últimas lembranças são as dos anos mais recentes. E em todas elas os dois pareciam felizes. É como se ao ver o bolo, os dois voltassem a ser crianças novamente. E por mim tudo bem. Eles sempre vão ser meus irmãos mais novos. Não importa o quanto envelheçam, ou quantos centímetros mais eles passem de mim...Dylan e Thomas sempre vão ser meus meninos.
Quando me dou conta, meus olhos estão ardendo e já não tenho mais controle de mim mesma. Esqueço do bolo e simplesmente me lanço sobre os meus irmãos, que me abraçam no mesmo segundo.
– Eu amo vocês. – um soluço escapa da minha boca, e sinto uma mão acariciar meu cabelo.
– Nós também te amamos. – Dylan diz.
– Claro que sim. Você é nossa irmãzinha. – Thomas completa.
– Eu sou a mais velha. – lembro.
– Não muda o fato de que é a menor. – ele ri, e prendo um risada também.
Em poucos segundos sinto mais braços serem acrescentados ao nosso abraço, e quando ergo minha cabeça encontro meus pais, e mais atrás meus avós, meus tios, meus amigos... Toda a boate se juntou a nós, o que deixou nosso abraço ainda mais forte.
– Vou tirar minha carteira, cacete! – Thomas grita do nada.
A multidão ri e comemora, mas ainda assim, consigo ouvi-lo dizer:
– Desculpe pelo palavrão, mãe.
O que arranca uma risada de quem estava perto o suficiente para ouvir.
– Agora é hora da dança! – tio Lee grita, e no mesmo segundo o abraço imenso vai se desintegrando, até estarem todos pulando com a batida do DJ.
Meus pais, meus tios, e até meus avós parecem não se controlar com a música.
Minha mãe e o tio Lee dançam uma de suas coreografias da juventude, e a multidão comemora.
Abro um sorriso, e vou circulando minha família enquanto danço.
Esse aniversário definitivamente vai ficar marcado na minha memória.Oi gente❤️ Eu tinha falado que o próximo capítulo ia ser na versão do Thomas, mas a versão da Bonnie ficou muito grande e eu tive que dividir em duas. Por isso, o próximo capítulo dessa semana ainda vai ser na versão dela. Mas o primeiro capítulo da semana que vem vai ser na versão do nosso Flynn mais novo❤️
Se cuidem!🌼
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A barraca do beijo 2
Storie d'amoreHISTÓRIA SOBRE OS FILHOS DO NOAH E DA ELLE. Iniciada em : 30 de maio de 2020. Bonnie pode ser confundida com uma típica garota do colegial. É bonita, popular, e poderia facilmente conseguir qualquer cara que quisesse. Exceto, que o único cara que c...