Finalmente

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BONNIE




- Você parece agitada. – minha  mãe observa durante o café da manhã.
- Quem, eu? – pergunto, porque confesso que estava com o pensamento em outro lugar, e não prestei atenção a nada do que foi dito durante o café .
- É. – ela ri. – Aconteceu alguma coisa?
Meu pai passa geleia na torrada com os olhos fixos em mim.
Droga. Ele sempre passou torrada com a faca? E por que tantas facas na mesa? Só estamos tomando café e não pretendendo cometer um crime.
Aí meu Deus! O que meu pai vai fazer quando o Ethan descer? Será que ele sabe de alguma coisa?
- Bonnie? – minha mãe chama novamente.
- Sim?
- Aconteceu alguma coisa? – ela pergunta novamente, dessa vez com atenção redobrada sobre mim.
- Não. – respondo com firmeza. – Só estou preocupada com o ensaio de hoje. – minto, mas minha mãe parece acreditar, já que me olha com pena.
- Eu sei que você se sente muito pressionada. Se precisar conversar, eu estou aqui.
Mesmo que seja uma mentira, não consigo esconder meu sorriso de gratidão.
- Eu sei, mãe.
- Bom dia, família. – Dylan cumprimenta, enquanto entra na cozinha.
Meu coração salta no peito ao ouvir sua voz. Porque se ele está acordado, quer dizer que o Ethan já deve estar também.
Espero que ele apareça na cozinha; mas quando Dylan senta conosco à mesa, sem nenhum sinal do Ethan, presumo que ele esteja no quarto.
- Esperando alguém? – meu irmão sussurra no meu ouvido.
- Não. – respondo com um dar de ombros.
Mas ele não parece acreditar, já que semicerra os olhos e me lança um sorriso de lado.
- Não tô. – repito, tomando muito cuidado para não chamar atenção dos meus pais.
Mexo meu suco lentamente, usando isso como desculpa para focar minha atenção. Enquanto isso, ao meu lado, Dylan corta sua panqueca tranquilamente, como se tudo estivesse no mais perfeito estado.
- Bom dia! – meu pai diz, e meus olhos voam na direção da escada.
Mas ao invés de encontrar o Ethan, encontro o Thomas descendo com uma carranca.
Seu cabelo está mais bagunçado que o normal, e os óculos escuros escondem os olhos inchados e vermelhos pela falta de sono e excesso de bebida.
- Preciso de café. – é a primeira coisa que ele diz.
Ele marcha como um zumbi em direção a cafeteira, e quando bebe o primeiro gole do líquido quente, solta um gemido.
- Está do seu agrado, senhor? – meu pai debocha.
- Ótimo. – Thomas geme, e bebe mais um pouco. – Talvez se tivesse um pouco mais de açúcar...  – ele diz, e meu pai revira os olhos.
Observo enquanto meu irmão senta na cadeira vaga, e segura a xícara de café como se fosse a coisa mais importante do mundo.
- Parece que a noite foi boa ontem. – minha mãe diz.
Suas mãos podem estar ocupadas cortando a panqueca, mas seus olhos estão fixos nos filhos. Ou mais especificamente, no filho mais novo.
- Foi legal. – Thomas diz, seus olhos fixos na xícara.
- Só isso? – suas mãos param e ela o encara.
- É. – ele dá de ombros.
Ele finge tão bem, que se eu não soubesse da verdade, estaria agora mesmo convencida que ele passou a noite jogando e falando de mulher.
Mas mãe é mãe, não é?! E não importa o quanto ele finja está tudo bem, minha mãe ainda o analisa como se fosse um criminoso na frente de um juiz.
- Precisamos ir. – Dylan diz, despertando a minha atenção, e meu coração.
Droga! Cadê o Ethan?
- Agora? – deixo escapar.
- Tá na nossa hora. – ele tira o celular do bolso e exibe a tela acesa.
Merda. Ele tem razão.
Mas se formos agora, com quem o Ethan vai?
- Acho que esqueci uma coisa lá em cima. – digo, já me levantando da mesa.
- Eu acho que não. – Dylan diz, e enrugo a testa.
- Esqueci sim. – enfatizo, para que ele possa entender do que estou falando.
- Eu resolvi isso pra você mais cedo. – ele diz, e não consigo disfarçar a confusão.
Resolveu o que?
- Do que vocês tão falando? – Thomas resmunga.
Mas é o tipo de pergunta que se faz, quando não tem a mínima vontade de entender. Ele só quer fazer parte da conversa, mas no fundo não quer saber do que se trata.
- Nada. – respondemos juntos.
- Anda. Nós precisamos ir. – puxo sua mão para que  levante, e ele pragueja.
- Meu café.
- Anda logo. – repito. – Até mais tarde. – digo para os meus pais, que estão ocupados demais um no outro para notar nossa inquietação.
Quando falo mais uma vez, já estamos na segurança do nosso carro.
- Cadê ele, Dylan?
- Ele precisou sair mais cedo. – é tudo o que ele diz, enquanto olha pela janela do carona.
- Pra onde?
- Ele tem uma casa, B. – meu irmão brinca.
- Ele quem? De quem vocês estão falando?  - Thomas resmunga do banco de trás como uma criança.
- Eu sei que tem. Mas porquê ele não avisou nada? – ignoro meu irmão mais novo, e desvio meus olhos da avenida para encarar meu outro irmão.
- Ele avisou. – Dylan garante. – Ou será que o problema é para quem ele NÃO avisou?
Finjo que esse comentário não me afetou, e acelero.
Quando desvio de um carro, Thomas pragueja.
- Cacete. Cuidado aí, B. Vai me fazer derramar o café.
- Café? – Dylan e e eu perguntamos juntos.
Olho pelo espelho retrovisor, mas só consigo ver o Thomas ajeitando algo sobre o colo. Olho para trás, e encontro uma xícara de café em uma das suas mãos.
- O que você pensa que está fazendo, Thomas?
- Tomando meu café. Vocês não me deixaram fazer isso em casa.
- Ninguém mandou você levantar tarde. – Dylan devolve.
Ao invés de prestar atenção no que ocorre dentro do carro, sou levada pra longe dali. Meus pensamentos me guiam diretamente ao Ethan.
Por que ele teve que ir embora tão cedo?
Será que aconteceu alguma coisa, ou ele simplesmente não queria que meus pais soubessem que ele dormiu lá em casa?
Será que ele se arrependeu das coisas que me disse, e resolveu fugir de manhã cedo pra não me encarar?
O nervosismo é tanto, que sinto uma gota de suor imaginária descer pela minha testa.
Se ele tivesse se arrependido, ele me diria, não é?
- O quê? – Dylan pergunta confuso, e desvio minha atenção para ele.
- O quê?
- Você disse alguma coisa sobre arrependimento.
Droga.
- Não disse, não.  – respondo depressa.
Dylan não me responde, apenas me encara com confusão estampada no rosto.
- Bom, foi estranho estar com vocês, mas a gente se vê depois. – Thomas se despede, antes mesmo que eu possa estacionar o carro devidamente.
Ele pula do carro assim que este para, e caminha com a xícara na mão como se fosse a coisa mais normal do mundo alguém levar uma xícara pra escola.
- Se precisar de mim, é só ligar. – Dylan diz, e quando faço um aceno com a cabeça, ele sai do carro.
Fico mais alguns segundos no carro, esperando minha paranoia ir embora.
Quando sinto que estou no controle dos meus pensamentos novamente, encaro meu reflexo no retrovisor, só para ter certeza que está tudo em ordem.
Não há um fio de cabelo fora do lugar, e meu rímel não está borrado.
Inspiro fundo uma última vez, e então pego minha bolsa e saio do carro.
Como sempre, o estacionamento está lotado. Algumas pessoas me cumprimentam com um sorriso enquanto passo por elas, e faço o meu melhor para esconder minha inquietação.
Até saber o que realmente aconteceu para o Ethan sair mais cedo, eu não preciso me preocupar. Até porque, em alguns momentos, meus pensamentos são meus piores inimigos.
Subo os degraus principais, e passo pela larga porta de entrada.
O corredor parece estranhamente longo e quente quando entro. É como se...por estar com meus pensamentos a beira do descontrole, tudo o que um dia me pareceu normal e confortável, agora me atormenta ainda mais.
Engulo em seco o desconforto, e ignoro o incômodo.
Tudo isso é coisa da minha cabeça. Não está realmente acontecendo.
Coloco um pé na frente do outro, e avanço pelo corredor movimentado.
Todo mundo parece tão agitado, que por um curto segundo me pergunto se aconteceu alguma coisa e eu não estou sabendo.
- Hey. – uma voz grita atrás de mim me causando arrepios, e meu corpo reage no mesmo segundo ao parar.
Lentamente viro na direção da voz, e com um pulsar frenético do meu coração, encaro Ethan Jones caminhando na mesma lentidão do dia em que nos conhecemos.
Ele parece feliz e leve, e automaticamente sinto meu corpo relaxar um pouco ao ver que está tudo bem.
Viu, Bonnie? Era tudo coisa da sua cabeça.
- Hey. – respondo.
Ele abre um sorriso de lado, e apressa o passo até parar à poucos metros de mim.
Nenhum de nós diz nada, apenas encara um ao outro.
Aproveito esse momento de proximidade para olhar melhor seu rosto.
Não há nenhum resquício de medo ou preocupação. Ethan parece mais solto, enquanto seus olhos brilham com algo não dito.
- Aconteceu alguma coisa? – deixo escapar.
Seus olhos caem para a minha boca enquanto falo, e tenho dificuldade em terminar a pergunta.
Quem diria que falar três palavras exigiria tanto de mim.
- Aconteceu. – Ethan responde.
- Foi por isso que saiu sem avisar? – pergunto, e sua testa se enruga rapidamente, como se ele não lembrasse desse detalhe.
- Eu saí mais cedo pra conversar com a minha mãe e trocar de roupa antes de vir pra aula. Eu ainda precisava pegar minha mochila. – ele responde, e eu me sinto uma idiota.
Viu? Era só isso, B.
- Não avisei porque você ainda estava dormindo. O Dylan me ajudou a sair sem que ninguém me visse.
Faço um aceno com a cabeça.
- Poderia ter me mandando uma mensagem.
Quando digo isso, ele abre um sorriso digno de uma revista.
- Desculpa. Vou lembrar disso na próxima.
Na próxima? Na próxima o quê? Ele já está planejando dormir na minha casa de novo?
Antes que eu faça qualquer uma dessas perguntas, Ethan diz:
- A Susan respondeu.
E é como se as palavras se embolassem na minha cabeça e eu não conseguisse colocá-las em ordem.
Abro a boca para dizer alguma coisa, mas nada sai dela. Eu repito esse gesto mais duas vezes, até finalmente perguntar :
- E então?
Ethan se aproxima de mim, ficando tão perto, que posso sentir seu perfume e o cheiro do seu shampoo.
- E então que agora eu estou completamente disponível pra você.
Nunca palavras soaram mais bonitas do que essas.
Disponível! PRA MIM!
Ele não só está disponível...como está disponível pra mim.
Finalmente!



VOLTEI!! Peço desculpas pela demora em postar essa semana, mas meu cachorro adoeceu na segunda e eu tô cuidando dele desde então. 💔
Amanhã eu posto o último capítulo da semana🌼💃

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora