Malditos comerciais de TV

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THOMAS

Vejo o novato entrar no refeitório com uma carranca, e então seguir em direção as salas.
Seja lá de onde ele vem, a coisa não parece ter sido boa.
- Ainda decidindo sobre o Ethan? – Jude pergunta.
Observo de relance quando ele leva uma fatia gordurosa de pizza à boca.
- Não sei. – admito. – Metade do tempo ele parece ser um cara legal, e na outra metade parece ser o culpado pela chateação da minha irmã.
- A Bonnie parece gostar dele. – meu primo me lembra.
- Eu sei. E é isso que me preocupa. Ter sentimentos por alguém comprometido é um saco. E eu sou um baita exemplo disso. – tiro os óculos da cabeça, e os coloco de volta ao rosto.
Jude me olha com pena, e então vasculha o refeitório com os olhos, como se estivesse procurando a razão do meu comentário.
- Ela não tá aqui.
- Não tava procurando a Bonnie.
- Eu sei. É da Ava mesmo que tô falando. As duas são inseparáveis. Se uma não está, então nem adianta procurar  a outra.
- Verdade. – ele ri.
Meu celular vibra sobre a mesa, e deixo meu refrigerante de lado para ver a mensagem.
“ Sala de música”
Um sorriso se forma no meu rosto, e Jude me observa com interesse.
- Coisa boa?
- E como. – respondo. – Vejo você depois. – e então já estou caminhando para fora do refeitório.

***


- Thomas.- Bonnie diz, assim que atende o celular. – O que foi?
- Cadê vocês? – pergunto, enquanto o estacionamento vai ficando deserto.
A aula acabou já tem mais de dez minutos, e até agora não tive nenhum sinal dos meus irmãos.
Dylan não atende o celular, e essa é a segunda vez que ligo para a Bonnie.
- Ensaio, maninho. Esqueceu?
Droga! Esqueci completamente.
- Não, eu só...achei que já tivesse acabado.- minto.
- Falta pouco. – ela garante, então afasta o celular da orelha e ordena algo pra alguém.
- Cadê o Dylan?
- Deve estar com a Ava. Eles estão ensaiando alguma coisa para o aniversário de vocês.
Sinto uma bola se formar na minha garganta.
Que maravilha.
- Ah, legal. – respondo.
- Também achei. Mas então, eu preciso ir. As meninas estão perdidas aqui.
- Ah, claro. Vai lá, capitã. – enfatizo, e ela ri.
- Até mais. – ela responde, e então desliga.
Encaro o celular na minha mão, decidindo se tento ligar mais uma vez para o Dylan, ou se simplesmente guardo no bolso e finjo que não sei sobre sua dança com a Ava.
Não que eu me importe por ele dançar com a namorada... tá, talvez só um pouquinho.
Mas não é porque é o nosso aniversário, e eu tenho ciúmes dele... é porque eu tenho ciúmes dela.
Solto um suspiro pesado, e tento controlar minha raiva.
Eu nem tenho direito pra tá assim. Ela é a namorada dele. Eu que sou o errado da história.
- Até mais, Thomas. – uma voz manhosa diz ao meu lado.
Penélope, meu encontro da sala de música, está passando por mim com um olhar sedutor. Suas longas pernas estão escondidas apenas por uma saia jeans desfiada, e seu decote parece não aguentar os seios fartos.
- Até. – respondo, meus olhos avaliando todo seu corpo.
Ela sorri com satisfação, exibindo dentes brancos perfeitos.
Ela caminha em direção ao seu carro, sendo seguida por mais duas amigas. Amigas que me lançam olhares furtivos enquanto ela não está olhando.
Observo enquanto ela entra no carro, e pouco tempo depois sai do estacionamento, me lembrando mais uma vez que fui abandonado.
Droga, eu devia ter pegado uma carona com ela. Seria bem mais divertido do que esperar meus irmãos.
Bem mais divertido mesmo!
Mas perdi minha chance, e agora preciso esperar.
Olho a hora mais uma vez, só para a impaciência reinar sobre tudo e eu por fim, me pegar caminhando sem rumo pela escola.
Passo pelos poucos alunos que ainda estão no prédio, e ando sem caminho certo.
Entro no refeitório, compro um hot dog, e então saio em direção ao campo de futebol.
Quando vejo a trilha que leva a sala de dança, percebo que no fundo, era exatamente pra esse lugar que eu queria vir.
Uma sala cheia de garotas com poucas roupas? É o sinônimo do paraíso.
Tirando, claro, o fato que minha irmã mais velha está lá.
Mas é até fácil fingir que ela não está lá, tendo tanta garota pra olhar.
Passo pela porta, e já posso ouvir a música ecoar pelo corredor.
Minha mente trabalha em imagens das meninas dançando, e meus pés aceleram com a necessidade de ver ao vivo.
Meninas, aí vou eu.
Mas quando paro do lado de fora da sala, não é o grupo da Bonnie que está lá.
É o Dylan e a Ava. E eles parecem tão concentrados um no outro, que é como se estivessem presos numa bolha.
Eles dançam em sincronia, enquanto observo escondido pela janela fechada.
Ava usa uma calça de moletom frouxa e um cropped branco, exibindo sua barriga lisa. Seu cabelo está preso num coque frouxo, mas alguns fios estão colados ao seu rosto com o suor.
Eu nem consigo notar o meu irmão atrás dela. É como se os meus olhos tivessem vontade própria.
Ela parece se divertir enquanto dança com ele. E quando ele quebra a coreografia e a cerca com os braços, ela parece mais do que feliz.
Sinto um gosto amargo brotar na minha garganta, enquanto observo o casal feliz rir.
É como um daqueles malditos comerciais de TV.
É como se não existisse problema no mundo. Existisse somente eles, e seu amor incondicional e blá blá blá.
E como se fosse um basta, como uma espécie de cartada final, Ava vira e planta um beijo no namorado.
Eu sinto que o hot dog quer voltar, enquanto observo a garota que eu amo beijar meu irmão.
A mesma garota que eu beijei...
Então de repente a culpa invade meu corpo, e um alarme soa na minha cabeça.
Eu não posso estar aqui, e eu não mereço o irmão que tenho.
Sou um fodido, simplesmente isso.
Saio depressa da sala, e volto pela mesma trilha em direção ao campo.
O vento frio do fim da tarde parece tentar me animar, ou de certa forma, me confortar, enquanto caminho pelas arquibancadas.
Pego o caminho mais longo em direção ao prédio, e quando entro no corredor em direção a quadra, escuto um coro animado. E lá está, o grupo que eu deveria ter encontrado mais cedo e ter poupado meu estômago e meu coração de ver aquela cena.
- Estamos acabando. – Bonnie avisa.
Sua testa brilha com o suor, e a barra da sua blusa está presa num nó.
- Sem pressa, maninha. – respondo com um sorriso.
Algumas meninas me lançam sorrisos nervosos, enquanto Gena e Faith reviram os olhos.
Caminho até o centro da quadra, e me apoio contra a parede, bem atrás da B.
Assim eu tenho uma vista privilegiada de todas as garotas.
- Mais uma vez. – Bonnie diz, e as meninas choramingam. – Querem ficar mais meia hora? – ela pergunta com autoridade, e as meninas se calam na mesma hora. – Isso é pelo grupo. Nós temos que ser perfeitas. – Bonnie diz, enquanto suas amigas confirmam com a cabeça.
Quando percebe que não terá mais reclamação, Bonnie aperta um botão e uma música inunda toda a quadra.
E como se estivessem 100% energizadas, o grupo dança com vontade e com uma sincronia perfeita.
Fico admirado com o quanto essas garotas têm força de vontade.
Eu mesmo fico um caco depois de uma hora de treino.
Mas aqui estão elas, sorrindo e dançando como se fosse a primeira vez que dançassem no dia.
Quando terminam, Bonnie desliga o som, e se volta para o grupo de meninas.
- Ótimo, garotas. Estão liberadas. – e é como se recebessem a liberdade depois de muitos anos presas.
Observo enquanto as garotas vão se dissipando, até ficar somente Bonnie, Gena e Faith.
- Gostou da formação? – Gena pergunta.
- Ficou boa, mas vamos praticar mais. – minha irmã responde.
- O que você achou, Thomas? – Faith pergunta.
- E ele tem opinião aqui desde quando? ,- Gena, a mais azeda e amarga, pergunta.
- Pelo visto, desde agora. – respondo com deboche. – Gostei da dança. Principalmente naquela parte que a Gena fica lá atrás, sabe? Bem escondida. – cutuco, e ela mostra a língua.
Bonnie apenas revira os olhos com um sorriso no rosto, e bebe um gole da água.
- Achou o Dylan? – ela pergunta, e sinto meu humor mudar drasticamente. – Não. -minto.
Prefiro guardar a humilhação pra mim mesmo.
- Vou tomar uma ducha. – ela avisa. – Manda uma mensagem pro Dylan, e diz que vamos esperar ele no estacionamento daqui 10 minutos. – ela ordena.
- Sim, senhora. – respondo, e então tiro o celular do bolso.
Digito a mensagem rapidamente, e quando ergo meu olhar, estou sozinho na quadra.
Que legal!
Guardo o celular no bolso, e sigo em direção a saída, me negando a voltar para a sala de dança e dar o recado pessoalmente.
Passo por alguns professores, que me olham com confusão, já que eu nunca fico até tão tarde na escola.
Eu não quero ficar nem nos horários obrigatórios, quanto mais eu tendo a opção de ir embora.
Mas como ainda não tenho carteira, eu dependo da Bonnie. Eu até poderia ter arranjado uma carona, mas não sabia que meus irmãos iam demorar tanto.
Desço os degraus principais, e caminho até um dos poucos carros do estacionamento.
Tiro o fone de ouvido da mochila e o conecto no celular. Uma música aleatória começa a tocar, e meus dedos batucam sobre o capô do carro.
Três músicas depois, vejo duas figuras descerem as escadas, e quando percebo quem são, solto um palavrão baixo.
Que por...caria.
- Nada da B? – Dylan pergunta, seu braço sobre o ombro da namorada.
- Tomando banho.
- Viu? Eu falei como dava tempo eu tomar um banho. – Ava reclama com ele.
- Você não precisa. – ele sorri, e ela se afasta quando ele tenta beijar seu pescoço.
Mais um comercial. Que lindo!
Tiro o celular do bolso e finjo estar concentrado demais numa mensagem para prestar atenção na demonstração de afeto.
Passo os próximos cinco minutos intercalando minha atenção entre música e um joguinho de números que baixei há muito tempo.
Só quando Ava grita “ finalmente”, é que desvio minha atenção para eles novamente e fico aliviado de ver minha irmã caminhar na nossa direção.
- Todos prontos? – ela pergunta.
Como resposta, eu pulo no banco da frente assim que ela destrava o carro, e aumento o volume da música no máximo.

VOLTEI❤️ E aguardo comentários 😌💃










A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora