DYLAN
Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi vir a aula. Achei que seria bom pra me distrair, mas agora vejo que só me deixa pior.
Tudo me faz lembrar o Thomas e a Ava, e o que não lembra, as pessoas fazem lembrar.
“ Thomas não veio hoje?”
“ Cadê a Ava?”
Cansei de responder essas perguntas. E o pior, é que cada vez que respondia, eu sentia meu humor morrendo cada vez mais.
Eu não queria pensar em nenhum dos dois. Porque sempre que pensava em um, imediatamente o outro vinha. E eu não queria pensar nos dois juntos.
A ideia me dava náuseas, e eu sentia que precisava socar a cara de alguém o quanto antes.
Por isso me isolei na sala. Geralmente quando chego na escola, eu gosto de conversar com meus amigos antes da aula, ou de ficar um tempo com a Ava.
Mas hoje, parecia que eu não conseguia ficar perto de uma pessoa por mais de 10 segundos.
Eu devia ter ouvido o conselho do Connor e ter ficado em casa. Ou melhor, na casa dele. A minha casa está fora de cogitação agora.
- Hey, Dylan. – um dos caras do time me cumprimenta do outro lado da sala.
- Hey.
- Thomas não veio hoje? – ele repete a mesma maldita pergunta que todos me fazem.
- Não sei. – respondo de forma curta.
Ele entende errado minha resposta, e pisca um olho.
- Já saquei. Dormiu na casa de alguma gata, não é? Aquele Thomas consegue todas. – ele ri.
Sinto dificuldade em engolir a bola que se formou na minha garganta.
“ Thomas consegue todas”
É, até a minha namorada.
- Ei, aquela não é a Ava? – Bill diz, e no mesmo segundo ergo minha cabeça a procura dela.
Ele aponta para a porta de entrada, e então encontro Ava me observando.
É a primeira vez que a vejo desde a nossa conversa, e assim como eu, ela não parece nada bem. Seus olhos parecem inchados, e seu cabelo está preso num coque no alto da cabeça.
Ava faz um aceno com a cabeça, indicando o corredor, mas meu corpo parece travado na cadeira.
É a primeira vez que hesito a um convite dela. Eu sempre atendo a Ava quando ela precisa, mas nesse momento não me sinto confortável pra conversar com ela.
Ela estava bêbada, eu sei. Mas isso não muda o fato de que ela beijou meu irmão. Quer dizer, é uma traição duas vezes pior.
É até compreensivo que eu esteja tão incerto de ter uma conversa agora.
Mas quando seus olhos ficam ainda mais tristes quando não atendo seu pedido, me sinto culpado. E quando percebo, já estou correndo para fora da sala.
- Oi. – ela diz.
Seus olhos se fixam em mim rapidamente, e então se desviam para qualquer outra coisa. O chão, os tênis, o quadro informativo na parede. Mas em mim? Nada!
- Oi.
- Eu preciso falar com você.
- Agora? – pergunto surpreso. O sinal já vai tocar, e Ava deve ser a pessoa que mais odeia chegar atrasada na aula.
- É.
- Mas o sinal já vai tocar.
- Eu sei, mas não consigo mais esperar. Preciso falar com você agora. – sua voz é tão baixa, que preciso me aproximar para ouvir o que diz.
Ela teme tanto que alguém escute nossa conversa, que está praticamente sussurrando.
- Tudo bem. O que você quer falar?
- Eu acho melhor a gente dar um tempo. – ela solta, sem dó nem piedade.
- O quê? – sei que parece idiota perguntar isso, mas não consigo pensar em mais nada.
Eu me sinto traído, claro. Mas não passou pela minha cabeça pedir um tempo. Eu a amo. Posso estar mal agora, mas só preciso pensar um pouco. É só isso que eu preciso: pensar. Nada de tempo.
- A gente precisa de um tempo, Dylan. – ela repete. Sua voz falha, e pela sua expressão sei que ela vai chorar se eu não fizer nada.
Dou mais um passo em sua direção, querendo cercar meus braços ao seu redor e dizer que tudo vai ficar bem, mas...ela se afasta como se eu estivesse pegando fogo.
Uau! Isso doeu.
- Não, por favor. Eu não consigo nem olhar pro seu rosto, imagina sentir seu toque. – ela soluça, e vejo uma lágrima cair.
- Ava. – chamo, minha mão estendida na sua direção. Mas ela fecha os olhos como se não quisesse ver.
- Me desculpa, Dylan. Você não merecia isso. – alguns alunos nos lançam olhares curiosos, e me aproximo da Ava o suficiente para esconder seu rosto.
Não quero que saiam falando dela.
- Ava, agora não é o melhor momento pra gente conversar sobre isso. Eu posso passar na sua casa depois da aula e ... – mas antes que possa terminar a minha fala, ela já está negando com a cabeça.
- Não. É melhor a gente se afastar. A culpa tá me consumindo, Dylan. – ela finalmente me olha, e sinto um aperto no coração ao encarar seus olhos vermelhos. – Eu não acredito que fiz isso com você.
- Você estava bêbada, Ava. – eu a lembro. – Não foi de propósito.
- Isso não muda o fato que eu te trai.
Dessa vez mais pessoas parecem interessadas na nossa conversa, e sinto a raiva voltar.
Tem gente querendo apanhar.
Encaro a multidão ao redor, tentando despistá-los para longe. Mas são como abutres, e parecem se aproximar ainda mais.
- Ava, você precisa ficar calma. – peço com a voz mais gentil que consigo no momento.
- Não, eu preciso de um tempo. Sinto muito, Dylan. – e então ela me abandona no corredor, e caminha sem olhar pra trás.
BONNIE
- Você fez o quê? – grito.
- Pedi um tempo ao Dylan. – Ava sussurra.
Estamos no intervalo entre as últimas aulas, e escondidas dos olhares curiosos. Mais especificamente, estamos debaixo das arquibancadas.
Não há ninguém por perto, o que é perfeito. Assim podemos conversar sem medo que alguém nos ouça.
- Ele falou pra você que queria?
- Não. Nós nem conversamos. A última vez foi ontem.
- Então por que você quer?
Ava curva a cabeça e solta um gemido.
- Eu me sinto tão culpada, Bonnie. Eu nem consegui dormir direito.
Ah, eu tô vendo.
Nunca vi a Ava tão mal.
Seus olhos estão inchados e seu cabelo parece não ter sido penteado hoje. Fora isso, sua roupa parece levemente amassada.
- Ava, você estava bêbada. – enfatizo. – E eles são gêmeos. Qualquer outra pessoa confundiria.
- Mas eu não. Eu namoro com o Dylan há um ano, Bonnie. Como posso não saber quem é ele e quem é o Thomas?
- Você sabe...quando está sóbria. – abro um sorriso amarelo, e ela bufa. - Você só pensou que fosse seu namorado.
- Isso não ajuda. – ela choraminga, e então se deita sobre a bolsa e passa o braço sobre os olhos.
- Você só precisa de calma. Tudo ainda é muito recente. Você tá de cabeça quente, precisa pensar mais.
- Não! Eu já pensei. Se eu não consigo nem olhar pro Dylan, imagina ele. Ele deve me odiar.
- Ele não odeia você. Isso é ridículo!
- Não é.
- Ava, você não acha que está se precipitando? Vocês precisam conversar.
- Agora eu não consigo. – ela chora.
Permito que Ava chore em silêncio no seu canto. Eu sei por experiência própria, que quanto mais você prende o choro ou evita pensar em algo, mais você sofre. Se quer chorar, chore. Se quer gritar, grite. Mas nunca se prenda. Isso só piora tudo.
Quando Ava parece mais calma, decido que é o momento perfeito para tirar uma enorme duvida.
- Ava?
- O quê? – ela pergunta sem me olhar.
- Quando você beijou o Thomas... é claro que achando que era o Dylan... você sentiu alguma coisa diferente?
Se ela beijou por beijar, achando cegamente que era o namorado, e não sentiu nada além do que sente pelo Dylan ... ótimo. Foi um erro, que vai ser relevado por ela estar bêbada. Mas ...se durante o beijo ela percebeu algo diferente, e mesmo assim continuou, é porque de alguma forma ela desejava que fosse o Thomas.
Bêbada ou não, no nível de embriaguez que ela estava, eu acredito que Ava seria capaz de diferenciar o beijo do namorado. Afinal, ela está...ou estava...com ele há um ano.
Você se acostuma ao beijo de uma pessoa, principalmente estando há tanto tempo. Você conhece os toques e os movimentos dos lábios. Até o cheiro e a pegada. Tudo isso você sabe.
Então eu quero que a Ava me diga que não sentiu nada de diferente, e que a semelhança dos meus irmãos ultrapassa a aparência. Mas senão, significa que ela sabia que tinha uma chance, por mais que pena, de ser o irmão errado, e mesmo assim continuou.
Ava parece virar uma estátua por dois segundos, até erguer a cabeça e me encarar.
- Não, é claro que não. – ela responde.
Mas percebo que nem ela parece acreditar no que diz. É como se ela estivesse tentando se convencer da própria resposta. O que acaba me deixando ainda mais preocupada.Eitaaaa! O que vocês acham?
OBS: OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
A barraca do beijo 2
RomantizmHISTÓRIA SOBRE OS FILHOS DO NOAH E DA ELLE. Iniciada em : 30 de maio de 2020. Bonnie pode ser confundida com uma típica garota do colegial. É bonita, popular, e poderia facilmente conseguir qualquer cara que quisesse. Exceto, que o único cara que c...